Uma
recente carta
recheada de lamúrias e descontentamentos atribuída ao
vice-presidente da República, Michel Temer, foi motivo de
intensa repercussão, as mais humoradas, nas redes sociais. A carta
está eivada de expressões daquilo que na psicanálise freudiana
denomina-se “ressentimento”.
E por falar nesse tipo de afeto, não poderia deixar de expor, aqui,
o que diz a Psicanalista da PUC de São Paulo, Maria Rita Kehl,
em seu preciosíssimo livro “Ressentimento”
[Editora Casa do Psicólogo – página 19]:
“O
ressentimento é uma cobrança indireta de um bem cedido ao outro por
submissão ou covardia. Instalado no lugar do queixoso o ressentido
não se arrepende: acusa. Sua reivindicação não é clara: ele não
luta para recuperar aquilo que cedeu e sim para que o outro reconheça
o mal que lhe fez. No entanto, não espera obter reparação: o que
ele quer é uma espécie de vingança.”
A Psicanalista austríaca,
Melanie Klein, também da linha freudiana, dedicou-se de corpo
e alma à análise psíquica de crianças, tirando muitas lições da
ambivalência já presente no bebê ―
esse pequeno ser que, totalmente dependente da mãe, se lambuza de
prazer quando no seu colo é aconchegado e amamentado, e por vezes
sente desprazer ou chora de raiva quando deseja mamar e não é
prontamente atendido.
Nas redes sociais a carta de
Temer refletiu, em suas tiradas carregadas de humor, exatamente o
que a psicanálise fala sobre esse afeto, que tem início em nossa
tenra infância, como bem demonstra o jornalista, Ricardo Pereira,
em seu Twitter: “Já escrevi uma carta semelhante a do Temer.
Tinha sete anos. Para o Papai que não trouxe o autorama que pedi”.
[#CartaDoTemer]
Maria Rita kehl, em seu
expressivo livro, vai mais fundo, evidenciando que esse afeto,
mesmo em intelectuais adultos, já bem vividos no campo do
relacionamento político, não deixa de pregar-lhes peças, até em
público, como foi a missiva do vice de nossa República, que bem
poderia ter por título, “Carta
a Mãe”:
“Uma das condições
centrais do ressentimento é que o sujeito estabeleça uma relação
de dependência infantil com um outro supostamente poderoso a quem
caberia protegê-lo, premiar seus esforços, reconhecer seu valor. O
ressentimento também expressa a recusa do sujeito em sair da
dependência: ele prefere ser protegido ―
ainda que prejudicado —
a ser livre, mas desamparado.” [“Ressentimento” ―
página 14].
Por Levi B. Santos
Guarabira, 09 de dezembro de 2015
Site
da Imagem: materna-idade,blogspot.com
7 comentários:
A carta do Temer lembrou-me o personagem Kiko do Chavez. (rsrsrs)
Ele seria o Kiko do Jaburu...
Mas falando serio. Se nao foi uma falha da assessoria do vice-presidente, fica dificil tentar entender o que ele pretende obter com essa carta ridicula. Na verdade, Temer nao mascara qua agora interessa a ele e ao seu PMDB caracterizar um afastamento do governo e passar pra oposicao.
Rodrigão
O indivíduo ressentido (aquele eternamente infantilizado que morre de medo de perder o precioso líquido que suga das tetas da Mãe Gentil) adora assumir a posição de vítima. Ele nunca diz: Eu me enganei, só sabe dizer: Eu fui enganado (rsrsrs)
No caso do Temer, tenho duvidas se ele ou o seu PMDB foram mesmo enganados. Tentando ler nas entrelinhas psicanaliticas, a missiva mostra o grau de maturidade do nosso vice-presidente. Essa lamuria toda nao da a entender o que ele de fato deseja? Pode ser que algo do inconsciente vazou... Mas como seria diferente se os peemedebistas passaram tres mandatos e quase um quarto de mandato se beneficiando com o PT? Teria ele algo que nao fosse aquilo pra dizer?
“Mas como seria diferente se os peemedebistas passaram tres mandatos e quase um quarto de mandato se beneficiando com o PT? Teria ele algo que não fosse aquilo pra dizer?” (Rodrigo)
A criança autora da “Melosa Cartinha”, como toda criança, é muito astuta: seu compromisso é a eterna dependência. Com referência ao autor da carta: seu compromisso é ficar à sombra do Poder. A astúcia, nesse caso, se resume em dar uma no cravo e outra na ferradura. Ao agradar a gregos e troianos, quem for o ganhador lhe recompensará. Então ele fica nesse movimento pendular (que varia de acordo com as circunstâncias): ora aparece na carruagem oposicionista, ora faz juras de amor eterno a sua Mãezona.
É assim que funciona a Democracia na nossa República (agora denominada de República do Pixuleco). Isso vem de longe. As trapalhadas encenadas pelo primeiro presidente de nossa triste História - Deodoro da Fonseca e seu Vice Floriano Peixoto, não me deixam mentir. (rsrs)
E hoje ele foi chamado ate de presidente pela Dilma quando a matriarca do governo disse que nao vai se meter nos assuntos do PMDB. Acho que o equivoco foi proposital da parte dela.
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