Por Levi B. Santos
Foi bem no final de sua “via crucis”, que Ele tomou conhecimento do fim trágico de Judas. Alguém, ali perto, sussurrou aos seus ouvidos o que tinha acontecido ao seu desafortunado amigo.
Apesar de cansado, ofegante e banhado em sangue, Ele chorava não só por suas dores. Dos seus recônditos afetivos fluia, também, um choro pelo seu maior amigo que fraquejara, quando por força das circunstâncias, foi forçado a delatá-Lo. Tinha recebido trintas moedas de prata, e isso, era o mínimo, diante da coragem que ele demonstrou depois, ao jogá-las de volta na cara daqueles que tentaram corrompê-lo.
O Mestre estava arrasado com o sofrimento que levara o seu melhor amigo a tomar aquela atitude extrema, de se jogar de cima de um penhasco: Duas lágrimas rolaram dos seus olhos quando Ele balbuciou: “Coitado, o seu pecado não foi maior do que o de Pedro ─ aquele que por três vezes me negou diante das autoridades”.
Continuou a sua caminhada cambaleante carregando a pesada cruz. Parecia inacreditável , mas, aqueles dois toros de madeira que levava sobre os ombros, não pesavam tanto quanto o sentimento profundo que dilacerava seu peito pela perda do amigo de infância.
De passos trêmulos, tombando aqui e ali, já sem forças e com a vista a escurecer, Ele via pelos olhos da alma, exércitos de anjos saindo de um céu aberto, avançando ao seu encontro. Naquela imensa agonia, por um instante, se viu junto ao seu amigo Judas. Viu-se criança de novo. Lembrou-se de que, carinhosamente, o chamava de “Juju”, e, também, das estripulias e escaramuças que faziam juntos pelas ruelas e sítios de Nazaré, cavando poços, fazendo moleques e jarros de barro, à sombra das parreiras e oliveiras.
Que grande coincidência! Pois não é que Judas, minutos antes, tivera o seu coração tomado pelos mesmos sentimentos do seu amigo do peito. Sentira-se invadido pelas mesmas lembranças da infância, quando fazia juras eternas, prometendo ao querido amigo, que nunca O abandonaria.
No cimo da colina a ventania fria da tarde açoitava o corpo de Judas. Sua cabeça estava tomada por um vendaval de pensamentos, que traduzidos, diziam, que não haveria mais razão para ele continuar existindo, sem a companhia de seu grande amigo. O remorso advindo da gravidade do ato que cometera era tão intenso, que ele jamais poderia imaginar que Cristo o perdoaria. Dizia então no seu íntimo: “Viver sem Ele ao meu lado, é melhor morrer!” .
Deteve-se meditando por alguns instantes, para em seguida jogar-se despenhadeiro abaixo. Por alguns segundos teve a impressão de ver cavaleiros reluzentes de prata, com uma grande rede lá embaixo apara ampará-lo na queda. Quis falar, mas não conseguiu, pois uma onda extremamente gelada partindo dos pés à cabeça, parecia querer anestesiá-lo. No último instante, com a cabeça a pender sobre um galho de bambu, lembrou-se onde estava, o que era, e porque sentia dor. Ouviu uma voz que dizia: “Não! Não és um covarde, nem desertor, nem tampouco traidor!”.
Não muito longe dali, estava seu amigo pendurado na Cruz em estado de desidratação. Ao lado Dele estava também crucificado o ladrão chamado Dimas que, em seus últimos momentos, lhe fez essa súplica: “Lembra-Te de mim quando entrares no Teu Reino”. Na imaginação, o que Cristo via não era a imagem de Dimas, mas sim, a do amigo Judas, ali bem ao seu lado, pedindo-Lhe socorro.
Com a mente confusa por um pré-coma que se aproximava, ainda teve forças para balbuciar algumas palavras em direção à figura imaginária do amigo e confidente:
─ Judas, meu irmão e amigo ─ disse Cristo, bem baixinho, começando a tremer por inteiro ─ Porque fizeste isto? Partiste, sem ao menos saber que eu antes já tinha pedido ao meu Pai que te perdoasse.
Fazendo um esforço sobre-humano, já sucumbindo, com sua voz trêmula na direção de Dimas (ou Judas), assim balbuciou: “Hoje mesmo estarás comigo no PARAÍSO”.
Dizem, que os dois amigos foram solidários até no momento da partida. “O que está feito, está feito!” ─ foi o último brado que saiu de suas gargantas.
P.S.: Com o passar dos anos, em nossa cultura, Judas ficou conhecido como a encarnação do diabo. Cristo, o chamava de amigo e sabia que mais cedo ou mais tarde a elite político/religiosa, hipócrita e corrupta que, incessantemente O perseguia, iria lhe impor a pena máxima de morte de cruz. É triste constatar que a morte Daquele que pregou o perdão de forma ilimitada, seja projetada maldosamente sobre um dos seus discípulos, como mostra o hediondo ato simbólico de vingança (malhação de Judas) que ainda hoje perdura nos sábados de Aleluia.
DIGA NÃO À MALHAÇÃO DE JUDAS.
[Ensaio-ficção publicado na páscoa de 2010]
14 comentários:
Amigo Levi,
Hoje mesmo, quando estava escrevendo o texto sobre Tiradentes no meu blogue pessoal, pensei nas figuras de Judas e do traidor da Inconfidência Mineira - o coronel Joaquim Silvério dos Reis.
Como brasileiro eu não me identifico apenas com o herói Tiradentes, mas também com o traidor da pátria que se vendeu um pouco mais caro do que Judas: o perdão de suas dívidas, trinta moedas de ouro e outros benefícios mais.
Assim, sei que há em mim um Joaquim Silvério dos Reis e um Judas Iscariotes. Por ser um sujeito ambiguo como todo homem, oscilo entre o inovacionismo e a conservação. Quero me libertar, mas ao mesmo tempo temo quebrar os grilhões. Confesso minha fé, mas por diversas vezes eu a nego, ainda que com atitudes contraditórias que tornam mentirosas minhas confissões de seguidor de Jesus.
É interessante como Jesus chama Judas de amigo no momento de sua prisão, sabendo ser ele o traidor. Porém, Jesus foi misericordioso com o discípulo o tempo todo e o amou.
Infelizmente, a malhação de Judas foi o que houve de mais perverso na cultura da Páscoa cristã. Um ato que também ficou impregnado de anti-semitismo visto que o nome Judas nada mais é do que o do patriarca Judá, tribo israelita da qual descendem os judeus e também o Messias. Porém, se resolvo malhar o Judas, percebo que estou condenando a mim mesmo porque aquele boneco que penduram geralmente numa árvore representa todos nós. Então se bato no Judas, nego a existência do meu lado fraco e sensível às tentações.
Na história da Igreja, muitos foram aqueles que negaram a fé, assim como nos movimentos sociais pessoas traíram suas próprias convicções. Uns cometeram suicídio físico como Judas, outros um suicidaram a alma como o cel. Joaquim Silvério dos Reis que, tempos depois de trair a Inconfidência, foi recebido por D. João quando este ainda encontrava-se em Portugal, de modo que deve ter se atormentado em vida pelos seus verdugos mentais.
Ai de quem trai sua própria humanidade! Foi o que fez Judas destruindo a própria vida e também os que resolvem malhar os bonecos do apóstolo traidor no sábado.
Rodrigo
Provavelmente o remorso – essa sensação de fracasso e da impossibilidade de reparar o erro cometido levou Judas a tirar a sua vida, que para ele não tinha mais sentido, ante o reconhecimento da gravidade do que fizera: “trocar o amigo por dinheiro”.
Mas, infelizmente, esse tem sido o lema do evangelho da prosperidade atual que explora as massas: vender o produto Cristo sem o tal do remorso.
Judas pelo menos teve esse sentimento, partindo para o suicídio.
Mas Cristo, uma vez, aconselhou o suicídio para esses mercadores da fé (que são maioria no meio evangélico):
“...melhor seria que pendurassem ao pescoço uma grande pedra de moinho e se precipitassem nas profundezas do mar”. (Mateus 18:6)
Mas você, meu caro Rodrigo, não acha que os mercadores da fé da atualidade que estão fazendo de Cristo um meio de enriquecer de forma ilícita, sem demonstrar nenhum remorso, não estão numa situação pior que a de Judas?
"Mas você, meu caro Rodrigo, não acha que os mercadores da fé da atualidade que estão fazendo de Cristo um meio de enriquecer de forma ilícita, sem demonstrar nenhum remorso, não estão numa situação pior que a de Judas?"
Perguntinha complicada de responder, Levi.
Eu bem que poderia concordar de imediato com o irmão, mas quero pensar na extensão da graça divina que alcança o mais vil de todos os pecadores, inclusive os mercadores da fé, dentre os quais incluem os que iludem o povo com promessas de prosperidade ou não.
Compreendo a crítica que faz às distorsões que hoje muitos têm feito com a mensagem do Evangelho e, neste sentido, concordo que é um tipo de traição assim como inúmeras outras. Pois, se adoto um comportamento religioso e esqueço de acolher meus familiares, uma das epístolas considera isto como negar a fé também.
De qualquer modo, vejo a graça divina como o remédio para as condutas humanas. Penso, por exemplo, que um pastor da IURD pode agir como um mero empregado da sua instituição e nem teria plena consciência do que faz, apesar de saber pedir ofertas, manipular a opinião das pessoas para votarem nos candidatos do Edir Macedo e desaculturar os povos na África.
Lembremos, pois de Saulo. Quando ele era perseguidor da Igreja, acreditava que estava fazendo aquilo para Deus. Um pastor da IURD ou de outra denominação pode nem crer em Deus, ter perdido a fé e começado a paticar o que outros acima dele lhe ordenam achando que está fazendo a coisa certa.
Enfim, não é fácil decidir sobre uma questão destas porque, antes de mais nada, Judas ficou refém do seu remorso, enquanto outros pregadores de prosperidade e vendilhões do Templo estão vivos e têm a oportunidade de tomar outro rumo. Mas veja, em momento algum quero tomar a defesa da conduta deles, o que reprovo com veemência.
Caro Rodrigo
“Eu bem que poderia concordar de imediato com o irmão, mas quero pensar na extensão da graça divina que alcança o mais vil de todos os pecadores, inclusive os mercadores da fé, dentre os quais incluem os que iludem o povo com promessas de prosperidade ou não”.
Mas foi para fariseus desse tipo (mercadores da fé), que, apesar de “terem oportunidade de tomar outro rumo, Cristo afirmou que eles pusessem fim a vida, a ter que provocar escândalos em nome de Deus.
Como você explica aquela reação violenta de Cristo, quando ele mesmo pregava o perdão e a misericórdia infinita?
O que Ele diria diante dos enganadores “invangélicos” da mídia televisiva atual, passado dois mil anos de sua missão?
Como o que caracteriza o humano é a contradição, será que poderíamos afirmar que:
Muito embora Jesus tenha se posicionado contra os fariseus que enfrentavam todo tipo de obstáculos para ganhar almas, ocasião em que os denominou de duas vezes filhos do inferno ─, não é de bom alvitre o crente tomar tão irredutível atitude. Está escrito: “Mas que importa? Contanto que Cristo de qualquer modo, seja anunciado, ou por pretexto, ou por verdade... .” (Filipenses 1: 18).
Muito embora Jesus tenha entrado no templo, armado de chicote para expulsar os poderosos que faziam da Casa de Deus uma “bolsa de valores” ─ não é conveniente ao crente de forma desastrada, assim se comportar. Está escrito: “Não é por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor”.
Bem, Levi, uma das característica da fala de Jesus é o uso de hipérboles.
Acredito que Jesus não desejasse que nenhum daqueles fariseus e mestres moralistas da época, que fechavam as portas do Reino dos Céus para os pequeninos, cometessem suicídio. Penso que se tratava mesmo de uma maneira de expressão afim de lhes mostrar a existência insignificante que estavam vivendo. E olha que os fariseus eram bem diferentes dos teólogos da prosperidade de hoje ,pois a grande maioria deles a meu ver era constituída por gente pobre e que praticava exercícios piedosos.
Se alguém me dissesse que Jesus era fariseu da escola de Hillel, eu até concordaria, inclusive porque somente fariseus podiam e tinham autoridade de pregar em sinagogas, uma vez que todas as sinagogas eram regidas por fariseus.
Várias passagens da Bíblia, mostram claramente, que Yeshua era bem recebido nas sinagogas de Israel, tanto em Jerusalém como na região da Galiléia. “...Foi, então, por toda a Galiléia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demônios...”(Mc 1:39). Se Yeshua pregava nas sinagogas era porque havia respeito e credibilidade no meio dos Miniam. Se Yeshua não fosse seguidor da Torá jamais Ele seria autorizado ou convidado a ensinar no meio dos sábios judeus da época. Encontramos também a passagem de Jairo, um dos chefes da sinagoga, que lançou-se aos pés de Yeshua, suplicando a cura de sua filha.
Yosef, pai de Yeshua, certamente era fariseu e sua família era bem considerada.
Segundo os textos dos evangelhos gregos, dá para perceber que o pensamento de Yeshua aproximava-se bem mais da escola de Hillel do que de Shamai (neste aspecto apenas sua visão sobre o divórcio é que guardaria alguma semelhança).
Mas como explicar as críticas de Yeshua aos fariseus?
Penso que, geralmente, muito criticamos o meio do qual fazemos parte. Principalmente se sou um indivíduo com mente revolucionária e pretendo promover mudanças. Se, por exemplo, sou um evangélico crítico, acabo criticando muito mais aos evangélicos do que as católicos porque tenho expectativas em relação ao meu grupo.
Por outro lado, deve-se observar que os evangelho, por terem sido escritos por discípulos gregos anônimos (não acredito que seus autores tenham sido Mateus, Marcos, Lucas e João), os textos carregavam traços de um terrível anti-semitismo que se confrontam com outras passagens como o episódio da cura da filha da mulher grega de origem siro-fenicia. O anti-semitismo está mais nítido no Evangelho de João que sofreu redações posteriores e mais do que nunca evidencia que não foi João quem o escreveu porque Atos dos Apóstolos fala que ele e Pedro eram iletrados.
Enfim, apesar deste quebra-cabeça que são os evangelhos gregos (não existe nenhum texto em hebaico ou aramaico sobre Yeshua) acredito na versão de um Jesus judeu, que foi recebido por fariseus e que também teve suas divergências dentro deste meio que, a meu ver, deveria ser bastante pluralista. Mas não foi reconhecido a seu tempo como sendo o Messias, exceto por uma minoria se seguidores e pessoas que o conheceram. Dentro das sinagogas ele era visto mais como um rabi ou como um profeta pelos mais humildes. Depois de sua morte sim é que os apóstolos anunciaram abertamente ser Yeshua o Messias esperado pelo povo judeu, mas isto já seria uma outra discussão.
Quanto às distorsões históricas dos evangelhos gregos, penso que foram textos escritos de gregos para gregos e que, apesar dos acréscimos e possíveis mitos sobre Jesus, muita coisa pode ser aproveitada para a edificação pessoal conforme o sentido que é dado pela pregação.
Em tempo!
Penso tê-lo surpreendido ao compartilhar a hipótese de que Yeshua (Jesus) era fariseu e reconhecido pela comunidade como um fariseu da escola de Hillel.
Se assim for, certamente ele seguia, à risca, os costumes religiosos da época. Logo, ele deveria usar talit com sua franjas em cada canto, o que é um símbolo religioso que lembra a observância e a guarda dos mandamentos divinos.
No texto original do evangelho de Marcos (5.27) lemos que a mulher enferma tocou na orla (tsitsit) do talit de Yeshua, o que também era símbolo também de autoridade.
Com certeza, Ele também cobria a cabeça com o talit ou com lenço apropriado. Não existia, na época, o uso do Kipá moderno que passou a ser uma lembrança da mitra sacerdotal ou do costume de cobrir a cabeça, em reverência ao Eterno.
Assim, supondo que os trajes dos fariseus representassem as vestes mais comuns da época, penso que Jesus era proveniente da cultura do farisaísmo, tendo se tornado uma antítese em relação a alguns mestres do grupo com o qual veio a ter fortes divergências.
No entanto, imagino Jesus vestindo trajes bem simples e típicos de um cidadão comum da provinciana Galileia, não de um estudioso das Escrituras de Jerusalém.
Jesus tinha franjas nas suas vestes, mas ao mesmo tempo criticou o comportamento que os fariseus tinham de alargá-la para se mostrarem piedosos diante da sociedade. Mas tal crítica parece-me dirigida ao comportamento religioso do homem que quer se destacar aos olhos dos homens por causa de uma postura de aparências e se sentir moralmente superior, coisa que a literatura rabínica também criticou.
Outrossim, há um anti-semitismo dos gregos bem presente na redação dos evangelhos gregos no que diz respeito às críticas contra os fariseus.
Pelo que vê na controvérsia com os saduceus, no debate acerca da ressurreição, pode-se reparar qeu Jesus (ou o escritor dop Evangelho) utilizou-se de um midrash farisaico ao citar Shemot 3.6:
"Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido no Livro de Moisés, no trecho referente à sarça, como Deus lhe falou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus de mortos, e sim de vivos. Laborais em grande erro." (Marcos 12.26-27; ARA)
Com isto, pode-se dizer que o pensamento de Jesus tinha fortes semelhanças com as técnicas de interpretação dos fariseus e que se encontra no Talmude babilônico (Sanh 90).
Em seu midrash, Yeshua quiz mostrar que se Deus diz a Moisés que ele "é" no tempo presente, fica implícito que os patriarcas aparentemente mortos estão potencialmente vivos aguardando apenas a hora em que todos serão ressuscitados.
Continuando...
Em 31/05/2010, ao escrever um texto em meu blogue falando sobre a parábola do fariseu e o publicano, escrevi que:
"Nos tempos de Jesus, os fariseus eram homens de respeitável reputação dentro da sociedade judaica. Não podemos cometer o engano de pensar que eles vivessem apenas de aparências, pois de fato eram zelosos na guarda dos mandamentos da Torá, preservando com dedicação a correta ortodoxia das Escrituras hebraicas. Davam esmolas, jejuavam várias vezes ao ano (pela lei mosaica o jejum só era obrigatório no dia do Yom Kippur de Levítico 16), oravam com frequência durante o dia, dizimavam até nas pequenas coisas, transavam somente com suas esposas e não cometiam crime algum que pudesse ser julgado pelos homens. Há quem diga que José, esposo de Maria, teria sido um fariseu e, embora a Bíblia nada diga a este respeito, não descarto a tese. No próprio Sermão da Montanha, Jesus chegou a dizer para os seus ouvintes que, se a justiça deles não excedesse em muito aos escribas e fariseus, jamais entrariam no reino dos céus (Mateus 5:20). Devemos lembrar que, até a conclusão da obra de Jesus, os fariseus cumpriram o papel de serem os verdadeiros guardiões das tradições judaicas. Foram usados por Deus para aquele propósito e, através deles, o judaísmo conseguiu se manter após a destruição do templo de Jerusalém na guerra romano-judaica do ano 70 d.C. E, enquanto os sacerdotes saduceus diziam com ceticismo que nem o espírito e nem a ressurreição existiam, os fariseus tinham a melhor interpretação teológica das Escrituras, a qual, sob certo aspecto, seria condizente com a linha de pensamento adotada pela Igreja a respeito do Antigo Testamento bíblico."
(extraído de http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/201… )
Pois bem. Acredito que o "Sermão do Monte" é um dos ditos mais autênticos de Jesus e, considerando que ele disse aos ouvintes que a justiça deles deveria exceder a dos fariseus e escribas, pode significar uma concordância com as práticas piedosas do grupo.
Concluindo (desculpe minha prolixidade)...
"Como você explica aquela reação violenta de Cristo, quando ele mesmo pregava o perdão e a misericórdia infinita?"
R: Vejo isto uma reação bem lúdica, normal, típica de um judeu autêntico e que não esconde aquilo que pensa e sente. Ali Jesus mostrou toda a sua indignação contra os mercadores da fé (os sacerdotes saduceus e pessoas que se aproveitavam daquile mercado no Templo). Foi uma atitude de protesto e que se baseava num comportamento de homem zeloso, embora os religiosos não reconhecessem sua autoridade.
Provavelmente muita gente já deveria criticar aquele comércio no Templo e Jesus tomou a iniciativa de expulsar os vendilhões de lá. Então, provavelmente, deve ter gente que o acompanhou e aprovou aquela atitude.
"O que Ele diria diante dos enganadores “invangélicos” da mídia televisiva atual, passado dois mil anos de sua missão?"
R: Daria muita porrada nesta gente que deixaria os escritores do blogue "Púlpito Cristão" impressionados (rsrs)
OBS: O texto do meu blogue onde comento sobre a parábola do fariseu e do publicano está em
http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2010/05/o-deus-tem-misericordia-de-mim-pecador.html
RODRIGO
Primeiramente quero agradecer a sua inteligente e abalizada explanação sobre o tema em pauta.
“Quanto às distorções históricas dos evangelhos gregos, penso que foram textos escritos de gregos para gregos e que, apesar dos acréscimos e possíveis mitos sobre Jesus, muita coisa pode ser aproveitada para a edificação pessoal conforme o sentido que é dado pela pregação”
David Strauss e seus alunos estavam convencidos de que o Cristo retratado na Bíblia era criação dos seus discípulos, que foram os primeiros a exaltá-Lo e a torná-Lo glorioso.
Bultmann, assevera que para se entender a mensagem cristã e encontrar nela a verdade acerca de nossa vida e de nossa existência mais pessoal, é necessário que se faça a desmitologização da Escritura, que segundo ele, está vinculada a uma visão de mundo antiga não condizente com a cultura científica de hoje.
Pelas narrativas dos evangelhos, vejo muita dificuldade em entender Cristo, como um humano.
Ora, o que caracteriza o humano é a contradição e a ambivalência. O errar, se arrepender e se levantar, dar a volta por cima, são requisitos intrínsecos de nossa condição humana. Só entendo que Cristo não tenha tido sentimentos de culpa, pelo fato de seus horizontes não serem tão estreitos como os nossos.
Mas Rodrigo, eu lhe perguntaria:
Você acredita que Cristo, realmente foi igual a nós em tudo? Ele teve os mesmos dilemas nossos de infância para superar o seu Complexo de Édipo?
Como os evangelistas conseguiram penetrar na subjetividade de Cristo para asseverar que Ele nunca sentiu que pisou alguma vez na bola (rsrs)
Uma vez Ele se surpreendeu: “Puxa! Jamais pensei em minha vida que esse centurião romano tivesse mais fé que os nossos?”
A surpresa, como você bem sabem advém: ou de uma SUBESTIMAÇÃO ou de uma SUPERESTIMAÇÃO.
Subestimamos o outro quando o julgamos incapaz de ter determinada virtude. Superestimamos o outro quando o achamos inatingível em suas qualidades ou virtudes.
Os julgamentos que engendramos cotidianamente em nossa mente, a respeito do outro, trarão como conseqüências as inevitáveis “SURPRESAS”, que de acordo com nossas racionalizações, denominamos de Surpresas agradáveis ou Surpresas desagradáveis. Diante de algumas surpresas ficamos tristes; diante de outras ficamos alegres.
Em suma a SURPRESA é sempre consequência de um pré-conceito. internalizado em nós.
E você, Rodrigo, acredita que Cristo não foi diferente de nós, nesse aspecto?
Primeiramente gostaria de comentar acerca do que colocou a respeito de Bulttman, no qual muito baseio minhas concepções históricas.
Acho que a desmitologização da Escritura para uma sociedade como a nossa, em que interpretamos de maneira errada ideias bíblicas milenares, certamente que ajuda. Porém, muitos acabam querendo destruir por completo o mito e aí cometem um grande pecado em relação à vida social e sua história. Pois, considerando a visão materialista da nossa sociedade, uma desmitolgização leva muitos a uma desconexão a ponto de perderem por completo suas raízes, a fé no Deus Eterno (se é que antes tinham fé) e o desprezo pelo Mistério que nos cerca.
Pra mim, os mito tem seu valor e não deixa de ser uma linguagem transmissora de profundos conhecimentos. É algo que se conta para uma criança como uma simples narrativa, mas que, com o passar dos anos, aquela historinha torna-se altamente explicativa, sendo que os sábios tocam na sua essência que é a alma da Torá.
Ao que me parece, os gregos autores dos Evangelhos sentiram-se livres para elaborarem mitos sobre Jesus com a finalidade de ensinar os novos discípulos. Eles queriam comunicar uma mensagem de transformação pessoal que produzisse a metanoia e conduzisse as comunidades de crentes a um propósito elevado. Então, com erros e acertos, fizeram acréscimos e modificações aqui e ali, inventando boas parábolas e colocando-as na boca do personagem Jesus junto com a tradição apostólica que tinham recebido.
Sem dúvida que a pesquisa inglória por decifrar o Jesus histórico pelo quebra-cabeça dos Evangelhos não nos permite uma conclusão, mas tão somente uma postura de humildade quanto à pessoa do judeu Yeshua ben Yosef. Dele só podemos mesmo confirmar o querigma que Paulo muito bem tentou apresentar aos atenienses num linguajar acessível para gregos.
Descobrir esta liberdade que tiveram os evangelistas do passado talvez seja libertadora para a Igreja hoje que mal consegue estabelecer uma comunicação que fale aos corações dos povos orientais. Pois, se os evangelistas do presente forem capazes de conhecer cada cultura e de elaborar novos mitos na visão de hoje, penso que a mensagem será muito melhor assimilada pelos povos e também pela nossa própria cultura.
Concordo plenamente quando diz que "o que caracteriza o humano é a contradição e a ambivalência. O errar, se arrepender e se levantar, dar a volta por cima, são requisitos intrínsecos de nossa condição humana". Mas quanto a dizer que "Cristo não tenha tido sentimentos de culpa, pelo fato de seus horizontes não serem tão estreitos como os nossos" eu poderia considerar também que Ele aprendeu a lidar com este tipo de sentimento, não deixando que o seu emocional fosse manipulado por este tipo de sentimento. E deveria talvez questionar-se por que estaria sentindo algum medo ou culpa nos momentos difíceis já que pra ele nem tudo deveria ser flores.
"Você acredita que Cristo, realmente foi igual a nós em tudo? Ele teve os mesmos dilemas nossos de infância para superar o seu Complexo de Édipo?"
Acredito que sim, Levi. Por que Jesus teria sido diferente se o Messias é humano? Assim, eu suponho que ele foi se aperfeiçoando até chegar o momento de seu batismo e também durante o seu ministério. E o que o torna perfeito seria a maneira de viver sua própria humanidade de maneira plena, com ambiguidades e contradições, mudando de opinião acerca da mulher siro-fenícia, chamando-a de cachorrinho e depois elogiando sua fé, usando aquele episódio, bem como o do centurião, para também ensinar os seus discípulos.
Continuando...
Hoje em dia, mesmo tendo dúvidas de qual passagem do Evangelho fala com exatidão sobre Jesus, eu mantenho profundo respeito por cada trecho da Bíblia.
Mesmo as contraditórias narrativas de Mateus e de Lucas que falam sobre o nascimento virginal de Jesus em épocas diferentes, ambas transmitem ensinamentos através da experiência de José e Maria. Inclusive, a meu ver, ambos relatos foram ótimos para a evangelização dos gregos que acreditavam em mitos como as relações sexuais entre os deuses e as mulheres.
Para a profecia dita por Isaías ao rei Acaz, de que uma virgem iria conceber, sabe-se que não há no texto original uma obrigatoriedade de que a mãe da criança seja uma virgem. O termo hebraico, que não foi o mesmo da Septuaginta (a Bíblia usada pelos gregos e escritores do NT), diz respeito a "uma jovem em idade de casamento".
ATualmente causaria muita perplexidade para os cristaos, inclusive para os evangélicos, se surgisse alguma prova mostrando que Jesus fosse filho de José com Maria. Até os Testemunhas de Jeová ficariam de cabelo em pé, mas o mesmo não ocorreria em relação aos judeus que estudam a respeito da vida de Jesus.
Para o judaísmo o Messias é bem humano (Jesus referia-se a si mesmo como sendo o "Filho do homem") e já foi descoberto que o termo "Filho de Deus", na verdade, foi uma antítese em relação ao imperador Augusto. Ou seja, os judeus, por recusarem adoração ao imperador, passaram a dizer que Filho de Deus é o Rei Messias, não o rei romano.
Penso que é justamente o Filho do homem que hoje precisamos redescobrir, o que é um convite também a um auto-conhecimento e conhecimento do próximo. Pois é aceitando e amando o outro ser humano que compreenderemos melhor o Messias, pois é a Ele que estaremos fazendo bem.
Em tempo!
Não sei se chegou a ler, Levi, eu comentei ontem sua postagem anterior.
Sem querer ficar fazendo propaganda do meu blogue, gostaria aqui de compartilhar algo que escrevi meses atrás no artigo "Quando o Messias bate à nossa porta" (http://doutorrodrigoluz.blogspot.com/2010/09/quando-o-messias-bate-nossa-porta.html).
Ali, após ter citado Mateus 25.31-46, coloquei um interessante conto judaico que havia lido num site sobre Cabala:
"Uma escola espiritual ia muito bem até que, um dia, seus membros começaram a tentar mostrar uns aos outros que o jeito pessoal de cada um deles era o jeito mais correto de se louvar a D-us.
Isso obviamente começou a causar desavenças e as pessoas que frequentavam a escola começaram a sair. A escola começou a ficar vazia.
Foi quando eles receberam a visita de um tzadik e perguntaram-lhe como fazer para que a escola voltasse a prosperar.
O sábio ficou lá uma semana e, antes de ir embora, lhes disse: "Eu não sei qual é o problema da escola de vocês. Só sei que um de vocês é o Mashiach."
Eles ficaram perplexos com tal afirmação e começaram a especular, cada um por si, sobre qual deles seria o tal Mashiach escondido. Assim sendo, começaram a pensar coisas do tipo: "Fulano poderia ser o Mashiach, pois veja como ele ora com fervor e paixão", ou "Siclano poderia ser o Mashiach, pois ele tem o coração mais puro de todos".
Desta maneira, eles começaram a se olhar apenas com Amor e, assim, tiraram a casca de seus corações que impedia que eles se conectassem pelos corações. Essa conexão é a que permite que entendamos que o outro está muito certo no caminho dele e que, nós não temos o direito de julgar se tal caminho é mais ou menos verdadeiro do que o nosso.
Assim, com essa aura de amor voltando a reinar ali, a Shechinah voltou a pairar sobre eles e as pessoas voltaram a frequentar a escola"
Olá! Gostaria de dizer que faz algum tempo que leio alguns posts seus, acho muito interessante porque faz o meu estilo. Há pouco tempo criei um blog sobre Deus e gostaria de ter uma parceria com vocês, algo como uma troca de links ou algo do tipo, também peço a permissão para colocar alguns posts seus no meu blog, é claro com os devidos créditos e deixo vocês à vontade para pôr posts do meu blog no de vocês!
Fico na espera e aguardo dessa resposta, ficaria feliz se a parceria fosse atada! Grande abraço e continuem nesse mesmo foco e objetivo em prol do Reino!
www.odeuscontemporaneo.blogspot.com
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