Imagem: jornaldaparaiba.com.br
Esta semana conferi o curta-metragem
que recebeu o Oscar 2012 de animação ― “Os
Fantásticos Livros Voadores do Sr.Morris Lessmore”. Trata-se de uma
aventura silenciosa ― um libelo ao livro impresso, em que um solitário e triste
homem se vê, repentinamente, envolvido num turbilhão de livros voando ao seu redor. As folhas e letras dos livros
são arrancadas pela força avassaladora do furacão —, uma crítica ao mundo da leitura digital. Entre os livros há um que não consegue alçar voo, e volta sempre à
mão do seu dono. Tudo, acompanhado por uma bela e envolvente trilha sonora.
O filme animado teve o condão de
evocar os velhos tempos em que o transtorno obsessivo por livros se apossou de
mim. E lá se vão 49 anos, quando dentro de um banco de feira em que minha mãe
comercializava confecções, fazia as minhas primeiras incursões pelo mundo da
leitura. Lia com júbilo incomum artigos de Raquel de Queiroz, David Nasser e Mário
de Moraes que eram publicados nos semanários “O Cruzeiro”, e “Manchete”.
As folhas das revistas que iriam servir de papel de embrulho para as confecções
que eram vendidas no meio da Feira, antes de ser usadas para essa finalidade,
eu, cuidadosamente, recortava todos os ensaios que achava atraentes, para
guardá-los num caixote secreto em casa, naquilo que se tornou a minha primeira
biblioteca.
Lembro-me, também, dos dois
primeiros livros que li com sofreguidão na minha adolescência: “A Ilha do Tesouro” de R. L.
Stevenson, e “Os Miseráveis”
de Vitor
Hugo. De lá para cá, não tenho passado um mês sequer sem a companhia desse
amigo silencioso — o Livro.
Tinha e ainda tenho a mania de
cheirar as folhas macias dos livros novos, à medida que devoro com os olhos o conteúdo
literário. Foi por isso que recebi dos meus colegas de ginásio o apelido de “cheira-cheira”.
Aliás, duvido muito que exista algum bibliófilo que não tenha esse vício. O meu
filho mais velho tem a mesma mania de gostar do aroma que exala das páginas de
um livro novo.
Lembro-me de quando o dinheiro era
pouco eu corria aos sebos para adquirir livros usados. Ficava meio triste
porque eles não me permitiam o prazer das cheiradas que dava nos livros saídos
do prelo com suas folhas estalando de novinhas. Sabe como é, os livros usados,
além do visual feio de suas páginas ásperas e encardidas, exalam odor de mofo,
tendo que se ler de longe, a fim de evitar espirros e irritação nas narinas.
Grande parte do meu tempo, o monstruoso
mundo digital tem me tomado, sem que consiga fazer-me substituir o livro real
pelo virtual (os e-books). Se depender de mim as livrarias continuarão, por
muito tempo, como salões templários da magia e do poder cativante dos livros.
A leitura através da telinha de um
computador, ou de um Tablet, até agora, não tem me dado o mesmo prazer de um
bom livro lido em uma rede ou espreguiçadeira. Sou blogueiro há cinco anos e
não consegui ainda ler um livro on line ―, provoca-me náuseas. Para mim, a
leitura virtual é como uma comida sem tempero, insípida e inodora.
Para deleite dos
portadores de Transtorno Obsessivo Crônico (TOC) por livros, que não se renderam aos e-books, trago o vídeo de
imperdíveis 15 minutos do ganhador do Oscar de animação 2012 — Os Fantásticos Livros Voadores do Sr. Morris
Lessmore:
Por Levi B. Santos
Guarabira, 08 de março de 2012
6 comentários:
Fantástico Levi. Emocionante, até mesmo toda a beleza do lugar, tranquilidade, torna propício ao bom leitor, esquecer as horas e estar debruçado em livros.
Eu não consigo lê com muito interesse, até mesmo um longo artigo virtual. Quando quero um livro copio aos poucos e vou lendo.
Mas falando em sebo, eu comprei um clássico não faz muito tempo. Quando vi o livro quase pulei de alegria, meu marido falou: compre, compre! rsrs Sabe, as vezes fico pensando, será que os livros antigos ao serem reeditados, não sofrem alguma alteração?
Por exemplo, eu estava lendo O Príncipe (Maquiável) que meu filho comprou, mas eu tenho um de mil novecentos e antigamente. O do meu filho vem com comentários de Napoleão, no rodapé, o meu vem após a fala do Maquiável, não comparei ainda, mas não sinto a mesma confiança... rsrs
Uns meses atrás estive em Recife e vi uma grande livraria "sebosa" em uma velha rua. kkkk Estou só pensando quando voltar à Recife correr até lá, imagino que deve ter muitas preciosidades ali.
Muito bom. Abraço.
Para você que é poeta, Guiomar, aí vão dois versos
do poeta e dramaturgo Frederico Garcia Lorca:
Um livro de poemas
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,
e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
— entranháveis distâncias. —
Abraços,
Grande mestre Levi, vi esse curta e postei no blog, realmente encantador.
Eu adoro cheiro de livro novinho, quando entro em livraria o prejuízo é grande, sempre acabo gastando mais do que dá, mas vale tanto a pena. E-books, só se a necessidade for enorme, mas tenho que imprimir, detesto ficar lendo no monitor do PC (a não ser sites e blogs), dá dor de cabeça e é realmente insipido.
Acredito que o virtual nunca há de substituir o encanto de uma biblioteca cheia de livros, livro palpável é muito mais prazeroso, o toque, o cheiro é importantíssimo, afinal trata-se de uma relação amorosa né!.
Abraço.
Gracias Levi, fiquei orgulhosa com o seu carinho. Publiquei no meu mural. Abraço.
É isso aí, Eder!
O livro impresso jamais será vencido. Não há tecnologia cibernética que o derrube.
Ah que bom, somos parceiros no vício de "cheira-livros" (rsrs)
Lembrei-me agora de um hino do hinário "Harpa Cristã" que fala de um LIVRO que é mais doce que o mel.
O livro digital não nos fornece esse prazer, pois não podemos comê-lo nem nos lambuzarmos com ele. (rsrs)
Abraços,
Meu amigo bibliófilo, que gostoso ler esse teu post pois também me vi neles em algumas partes. Também sou um "cheirador"..rsssss mas também adoro fuçar em sebos(apesar da poeira e da má conservação de muitos livros).
Mas quando começou essa onda de e-books eu fiquei fascinado. A razão é simples: ESPAÇO. Devo ter mais de uns dois mil volumes(entre livros e revistas antigas) em um pequeno quarto que fiz de biblioteca e já não cabe mais nada. Tanto que parei de comprar livros como antigamente e as revistas antigas que tenho pena de jogar fora estou transferindo para o meio digital(pena que nessa transferência quase sempre tenho que destacar as folhas da revista o que a faz não servir mais para um sebo)
Tem também o tempo para ler que hoje para mim é bem pequeno. Confesso que isso me causa certa angústia...rs
Mas eu falava de espaço. Eu consegui juntar no meu PC uns mil e-books que cabem num CD!!!
Ler no PC(e melhor agora nos tablets) será algo inevitável para as próximas gerações. E eu, que não sou bobo, estou tentando me adaptar. Leio numa boa artigos mais longos no PC(como aquele que o Rodrigo postou na logos e mithos) mas ainda não li nenhum livro inteiro nesse formato mas logo vou me aventurar.
Vou gostar muito se livros digitais e físicos conseguirem conviver um ao lado do outro por ainda longos anos. De preferência para sempre.
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