21 agosto 2014

“Saio da Vida Para Entrar na História” (Getúlio Vargas)



Uma frase bem curta atribuída ao matemático e filósofo grego Pitágoras (570 a C) resume bem o desejo de imortalidade reinante na alma humana: “O Homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos”.

Getúlio Vargas, entre os presidentes que passaram por nossa República, talvez tenha sido o que mais encarnou esse “desejo de imortalidade” (ou desejo de não ser esquecido). Com certeza a sua “carta-testamento”, escrita antes de tirar a vida no dia 24 de agosto de 1954, tinha uma finalidade: mudar o cenário político que lhe era completamente adverso.

De sua célebre carta, a frase “...saio da vida para entrar na história” ficou gravada indelevelmente no imaginário coletivo dos brasileiros. Qualquer criança estudante do primeiro grau não titubeia, quando perguntada sobre o autor dessa paradigmática frase.

No próximo dia 24, o suicídio de Getúlio Dornelles Vargas, responsável pela mudança do panorama político em 1954, completa sessenta anos.

 Agosto ― mês das grandes tragédias de nossa república ― surpreendeu mais uma vez a todos com a morte inesperada (dia 13) do idealista parlamentar, Eduardo Campos que, até então estava segurando a lanterna da corrida presidencial com 8% nas pesquisas eleitorais.  Ressonâncias da comoção dos idos de 1954, parecem se repetir em menor grau, hoje, com a reviravolta no cenário político a menos de dois meses da eleição.

Pouco depois do comovente enterro do candidato do PSB à Presidência da República, ao qual compareceram políticos de todas as estirpes, a Marina Silva apareceu com 20% nas pesquisas de primeiro turno, superando a Dilma numa simulação para o segundo turno. Os donos do poder que trabalhavam com a hipótese de não haver primeiro turno, agora, com afinco incomum arregaçam as mangas para não deixar a peteca cair.

Dizem por aí que a coincidência maior não reside apenas no fato de Getúlio e Eduardo morrerem de forma trágica no mês do desgosto (agosto). O símbolismo maior está relacionado às poderosas e célebres frases que ambos deixaram antes de partir.

O lema  ― “não vamos desistir do Brasil!”  ― bradado de punhos cerrados, foi repetido exaustivamente pela esposa, filhos e conterrâneos do ex-governador no acompanhamento até a sua última morada, no cemitério de Santo Amaro em Recife.

O que não podemos aquilatar é se o clima de comoção, puxado pelo refrão ― “não vamos desistir do Brasil!” ― vai durar até o segundo turno das eleições. Será que essa frase vai repetir o efeito da que Getúlio enunciou em sua carta-testamento? Será que ela terá o poder de se eternizar nos ouvidos e no inconsciente dos oposicionistas até o final do segundo turno? 

Não foi à-toa que em sua recente estréia no programa eleitoral pela televisão, Marina Silva, terminou seu discurso com a patriótica frase que Eduardo usou para encerrar a sua fala na última entrevista concedida na televisão: “Não vamos desistir do Brasil!”


P.S.:


Pelo andar da carruagem, tenho a impressão de que os imortais do planalto de Brasília desistiram de nós. Eles são astutos, apesar de parecerem tolos e risíveis no horário eleitoral. No fundo, sabem perfeitamente que é em época de eleição que os pobres mortais mais sonham com o “paraíso perdido”.

Um dia, quem sabe, talvez possa me curar do ceticismo que hoje me invade e não me deixa embarcar na nau dos que estão firmes nas promessas de um salvador.


Por Levi B. Santos
Guarabira,  21 de agosto de 2014


Site da Imagem: veja.abril.com.br

3 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

De fato, Eduardo Campos também já entrou para a História, mas quanto a Marina, vejo que ela ainda vai ter alguns obstáculos para superar pela frente, sendo uma de suas dificuldades o curto tempo na TV e daqui uns dias ela precisará se descolar da tragédia, sob pena de produzir uma sensação de demagogia. E aí estará o desafio para ela mostrar a que veio a sua candidatura. Torço por Marina que, afinal, é a minha candidata.

Levi B. Santos disse...

Rodrigo,

Dando uma olhada retrospectiva em nossa História, iremos constatar que o “toma-lá-dá-cá” vem desde a proclamação da República.

Peguemos o exemplo de Campos Sales ― o segundo presidente civil da História. Ele quando assumiu a presidência anunciou uma política de tolerância e concórdia que, segundo Laurentino Gomes, “tratava-se de uma aliança entre o governo central e os chefes políticos regionais em troca de apoio”. No dizer de Raimundo Faoro, “grupos de exploradores privilegiados receberam do presidente, naquela época, a mais ilimitada outorga, para servilizar, corromper e roubar as populações”.

Marina Silva, formada em História, deve conhecer bem esse DNA, que vem perpetuando a corrupção em nossas terras até os dias atuais. Ela deve saber muito bem que, se ganhar, vai ter que entrar no tenebroso mar das negociatas, que imperam desde o primeiro presidente civil do Brasil. (rsrs)







RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Oi, Levi. Qualquer um que entrar corre o risco de ter que conceder espaço no governo pro PMDB. No entanto, certas coisas fazem parte das negociações. Lembro que, quando o Itamar entrou no lugar de Collor, ele chamou todo mundo pra compor o governo dele, inclusive o PT que resolveu recusar (já o PSB aceitou). Na época eu fazia movimento estudantil e ele disse às lideranças dos movimentos populares que, quem tivesse mais poder de pressão, levaria. Acho que com Marina teremos algo semelhante. Só que, com ela, espero que o diálogo ocorra e com mais transparência.