Dizia Weber: “o desempenho de cada
indivíduo é matematicamente medido, cada homem se torna uma engrenagenzinha da
grande máquina e, ciente disso, sua única preocupação é saber se poderá
tornar-se uma engrenagem maior.”
O escritor e poeta americano,
Thomas Stearns Eliot (1888—1965), em
“O
Coquetel”, trata da coisificação do homem. Como peça de uma grande
engrenagem, o indivíduo, enquanto durar, está fadado a exercer o seu papel,
quer nas fábricas, escolas, órgãos do governo, tribunais, presídios, igrejas, lojas,
corporações militares, hospitais, etc. Como no mito do herói grego Sísifo, o ser humano está sentenciado a
carregar, diuturnamente, a grande pedra até o cume do monte, mesmo sabendo que após
seu árduo trabalho, pela força da gravidade, ela retornará ladeira abaixo. O
mito nos mostra que a tarefa dolorosa de subir a montanha com o fardo e ter
alívio na descida, é uma constante. Freud, por certo, deve ter retirado
dessa história, subsídios para formular a teoria ou conceito de “princípio do
prazer” versus “princípio da realidade”.
O trecho poético de “O
Coquetel”, de Eliot, através de uma situação crítica,
nos oferece um exemplo contundente de como o homem da vida moderna se sente
despersonalizado ou reduzido a uma coisa:
“...tomemos uma operação cirúrgica.
Na consulta com o médico e o cirurgião,
Ao ir para a cama na casa de saúde,
Ao falar com a enfermeira-chefe, você
ainda é sujeito,
O centro da realidade. Mas, estirado
na mesa,
Você é um móvel numa oficina
Para aqueles que o cercam, os atores
mascarados;
Tudo o que existe de ‘você’ é seu corpo
E o “você” é retirado.
Há uma perda da personalidade;
Ou melhor, você perdeu o contato com
a pessoa
Que supunha ser. Já não se sente tão
humano,
Você fica reduzido à condição de um objeto
—
Um objeto vivo, porém não mais uma
pessoa.
Isso está sempre acontecendo, porque
se é tanto um objeto
Quanto uma pessoa. Mas a gente se
esquece disso
O mais depressa que pode. Quando você
se veste para uma festa
E vai descendo a escada, com tudo a
seu redor
Arranjado para sustentá-lo no papel
que você escolheu,
Às vezes, ao chegar ao último degrau,
Há um degrau além do que seus pés
esperavam,
E você vem abaixo num solavanco. Por
um momento,
Você teve a experiência de ser um
objeto
À mercê de uma escada malévola.
Yannis
Gabriel, em “Freud e a Sociedade”, disse: “Poucas pessoas avaliaram tão bem quanto Eliot, o sofrimento dos indivíduos em sua vida pública e em suas
relações pessoais”.
“...Aprendem a evitar as expectativas exageradas,
Tornam-se tolerantes com eles mesmos e com os outros,
Dando e recebendo, nas ações costumeiras,
O que há para dar e receber”. (Eliot. T. S.)
“O
homem se transformou num autômato” — disse Erich Fromm. “O homem virou uma coisa” — acrescentou Marcuse. Será que existe uma fórmula diferente da fornecida acima
por T.
S. Eliot, para se conviver pacificamente em uma sociedade tecnicamente globalizada
e despersonalizada?
Por Levi B. Santos
Guarabira,
27 de novembro de 2014
Site da Imagem: Ibahia.com