Nessa época, mais do que nunca, sentimos o desejo incontrolável de libertar a criança e a bola que existem em cada um de nós.
Portanto, aqui fica o meu conselho: comprem muitas bolas verdes e amarelas e as espalhem pelo pátio na hora do recreio da escola de seus filhos e, se possível, aumentem o tempo do intervalo do prazer recreativo, que transgride a ordem, pois é tempo de COPA. Escola rima com bola. E se os mestres ranzinzas continuarem com medo das boladas, encharquem-nos com os versos redondos do saudoso poeta esportivo Armando Nogueira. Prosas, versos e crônicas nunca rimaram com bolas em armários. Tirem-nas das prisões e soltem aos montões, pois é tempo de COPA.
É tempo de eleger a bola como centro de toda teoria pedagógica, como fez Froebel (1897) fascinado pelo poder mágico e perfeito de sua forma, que em movimentos divinos, atrai corpos musculosos em movimentos indescritivelmente belos. Nada mais divinamente terreno, que acompanhar o rolar, o vôo, o pulo rítmico e sinfônico dessa poderosa esfera arquetípica que está enraizada no mais profundo do nosso ser, e se liberta à cada quatro anos para reinar com os deuses de cada país do futebol.
Não se esqueçam que os jogos de bola eram praticados na França, em festividades da Igreja, desde o século V, e, na Inglaterra, após o século XII, no período carnavalesco, em batizados e casamentos. Jogar é um exercício de puro amor, porque jogar é sempre jogar com alguém. Entre as muitas modalidades de jogo de bola, o futebol é o mais apreciado pelos deuses, pelo seu sentido mítico-religioso que corresponde à necessidade coletiva da recreação. O futebol como a sinfonia impar do reino encantado da bola, transmite esse dinamismo celestial que une raças e povos, os mais diversos, num tapete impecavelmente fofo e verde ─ cor da esperança que amima os corações dos moços, velhos e crianças.
A pelota na Idade Média estava relacionada com o jogo rude da péla (jeu de paume) praticado na França, com duas variantes: péla comprida e curta; a comprida, de origem rural, com raízes no culto solar, era jogada ao ar livre. A bola era golpeada à mão nua, depois com raquete. A péla curta jogava-se em espaços cobertos.
Na mitologia antiga a bola aparecia como símbolo do poder dos deuses e controle sobre o homem, e nos contos como meio de aproximar amantes. Já nos tempos modernos, a forma de mover (subida e queda da bola) são símbolos da existência humana.
O espírito desse divino esporte já reinava desde os antigos gregos e em muitas culturas tribais. Contemplar os deuses brincando de bola constrói a visão de que o brincar faz parte da vida divina, assim como, os embates em que se envolvem. O espírito do brincar e brigar com a bola além de encher os olhos enfatiza, também, as dualidades de afetos ou sentimentos que permeiam nossa alma, como o conflito e a paz, a ordem e a desordem, a racionalidade e a irracionalidade, a espontaneidade e o controle.
Ah, os deuses! Só eles poderiam aperfeiçoar e tornar o futebol a arte que mais encanta entre as demais artes. Foram eles que trouxeram a arte divinal do futebol que hoje une os povos, promove a auto-estima, a inclusão social, e ainda mais, o seu campo de jogo também é o do combate ao racismo. É no retângulo verde de um estádio multicor, que a cada quatro anos, brancos, negros, índios, e diferentes povos de várias tonalidades religiosas se juntam para uma disputa que é mais uma festa da multiculturalidade em torno de uma deusa, denominada BOLA.
Seja bem-vinda a deusa da PELOTA aos gramados verdes da África do Sul, para nos proporcionar um retorno ao “reino encantado da criança e da bola”, de que um dia fomos protagonistas.
Por Levi B. Santos
Guarabira, 02 de junho de 2010
16 comentários:
LEVI
Futebol é também uma fascinante arte capaz – como bem você mesmo disse no seu texto – de unir povos rivais, credos e raças diferentes.
Me lembro bem que peguei um pouco daquele tempo chato de igreja, que as mesmas proibiam de jogar futebol.
Ah meu deus! Como fui ingênuo de acreditar que era pecado jogar bola e que desagradava a deus!
Perdi quase toda minha infância e adolescência na igreja, com o legalismo exacerbado e extremado.
Inclusive também sou daquela fase que era pecado até vê televisão, o que significa que perdi muitos bons e inesquecíveis jogos!
Só não perdi a copa, porque resolvi me rebelar contra as ordens da igreja e “pecar” contra deus.
Talvez o DUZINHO esteja certo mesmo, talvez eu precise de um psicólogo ou psicanalista, pois tenho trauma e odeia a religião e sua religiosidade!!! Rsrsrsrsrsrs
Agora o que me resta é aproveita e me esbaldar sem dor na consciência e medo de possíveis castigos divinos, todas as copas que vierem daqui para frente!
Viva a copa! Viva a liberdade! Viva a consciência! Viva o futebol! E que seja destruída toda e qualquer religião do mundo!!!! Rsrsrsrsrs
Levi, Levi, desnudaste por completo tua alma futebolística neste profundo ensaio! Feliz é o clube de futebol que tem um torcedor como tu! Falando nisso, qual é ele? A seleção não vale, ninguém escolhe torcer por ela.
Realmente, o futebol - e outros esportes - tem esse poder de unir as pessoas. Basta ver a história dos jogos olímpicos, onde inimigos em campo de combate passam a travar embates apenas figurados.
Um abraço.
Marcio
No meu tempo, as famosas peladas de meio da rua eram rotuladas como "coisa do cão dos infernos", mas, eu três vezes por semana não resistia ao intenso desejo de jogar bola, mesmo sabendo que depois, não escaparia de levar uma boa surra dos meus pais. (rsrs)
Mas estou com você: "Viva a COPA. Abaixo a religião"
Abçs,
Levi B.Santos
"Feliz é o clube de futebol que tem um torcedor como tu!"
Falaste como o sobrenatural do Almeida (personagem mítológica do grande e saudoso tricolor Nelson Rodrigues)
Sou tricolor como você, meu caro Isaias. Vocé em São Paulo e eu no Rio de Janeiro.
Para saber se sou ou não fanático por futebol, acesse esse link:
http://levibronze.blogspot.com/2008/06/o-fluzo-e-o-sobrenatural-do-almeida.html
Abraços tricolores
P.S.:o meu tricolor está em segundo no brasileirão - acabou de vencer o Vitória, agora mesmo no Maraca)
Meu amigo Mestre LEVI,
Que magnífico ensaio..
Eu confesso que futebol, bola, basquete, vôlei, queimada...etc e tal foram especialidades que formaram minha infância...
Lembro-me que quando chegava o fim de semana, logo tratava de chamar toda aquela mulecada da minha rua, e eu com o cabelo todo armado, bagunçado....passava praticamente o dia todo na rua, jogando bola..
Só não suportava assistir futebol em tv, mas quando meu timão da gaviões ganhava, confesso que aprontava aquela gritariaaa na rua...kkkkkkkkkkk
E é assim, esportes, bola, ou qualquer tipo de coisas que sejam símbolos para DIVERSÃO/DISTRAÇÃO/EMOÇÃO/TORCIDA......faz toda a diferença nas nossas vidas, pois viemos para VIVER emoções e não VER emoções!!
Abraços querido.
Desculpe-me pela ausência....mas é são "tantas emoções"!! como diz nosso Rei Roberto Carlos....kkkkkkkkkk
Levi, eu sabia que estava parodiando alguém, só não sabia exatamente quem. Depois é que lembrei de ter ouvido o Juca comentar algo sobre ele na ESPN Brasil.
Eu também não sei se existe uma explicação psicanalítica pra isso, mas eu só torço por times tricolores! Tanto que simpatizo pelo Flu no rio, pelo Grêmio (só um pouquinho, pois sou catarinense, e catarinense que se preza finge que odeia gaúchos) e não consigo torcer por nenhum time daqui de Floripa, nem pelo Avaí nem pelo Figueirense (apesar de ter "gay" no nome, hehe), pois ambos são predominantemente bicolores (azul e branco e preto e granco, respectivamente). Freud explica? Ou complica? haaaa
Já vou ler teu outro texto. abraço.
Levi, essa tua crônica futebolística é digna dos grandes crônistas esportivos, como o Armando Nogueira.
Você informa e diverte ao mesmo tempo, provocando em que lê umas sensações dualistas rssssss
Por exemplo: gostei da parte cultural da história desse círculo cheio de significados na história dos mitos, e senti aflorando a emoção que também sinto em época de copa do mundo.
Da mesma forma, traz-me também à lembrança meus tempos de adolescente engaiolado onde os olhos controladores da minha santa mãe estavam sobre mim para reprimir qualquer tentativa minha de jogar uma "pelada"...
Eu fui bem doutrinado nos costumes do evangelho pentencostal assembleiano dos anos finais da década de 70, mas se tinha um pecado que eu sempre cometia era o de ir jogar bola na rua com os amigos até minha mãe me chamar e me dá aquele sermão..."você é crente, Eduardo, você não pode se misturar com esses meninos do mundo..."
Mas não tinha jeito. Até o dia em que ela cansou de brigar comigo e me entregou nas mãos de Deus hahahahahaha
ÊÊÊÊÊÔÔÔOOOOOO BRASILLLLLLLLLL
Grande Levi,
Quem não gosta de futebol que atire a primeira bola, rsrs.
Apesar de ser rubro-negro, aprendo em meu lar a viver com as diferenças de opinião daqueles que deveriam ser "submissos" à minha autoridade patriarcal.
Meu filho mais velho é tricolor, e eu, tive que servir de escória quando o Flu bateu o Fla recentemente.
Também vibrei com ele contra o Atlético Mineiro no Mineirão conforme ele vibra comigo quando não é contra o Flu que o Fla está jogando, rsrs.
Recentemente escrevi um texto futeboreligioso, rsrs.
Gostaria de uma palavra sua sobre ele, rsrs.
http://evaldocristao.blogspot.com/2010/04/encontro-religioso.html
Abraços,
Evaldo Wolkers.
Levi meu mestre Bronzeado, analisei o seu poema e confesso que me deu até uma certa inveja...pois você conseguiu de forma lúdica...me fazer apreciar um texto que fala exatamente do assunto que mais me deprime. Vou explicar:
Sei que estamos em época de Copa...também sei que o Brasil (o brasileiro pra ser mais exato| necessita deste subterfugio chamado copa do mundo, para esquecer-se um pouco dos problemas.
Levi...estou apenas sendo sincero...espero não estar ofendendo a todos aqueles que gostam do futebol, mas eu particularmente não gosto. Muito embora tenha ficado de queixo caído com seus versos neste texto sobre a "bola".
Quem sabe um dia eu não mude né?
Abraços meu amigo!
Paulinha
Seu passado de criança foi igualzinho ao meu: após a volta da escola reuníamos eu e mais uns oito guris para jogar bola no chão de barro batido de minha rua (o chamado barra à barra, com dois tijolos representado a trave).
Não raros saíamos com os dedos dos pés esfolados e sangrando, mas a alegria estampada no rosto fazia com que esquecéssemos as dores.
Ah tempo bom que não volta mais!
Hoje, compensamos a nostalgia daquele tempo, torcendo pelos nossos clubes de futebol.
Sou tricolor de coração
Sou do clube tantas vezes campeão
Fascina pela sua disciplina
O Fluminense me domina
Eu tenho amor ao tricolor...
Isaias
Coincidentemente, também não torço por nenhum time aqui da Paraíba.
Tenho três filhos: dois são tricolores e um é vascaíno.
No ano passado torcemos como nunca pelo não rebaixamento do Flu. Para mim, a luta do Fluzão para não ficar na segunda divisão foi muito mais emocionante que a disputa pelo título de campeão brasileiro, que ficou com o nosso maior rival - o Flamengo.
Caro Eduardo
Esse teu emocionante comentário, me fez lembrar de uma prosa em versos que fiz há anos, e que remete a esse esporte idílico de minha saudosa infância:
O Tabajaras em casa
Não perdia uma vezinha,
Mesmo ele jogando ruim
O juiz dava uma mãosinha.
Os jogadores d’outro time,
Gritavam: juiz ladrão
Para nós na passeata
Em cima de um caminhão.
Passando por minha casa
Em caminho obrigatório,
Mamãe se desesperava
Gritando um palavrório.
Sai de cima desse carro
Uma surra tu vai ter.
E eu pulando pelas grades
Ía então me esconder.
Dizia então minha mãe
Numa tristeza medonha:
Tu és crente, vagabundo,
Tá me fazendo vergonha.
(kkkkkkkkk)
Vivi na minha casa a agonia de ver meus irmãos esgueirando-se com suas meias para fabricarem sua pequena bola, porque como era "pecado" jogar bola, eles tinham que pecar em dobro se quizessem viver as alegrias das peladas de rua.
Me alegro em não haver deixado que o medo do "castigo divino" me impe disse de pular o muro do colégio aonde estudava para ver meus ídolos jogarem no campo de futebol e ainda haver sido entrevistada pela rádio heheheheh
Muitos "pecados" cometi e me sinto feliz por essas transgressões.
Queria mesmo era asistir ao vivo.
Pra frente Brasil, salve a seleção!!!
Taí, prezada Guiomar o seu emocionante comentário deu origem a uma paródia com esse famoso samba do Caymmi
Samba da Minha Terra
(Dorival Caymmi)
Samba da minha terra deixa a gente mole
quando se canta todo mundo bole, quando se canta todo mundo bole
Quem não gosta de samba bom sujeito não é
É ruim da cabeça ou doente do pé
Eu nasci com o samba no samba me criei
e do danado do samba nunca me separei
A PARÓDIA FICA ASSIM:
Jogar bola na minha terra deixe a gente mole
Quando se joga todo mundo bole
Quando se brinca todo mundo bole
Quem não gosta de bola, bom sujeito não é
É ruim da cabeça, ou doente do pé.
Eu nasci com a bola, na rua eu me criei
E da danada da bola nunca me separei.
LEVI, por acaso eu já tinha lido esse teus belos versos fuçando aqui o teu blog rssss
Levi, me permita:
ô Edson: "subterfúgio para esquecer os problemas"?
Pega leve, meu amigo, relaxa...
Obrigada Levi, já estou sambando a sua paródia. kkkkkkkk Abraço.
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