“Quem
pode fazer o bem e não faz comete pecado” ―
afirmou São Tiago, em seu evangelho. O apóstolo, São Paulo, por
sua vez, evidenciou em sua epístola aos Romanos que o amor
estaria acima da Lei.
O místico da primeira
escolástica, Hugo de São Victor, fez uma categórica afirmação:
“Nós amamos a Deus e Lhe servimos mas não buscamos nenhum
prêmio, pois não queremos passar por mercenários. Amamos
com um amor puro, desinteressado e filial e nada procuramos. Que Deus
decida se lhe apraz dar-nos alguma coisa; de nossa parte nada lhe
solicitamos. Nós o amamos, mas nada procuramos, nem mesmo Aquele a
quem amamos.”
Não esqueçamos, porém, da
versão mundana do dito de São Francisco de Assis: “...É dando
que se recebe”. Segundo o psicanalista Flávio Gikovate, esse
refrão (tão usado e vezado no meio político – grifo meu), pode
indicar a disposição de dar de si e se dedicar a alguém (ou um
grupo – grifo meu) com o objetivo de receber o tratamento que
gostaria.
O leitor(a) a essas alturas deve
estar se contorcendo, com essa história de amor desinteressado,
achando, talvez, que ele não exista.
Está posta então, a questão:
existe ou não existe o amor desinteressado?
Para a Psicologia Profunda, mesmo
que seja “desinteressado”, esse amor, exige uma gratificação
que não precisa, necessariamente, ser retribuída na mesma moeda.
Atualmente, nos meios de
comunicação, as pedaladas
fiscais que o governo deu com a finalidade de não
deixar os bolsistas a ver navios, vêm ocasionando um acalorado
debate. Melhor explicando, O TCU não quer dar o aval à inusitada
operação posta em prática pela maior autoridade da nação: a de
realizar créditos fictícios ou sem lastro nas contas dos
necessitados do “bolsa família”, à revelia da Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Andei pensando com os meus botões
sobre a vexatória situação dos beneficiários do Bolsa Família,
quando no calor da campanha (2014) pela reeleição da presidenta,
correram o sério risco de não receber seus proventos, pois o
orçamento governamental encontrava-se estourado. Pergunta-se: O
governo e seus conselheiros mais fiéis, agiram ou não por amor,
quando, para não deixar os pobres sem o seu pão de cada dia,
recorreram a um artifício acima da Lei para contornar o grave
problema?
Muitos condenam o Governo por
aplicar dinheiro em outras instâncias de seu interesse, cobrindo um
santo e descobrindo outro. Mas como estamos em um país cristão,
respaldado nos evangelhos, sabemos que isso é coisa para se deixar
vir às claras por ocasião do Julgamento Final, onde cada alma vai
dar conta de si e ter pesadas suas obras. Depois de satisfeito o seu
desejo, o governo então diria ao Supremo Juiz: os recursos para as
pedaladas saíram dos bolsos da minha grande comunidade de fiéis. A
bicicleta não é minha, é do povo que me elegeu; eu apenas pedalo
nela pra sobreviver e para ser vista como uma grande equilibrista na
grande arena política do segundo maior país cristão do mundo.
Quem sabe se Ele, comovido pela
fraqueza que permeia o humano, não diria ao apagar das luzes: Eu
Sou brasileiro, perdoada estais!
Por Levi B. Santos
3 comentários:
Bom dia, Levi! Acho que para a onisciência divina, não escapam os fatos anteriores às pedaladas fiscais relativos à corrupção e à má gestão do dinheiro público que levaram as finanças do país a uma situação bem crítica a ponto de obrigar nossa presidenta a "pedalar". Que o povo como juiz dos políticos nas eleições saiba levar em conta essas injustificáveis falhas do PT e escolha uma opção que realmente seja adequada para substituir os que hoje se encontram no poder sem, obviamente, trocar o seis por meia dúzia. Um abraço.
Mas aí, Rodrigão existe mesmo no mundo político e nas demais áreas, esse tão propalado "amor desinteressado?"
Mesmo com as melhores intenções, no nosso mundinho de relações quando se diz é dando que se recebe lá no fundo, não há um desejo inconsciente de receber algo em retorno, nessa vida ou em outra? Contudo, havendo tal causa-efeito por trás das boas intenções, como arrematei no final do texto postado, o Grande Outro dirá: Sou brasileiro, perdoado estais (rsrs)
Considerando a nossa ambiguidade, o egoísmo humano e também o fato de sermos partes de um conjunto, penso que o interesse convive com o desinteresse. Se pensarmos bem, não há como alguém viver só para si pois, mesmo que conquiste tudo o que desejava, sentirá a necessidade de atrair o outro para que de alguma maneira participe de sua obra e de seus feitos. Mas, se a pessoa decide fazer o caminho inverso, tornando-se um doador, ainda assim terá momentos em que sentirá o desejo de não ser esquecido e amado. Aliás, o próprio Cristo Jesus não teria agido de tal maneira quando foi ungido em Betânia justificando o ato da mulher perante Judas ou pediu que os discípulos celebrassem a Ceia em memória dele? Nos evangelhos, o Filho do Homem deseja estar novamente reunido com os seus amigos no Reino do Pai.
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