08 janeiro 2012

SOMOS TÃO INDEPENDENTES ASSIM?





“Os Vikings eram corajosos por causa do medo de serem desprezados” ― disse certa vez, o humanista e historiador Inglês, Theodore Zeldin. O autor do clássico, “Uma História da Humanidade”, diz que os vikings ao invadir a Normandia, foram inquiridos sobre quem era o chefe deles. Eles então responderam: “Viemos da Dinamarca e queremos conquistar a França. Não temos chefe. A autoridade é igual entre nós. Jamais nos submeteremos a alguém, seja quem for. Jamais aceitaremos qualquer tipo de servidão”.

Diante dos ferozes invasores, havia duas saídas para os da Normandia: lutar correndo o risco de morrer em batalha, ou render-se aos ditames dos vikings. Os Normandos escolheram a ultima opção: baixar as armas por amor à vida. Mas nesse “amor a vida”, na verdade, estava expresso o medo de morrer, quando assim disseram: “Vocês nos protegem do desamparo, e em troca serviremos a vocês em tudo que for preciso”.

E agora? O povo vencido sente-se inferiorizado diante daqueles que não temeram perder a vida, e arriscá-la no campo de batalha. Os Normandos capitularam em troca da segurança. O pagamento pela covardia de não lutar, é submeter-se ao desejo do outro.

Muitas perguntas lá dentro, me perturbam:

Será que hoje, na pós-modernidade, sou realmente “senhor de mim”?

Será que a submissão ainda não persiste, agora, com outra roupagem mais sutil?

Será que ao atar laços sociais, não estou eu buscando algum amparo frente ao enorme sentimento de desproteção?

Não vejo o homem pós-moderno tão independente assim. Vejo-o cada vez mais inseguro de si mesmo, mais indeciso sobre a decisão frente aos problemas de um mundo em transformação. Vejo-o mais dependente das descobertas tecnológicas que o atraem numa teia de necessidades  imperiosas e irresistíveis.

Segundo Theodore Zeldin, “A imagem cristã de Deus mudou por completo, de um tirano atemorizador e colérico exigindo obediência total, para um pai misericordioso e de infinita bondade. A ameaça de punição eterna foi abandonada. A maioria dos cristãos atirou inferno e purgatório na lata de lixo. Todavia, a geração atual gasta mais dinheiro em segurança do que no tempo dos nossos ancestrais”.

O certo é que a nova dimensão religiosa não apagou a dependência que diz que não somos uma ilha de segurança, pois dependemos do desejo do outro.
Hitler, com o seu ímpeto de superioridade foi um que explorou ao extremo o desejo de submissão das massas, para depois se ver dominado pelo medo de estar só.

Afinal, nenhum homem tem o poder de ser senhor e de ser necessário para conduzir outros, sem provocar insatisfação.
Como dizia Martin Buber, em seu mais emblemático livro, “EU e TU” – Centauro Editora (página 15):

“O lugar dos outros é indispensável para a nossa realização. A finalidade de não depender do outro é o contínuo morrer no decurso da vida humana.”


Por Levi B. Santos
Guarabira, 08 de janeiro de 2012


Site da imagem: danielcotrimp.blogspot.com

21 comentários:

Levi B. Santos disse...

Achei conveniente registrar o comentário do pensador Esdras Gregório a um texto meu postado em agosto de 2010 no “Ensaios & Prosas”: “Somos Eternas Crianças”, que tem tudo a ver com o escopo do TEMA tratado na recente postagem:

Gresder Sil disse...

Levi, Levi estás a nos perturbar! A nos desmitologizar!

Estás a dizer que a nossa confraria não passa da substituição do rebanho da igreja, que também não deixa de ser a satisfação e reminiscências de nosso colo materno.

Estás a quebrar nosso orgulho de livres pensadores que não mais credita em ser amimais de rebanho.
Como é cortante tua pena, como é afiada tuas folhar escritas.

Fizeste me perceber que não sou o livre e independente fazedor de idéias, des-construtor de fábulas, mas sim um alguém que estava perdido e que naturalmente fui conduzido a uma nova grei por necessidades primordiais de meus instintos mais latentes.

Mas tu estás certo, temos esta necessidade social de nos agrupar e como está dito, pela razão do que perdemos na ruptura materna.


Dom Ago 22, 10:14:00 AM 2010

Daniel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
guiomar barba disse...

Levi, eu acredito que por nossa própria finitude, por nossa sabida fragilidade, e porque fomos criados em sociedade, é que somos dependentes. E esta dependência nos ensina a amar, a conviver respeitando os nossos semelhantes.
O que é degradante é o servilismo.

Abraço.

Altamirando Macedo disse...

Caro Levi, bom termo."Será que sou senhor de mim"?
Eu acho que não, por mais que se procure ser.Não existe o termo, "Eu me basto". Mesmo sem a necessidade de conduzir outros, o homem sempre é escravo de algo. Uma religião, um ideal, uma filosofia ou até mesmo um emprego. Um elemento que porta uma carteira de trabalho assinada por outro não pode falar em liberdade no sentido mais amplo. Todo homem tem suas limitações castradoras, conhecidas ou não.

Mariani Lima disse...

Levi, não nos bastamos mesmo. Nossa independência depende do outro. Os olhos dos outros deve ser o espelho onde mais ansiamos nos ver belos, interessantes e amados. rs... e vivemos nos agrupando. Não importa o quanto a tecnologia avance, fazemos confrarias rs..., só para estar trocando idéias e mostrando as nossos por que somos dependentes até desse outro que nem conhecemos muito bem.
Um abração. Fica com Deus.

Levi B. Santos disse...

Guiomar, Miranda e Mariani


Essa dependência humana, na verdade vem de longe: o homem é o único animal a depender por mais tempo dos seus pais.

Em qualquer cultura que se possa imaginar o homem têm que depender do outro, se quiser sobreviver.

O campo das relações humanas, na acepção de Freud, é análogo ao mercado — é um intercâmbio de satisfação de necessidades trocadas numa relação com o outro indivíduo. O indivíduo é aparelhado com impulsos que só vão ser satisfeitos se houver relação com os outros.

Já dizia Erich Fromm:

“ a verdade é que o homem moderno vive na ilusão de saber o que quer, quando de fato ele quer o que se supõe que deva saber”

Altamirando Macedo disse...

Feliz do homem que consegue alcançar sua independência financeira e religiosa.

Eduardo Medeiros disse...

Levi,

lembro bem desse comentário do Esdras. A liberdade foi desconstruída em Lutero, pois se Deus tudo sabia de antemão, a liberdade humana era uma falácia; Descartes, ao contrário de Lutero, foi um arauto da liberdade humana, deixando para trás o mundo "velho" onde a metafísica ditava o pensamento e se abria para o mundo novo que se inaugurava com o Iluminismo.

Mas deixando de lado o teor filosófico da liberdade(não vou me atrever a mergulhar mais fundo), sinto que o homem nasceu para ser livre, mas abdica dessa liberdade para poder viver em sociedade.

A liberdade absoluta mostra-se no entanto, enganosa, pois quem precisa do outro não pode ser livre, e a dependência que temos uns dos outros em nossa sociedade nos mostra que nossa liberdade é relativa.

Só somos livres de fato, quando sonhamos ou quando fazemos poesia.

Levi B. Santos disse...

Miranda

Até na fartura econômica a gente precisa do outro. (rsrs)

Como conseguir a independência “religiosa” num país que é cercado de superstições por todos os lados?

Só nos resta sonhar (rsrs)

Levi B. Santos disse...

“Só somos livres de fato, quando sonhamos ou quando fazemos poesia”

Será mesmo, Edu?

Sabe o que pensei, agora?

É que o poeta faz versos para desculpar ou curtir suas fraquezas, e tornar o mundo que o cerca mais forte do que ele é na realidade. A existência humana é demasiadamente penosa, por isso queremos nos livrar dela, fantasiando e imaginando. (rsrs)

Altamirando Macedo disse...

Caro Levi, na abundância só se precisa de outrem para ostentar esta abundância.
Num País religioso cheio de superstições, se consegue a independência delas, não lhes dando ouvidos.

Altamirando Macedo disse...

Lêdo engano quem pensa que ser bondoso é dar o que lhe sobra, ou humilde é aquele que recebe as sobras de alguém.
Você precisa do outro para quê, para dar ou receber?

Cronicas de um observador disse...

Levi... Para que sejamos um corpo, penso ser necessário cada uma das partes desse corpo. Partes de um corpo não é um corpo. Logo sempre será necessário que sejamos dependentes um dos outros. No meu entendimento, jamais fomos ou seremos livres no sentido amplo da palavra. Mas uma coisa tenho a declarar: Somos escravos antes de qualquer coisa, de nós mesmos. Somos escravos do nosso corpo; dos nossos desejos... Somos escravos do que queremos dominar (possuir).
Não seria por isso que Jesus teria morrido? Não seria para nos libertar de nós mesmos para sermos livres com ele... E não para sermos escravos dele.
O amor não escraviza ninguém. O amor é a melhor forma de alguém trazer seu próximo cativo a ele. O amor expande nossos domínios. O amor nos torna cativo sem sermos escravizados.
É no amor que encontramos a verdadeira liberdade.
Excelente reflexão!!!
Me fez pensar de forma especial no tema.
Fique com Deus.
Jailson Freire

www.cronicasdumobservador.blogspot.com

Levi B. Santos disse...

Miranda

Tanto na abundância quanto nos saltos ornamentais necessitamos da escada e trampolim (rsrs)

O generoso (bondoso) ao dar mais do que recebe, se sente o tal, perante o humilde.

O humilde ao explorar o seu lado de vítima acaba parasitando o generoso. E assim caminha a sociedade... (rsrs)

Levi B. Santos disse...

Velho amigo Jailson Freire


"Somos escravos antes de qualquer coisa, de nós mesmos. Somos escravos do nosso corpo; dos nossos desejos... Somos escravos do que queremos dominar (possuir)".

Brilhante a sua inserção acima. Não há o que retocar. (rsrs)

Temos a ilusão de sermos livres. Na verdade, somos libertos para a prisão do tempo.

P.S.:

Estou em dívida com o seu blog. Mas logo logo darei uma passada lá para apreciar a sua verve poética.(rsrs)

Abraços,

Eduardo Medeiros disse...

Levi, é isso mesmo mas quis dizer que quando sonhamos nos libertamos do mundo e suas regras e quando buscamos olhar o mundo através da poesia, de certa forma, também buscamos voar acima do mundo real mesmo que seja para cantar suas dores, alegrias e prisiões.

ou será que estou sonhando?? rsss

Ministério da Saúde disse...

Olá, blogueiro(a)!

Através da campanha Combata a Dengue do Ministério da Saúde, você pode ajudar a acabar de vez com o mosquito Aedes aegypti.
Seja nosso parceiro e faça parte dessa caminhada que visa mostrar como é simples combater a dengue.
O Brasil conta com você!
Se tiver interesse em colocar algum material da campanha em seu blog, entre em contato com a gente pelo e-mail comunicacao@saude.gov.br
Para saber mais sobre a campanha, acesse: www.combatadengue.com.br
Você também pode nos seguir no Twitter: www.twitter.com/dengue_MS
Estamos também no Facebook! Confira: www.facebook.com/minsaude?sk=app_110819375702256


Obrigado,
Ministério da Saúde

Anônimo disse...

Olá meu Amigo poeta Graça e Paz.
Parabéns pelo Blog muito interessante e edificante.
já estou te seguindo. Se desejares conhecer-nos e também nos seguir ficaremos felizes.
Deus te abençoe ricamente
Josiel Dias
Mensagem Edificante para Alma
http://josiel-dias.blogspot.com
Rio de Janeiro

guiomar barba disse...

Edson via Edu, "A liberdade foi desconstruída em Lutero, pois se Deus tudo sabia de antemão, a liberdade humana era uma falácia;

E o fato de alguém saber algo antes que aconteça, deve implicar que haja outro rumo para a coisa?

Mostre-me um homem livre através da filosofia de Descartes e eu te mostrarei um escravo do novo mundo.

kkkkkkkkkkk Beijão heregizinho

guiomar barba disse...

Jailson, publiquei seu comentário no meu mural no face ok?

Beijo.

Eduardo Medeiros disse...

Gui,

num universo onde Deus sabe tudo o que vai ocorrer com homens livres, significa que esses homens livres não podem não fazer o que Deus sabe que eles farão.

Quando é Deus quem sabe, está determinado.

Por outro lado, é possível que um ser onisciente soubesse todas as variáveis que um ser livre poderia tomar e assim, saber qual das alternativas ele irá escolher.

são duas formas de abordar a onisciência divina. mas acho que esse é um tema para uma certa confraria...rsss