Há poucos dias, encerrando
a última consulta do ano a meu endocrinologista ataquei com essa pergunta: “Como seria a minha ceia de Natal, doutor?”
— Sua ceia de Natal será primorosa, por que
não? — confidenciou-me.
Cá comigo, por alguns
segundos, fiquei a me perguntar: “Como poderia ser primorosa uma ceia de Natal sem
torta, sem vinho, sem coca-cola, sem docinhos, sem pratos maravilhosamente
caprichados, carregados na manteiga e nas massas?”
O endocrinologista com os seus possíveis 70 anos
(formou-se em medicina um ano antes de mim), como que adivinhando minhas
conjecturas silenciosas, exclamou:
— Puxa rapaz, sua ceia
poderá ser saudável e maravilhosa! Você vai comer do arroz, do peru ou do chester, com abundantes verduras, depois, rebate no final com
muitas frutas.
— Como comer muitas
frutas, doutor, se o senhor aconselhou-me devorar apenas duas frutas por dia?
— Ué! Uma salada de muitas
frutas! — disse enfático, olhando-me por cima dos óculos de grossas lentes.
Sua afirmação consoladora
estimulou-me o riso. Como médico, sei que o uso de certos clichês é
importantíssimo para elevar a auto-estima do doente. Deu vontade, mas me
contive, não perguntando quantas vezes em seu consultório o velho especialista em diabetes teria repetido para cada cliente a “tirada” da salada.
— Se as minhas taxas de
glicose, uréia e creatinina estiverem normais, posso dar uma saidinha da dieta,
doutor? — perguntei, quase sabendo sua resposta.
— Aí é que reside o
perigo, meu colega. Você se esbalda e depois vem aqui começar todo o processo,
como nunca estivesse se tratando. Quer isso? — indagou o endocrinologista de
forma intimidadora.
Conformei-me com o
veredicto médico e saí do recinto da clínica matutando com meus botões: “Vou tirar de letra!”. É que já
estava, há um mês, adaptado à dieta magra e insossa complementada com
biscoitinhos “diet” que me fizeram
perder, até agora, cerca de 1,5 quilos. Olhando para a barriga constato que, por
enquanto, as calças vão dando para usar, necessitando apenas afivelar o
cinturão um buraquinho adiante.
Os poetas dizem que não percebemos
que morremos aos poucos à medida que paulatinamente um prazer hedônico nos é
tirado. Mas a vida pode ser suportável e bem vivida sem os prazeres da gula
natalina. Por que não?
Na minha imaginação já estou
em plena ceia de Natal, cercado de convidados a me indagar: “Você ficou sem comer por quê?”. “Não posso, fazer o quê?” — respondo. “Mas só um pedacinho, não vai fazer mal.
Prove?”. Os ritos da preparação da ceia causam-me azia. Entre castanhas,
figos, passas, nozes e amêndoas confeitadas, farofas gordas e douradinhas
recheadas de miúdos de peru, encontro meu vidro de antiácido, abro-o e tomo uma
dose.
E não é que a salada de
frutas adoçada com “Zero Cal” que degustei lentamente estava com sabor de mel!
Pretendendo acalmar o meu
olfato e meu paladar na esperança de que o odor expelido dos pratos de
guloseimas natalinas não invada o meu sono após a meia noite, sorvo rápido um
copo de suco de maracujá. Diz a medicina popular que a polpa dessa fruta é um tranquilizante
natural excelente para diabéticos.
Por Levi B. Santos
Guarabira, 15 de dezembro de 2014
Link da Imagem: combichocarpinteiro.pt
3 comentários:
Caro Levi,
Aqui em casa a nossa ceia natalina deverá ser bem simples e, provavelmente, sem carne. A saúde de minha esposa anda bem preocupante devido à obesidade e outros problemas decorrentes de uma má alimentação e do excesso de peso, além da artrose: altas taxas de colesterol, triglicerídeos, glicose e esteatose hepática. A cirurgia bariátrica dela está marcada para 13/01 aguardando apenas a auditoria médica da Unimed autorizar. Nessa luta, a qual envolve também a parte financeira, estamos nos abstendo de muitas coisas. Aí pensei em fazer uma macarronada de arroz da Urbano (sem glúten), suco de uva e frutas. Mais saudável que frango ou peru...
Abraços e feliz Natal!
É isso aí, Rodrigão e esposa
As nossas ceias vão ser muito parecidas: coloridas, saudáveis, sem excesso de açúcares e gorduras, mas dentro de um clima de muita paz e serenidade.
Faço votos de que o Natal light de 2014, que irão comemorar, seja um dos melhores da vida de vocês. (rsrs)
Caro Levi,
Como foi de Natel?
Posso dizer que o nosso, embora o mais humilde e restrito de todos meus 38 anos, esteve mais próximo da "manjedoura", lembando aqui da mensagem que havia escrito no meu blogue. Ainda assim, saímos um pouquinho da dieta tendo eu comprado umas bananadas e uns dois bolinhos da Panco para comer com Núbia.
Aproveitando a oportunidade, desejo-lhe boas entradas de ano novo. Tudo de bom!
Um abraço.
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