Um mosquito, originário do Egito
(África) tem, desde os primórdios, feito do Brasil a sua morada
predileta. Muito bem conhecido dos habitantes do Brasil Colonial e
Republicano, o “Aedes Aegypti”
adaptou-se definitivamente ao nosso clima e nosso sangue. Segundo
cientistas do Instituto Oswaldo Cruz – Rio de Janeiro, esse
mosquitinho de pernas listradas aportou em nossas terras no século
XVII, trazido por navegadores e seus navios negreiros. Na sua
primeira versão, em 1906, o pequenino inseto foi o transmissor da
febre amarela, que tanta celeuma causou na capital da recente
república.
O sanitarista Oswaldo Cruz,
não conseguiu banir o mosquito das terras de Dom João VI,
mas teve o grande mérito de descobrir e administrar nos colonos a
vacina contra a febre que grassava de forma epidêmica fazendo muitas
vítimas. Enfim, esse incansável médico bacteriologista, enfrentou e venceu a resistência da
população que porfiava contra a sua fatal vacina. Querendo ou não querendo
foram todos imunizados, inclusive, com o uso da Força Policial.
Ficamos, dessa forma, livre de Febre Amarela.
Até 1980 não se conhecia casos
de Dengue no Brasil, tanto é, que nas Faculdades de Medicina essa
doença não fazia parte da grade curricular de estudos por parte de
professores e estudantes.
A OMS em 1958 chegou a afirmar
que o Brasil estava livre do Aedes Aegypti.
Em um país com dimensão continental como o nosso, não seria muita
ousadia ou temeridade afirmar que o fatídico mosquito teria sido
exterminado por completo?
Para surpresa nossa, em 1981,
foi confirmado a presença de uma muriçoca de pernas listadas no
norte do país, precisamente, em Roraima. Lá estava o mosquitinho
tão conhecido e estudado por Oswaldo Cruz hibernando na maior
floresta do mundo, a amazônica. E aí, foi fácil descobrir que a
febre epidêmica que fazia muitas vítimas, a partir do Pará, estava
sendo transmitida pelo inarredável pernilongo de bandeira
“verde-amarelo-anil”, transmissor da extinta Febre Amarela.
Quem diria que, hoje, apesar dos
vastos recursos tecnológicos e científicos existentes, esse
mosquitinho de pernas alvi-negras (corinthiano ?, santista?) iria
atormentar os paulistanos? Plagiando a letra da canção “Teresinha”
de Chico Buarque, o Aedes chegou sorrateiro e se
instalou feito um posseiro dentro dos lares . Após infectar todo o
norte e nordeste, o Aedes se enfastiou da região árida e
quente, mudando a sua Central de atuação para a “cidade-coração”
do país ― São Paulo
(quarta maior metrópole do mundo). Por enquanto, o mosquito bem
abrasileirado vai repassando para o homem quatro tipos de Dengue, um
deles fatal: o hemorrágico. Como na antológica canção paulista,
“SAMPA”, de Caetano Veloso, o mosquito vive cruzando diariamente
a Ypiranga e a avenida São João com a maior naturalidade. Plagiando
o começo de umas das estrofes de “Sampa”, o sem-vergonha do
mosquito que se naturou brasileiro, ataca, sem dó e sem piedade, o
povo oprimido nas filas, vilas e favelas.
O rei Salomão, que a Bíblia
considera o ícone da sabedoria, já dizia: “nada
há nada de novo debaixo do sol”. O mosquitinho
que resolveu fazer seu ninho no Brasil, obrigando Oswaldo Cruz a
pedir auxílio das forças policiais para combater a Febre Amarela
nos idos de 1907 é o mesmo que, hoje, tem as Forças do Exército no
seu encalço. Há cerca de quinze dias, a Secretaria
Municipal de São Paulo reconheceu que vive uma epidemia de Dengue,
pedindo urgentemente ajuda das Forças Armadas Federais.
Pelos parâmetros da OMS o
índice de 300 casos por 100.000 habitantes configura uma epidemia. A
taxa de incidência de Dengue na capital Paulista, chegou neste
início de maio a 340 casos por 100.000 habitantes.
Para embananar mais a cabeça dos
infectologistas, o Aedes acaba de fazer uma parceria com o
vírus, Chikungunya,
originário de Angola e Tanzânia. Por enquanto esse tipo de infecção
viral, com sintomas parecidos com os da Dengue, porém menos
intensos, grassa no nordeste do país.
O arrocho fiscal recentemente
promovido pelo governo federal, com cortes de verbas nos já
combalidos serviços de saúde, com certeza, deixará o “mosquito
bem brasileiro” leve e solto. Sem ser incomodado, em
pouco tempo, poderá reinar absoluto do Oiapoque ao Chuí.
Por Levi B. Santos
5 comentários:
Afinal de contas, por onde andou o tal mosquito até 81? E agora, em pleno século 21 padecemos de epidemias de dengue, o que é um absurdo. Este ano o mosquito deu uma pequena trégua aqui no Rio, e não tivemos epidemia, mas os casos ainda são altos.
É, Levi, parece que o mosquito se naturalizou mesmo.
Olá, amigos. Não sou da área de saúde, mas, tendo em vista que os problemas da dengue parecem não ter fim, será que essa doença já não poderia ser considerada hoje como uma endemia ao invés de epidemia?
Dando uma olhada na bibliografia médica sobre o aedes aegypit, podemos constatar que a Organização Pan-americana de saúde e a OMS juntas coordenavam um eficiente programa de erradicação do mosquito em toda os países das Américas, no tempo em que as equipes de agentes federais da SUCAM faziam uma varredura pra valer na zona rural, controlando com mão de ferro e uma vigilância nunca vista, os focos do mosquito responsável pela transmissão da F. Amarela, assim como do mosquito Anopheles Gambiae, transmissor da malária. Foi a partir de 1980 - 81, que o governo central relaxou a vigilância sanitária nas regiões suscetíveis à proliferação desses tipos de mosquitos.
Agora, Eduardo, com o sucateamento dos Serviços de Prevenção das Doenças Infecto-contagiosas, a coisa degringolou, a tal ponto, que a Hanseníase e a Tuberculose que eram rigidamente controladas, inclusive com um organograma de visitas domiciliares de profissionais da saúde pública, supervisionados regularmente por infectologistas do Ministério da Saúde, estão atingido índices nunca vistos. A estadualização e a municipalização da saúde, que tiveram início na década de noventa, deixaram a área de saúde pública preventiva completamente abandonada.
Enquanto os responsáveis pelo “faz-de-conta” da ex-área de Saúde Pública continuarem brincando de medicina, o mosquito da Dengue continuará a reinar incólume em nossas terras. Infelizmente, esta é a realidade nua e crua.
Quanto ao seu questionamento, Rodrigão
Não sou especialista em Saúde Pública. Mesmo assim vou dar o meu pitaco. (rsrs)
Entendo que a epidemia tanto pode ocorrer no nível municipal (atingindo todos os bairros) como em nivel estadual(atingindo muitas cidades) e inter-estadual. A epidemia leva em consideração a quantidade de casos por cem mil habitantes de uma determinada área. Já a endemia, não tem a ver com a quantidade de casos diagnosticados em determinado local e sim com a persistência de casos da doença em determinada região. Exemplo: há locais na região amazônica em que a dengue é endêmica.
Obrigado pelo esclarecimento, Levi.
Pior de tudo é sabermos que, no nosso Brasil, a corrupção continua endêmica.
Ótimo final de semana!
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