Uma frase bem curta atribuída
ao matemático e filósofo grego Pitágoras (570 a C) resume bem o
desejo de imortalidade reinante na alma humana: “O Homem é mortal por seus
temores e imortal por seus desejos”.
Getúlio Vargas, entre os presidentes
que passaram por nossa República, talvez tenha sido o que mais encarnou esse “desejo de imortalidade” (ou desejo de
não ser esquecido). Com certeza a sua “carta-testamento”, escrita antes de
tirar a vida no dia 24 de agosto de 1954, tinha uma finalidade: mudar o cenário
político que lhe era completamente adverso.
De sua célebre carta, a
frase “...saio da vida para entrar na história” ficou gravada indelevelmente
no imaginário coletivo dos brasileiros. Qualquer criança estudante do primeiro grau
não titubeia, quando perguntada sobre o autor dessa paradigmática frase.
No próximo dia 24, o suicídio
de Getúlio
Dornelles Vargas, responsável pela mudança do panorama político em 1954,
completa sessenta anos.
Agosto ― mês das grandes tragédias de nossa
república ― surpreendeu mais uma vez a todos com a morte inesperada (dia 13) do
idealista parlamentar, Eduardo Campos que, até então estava
segurando a lanterna da corrida presidencial com 8% nas pesquisas eleitorais. Ressonâncias da comoção dos idos de 1954, parecem
se repetir em menor grau, hoje, com a reviravolta no cenário político a menos
de dois meses da eleição.
Pouco depois do comovente
enterro do candidato do PSB à Presidência da República, ao qual compareceram
políticos de todas as estirpes, a Marina Silva apareceu com 20% nas
pesquisas de primeiro turno, superando a Dilma numa simulação para o segundo
turno. Os donos do poder que trabalhavam com a hipótese de não haver primeiro turno,
agora, com afinco incomum arregaçam as mangas para não deixar a peteca cair.
O lema ― “não vamos desistir do Brasil!” ― bradado de punhos cerrados, foi
repetido exaustivamente pela esposa, filhos e conterrâneos do ex-governador no
acompanhamento até a sua última morada, no cemitério de Santo Amaro em Recife.
O que não podemos
aquilatar é se o clima de comoção, puxado pelo refrão ― “não vamos desistir do Brasil!”
― vai durar até o segundo turno das eleições. Será que essa frase vai repetir o efeito da que Getúlio
enunciou em sua carta-testamento? Será que ela terá o poder de se eternizar
nos ouvidos e no inconsciente dos oposicionistas até o final do segundo turno?
P.S.:
Pelo andar da carruagem,
tenho a impressão de que os imortais do planalto de Brasília desistiram de nós.
Eles são astutos, apesar de parecerem tolos e risíveis no horário eleitoral. No
fundo, sabem perfeitamente que é em época de eleição que os pobres mortais mais
sonham com o “paraíso perdido”.
Um dia, quem sabe, talvez
possa me curar do ceticismo que hoje me invade e não me deixa embarcar na nau
dos que estão firmes nas promessas de um salvador.
Por Levi B. Santos