10 abril 2016

É Tempo de Rever Justo Veríssimo


Site da Imagem: coisasdecajazeiras.com.br


Nunca antes na história de nosso país” um humorista retratou tão bem o nosso risível cotidiano quanto Chico Anysio(no dia 12 de abril de 2016, completaria 85 anos). Para caricaturar os diversos tipos do “homem cordial brasileiro” dentro da sociedade, o rei dos humoristas criou mais de duzentos personagens.

Para quem não lembra, foi nos anos de chumbo da ditadura militar que, Chico, com ousadia incomum, criou o personagem Justo Veríssimo. Segundo David Rêgo, antropólogo e cientista político da UFRN, esse personagem foi inspirado a partir de uma conversa que Chico teve com Alceu Valença. O cantor e compositor pernambucano revelou ao humorista que em seu Estado havia um político que tinha horror a povo. O certo é que o “Eu quero é que o pobre se exploda!”, dito pelo deputado caricaturado, de forma ríspida, no final de suas aparições na TV, ficou conhecido nacionalmente como um dos mais risíveis e incisivos motes inventados pelo insuperável comediante. “Ao criar o personagem, Chico não tinha como intenção profetizar a respeito daquilo que aconteceria no Brasil” concluiu o cientista político da UFRN, em um artigo publicado em 13 de abril de 2015 no site cartapot!guar, sob o título Chico Anysio, Justo Veríssimo e a Caricatura da Política Nacional”.

No vídeo “Justo Veríssimo e a Corruptocracia” colhido no Youtube e replicado abaixo, o maior humorista de Nossa História, faz uma sátira irretocável desse tipo de parlamentar, quando ainda não se sonhava com mensalão, petrolão nem Operação Lava Jato. A sátira política na pele do corruptocrata Justo Veríssimo, na verdade, ratifica o que disse a filósofa política alemã de origem judaica, Hannah Arendt, no seu antológico livro, A Condição Humana: O desaparecimento do senso comum nos dias atuais é o sinal mais seguro da crise atual. Em toda crise é destruída uma parte do mundo, alguma coisa comum a todos nós.”

O rei, sábio e poeta bíblico, Salomão, evidenciando que tudo na vida é cíclico, como quem caminha num círculo e está sempre pisando por mares antes navegado, já dizia: “Nada há de novo debaixo do Sol”.

No vídeo postado, são imperdíveis as falas (aliás de fundo psicanalítico) de dois alunos do mestre em Corruptocracia, quando fazem uma revelação que Freud vivo fosse assinaria embaixo, sobre o “jeitinho bem brasileiro de levar vantagem em tudo”(A famosa Lei do Gerson). Sobre a nossa perversa tendência hereditária-cultural de querer levar vantagem em tudo e ser condescendente com atos antiéticos, a psicanalista Inez Lemos, em um artigo ao site “em.com.br/Política”, fez essa contundente observação:

Faltou-nos o significante paterno aquele que opera como referência simbólica na estrutura do sujeito”.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 10 de abril de 2016


Um comentário:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

A corrupção quando levada ao extremo numa sociedade não só produz uma crise como expõe uma situação de insustentabilidade. Chega o momento em que já não ha mais como prosseguir e as pessoas precisam estabelecer um código de conduta entre elas mesmo que com injustiças e o domínio do mais forte. É como ocorre numa cadeia em que condenados da Justiça precisam se reorganizarem sob as "leis" dos próprios criminosos. Todavia, viver numa sociedade injusta não é o que desejamos nem pra nós ou nossos filhos.

Muito bom rever o Chico Anysio. Foi, sem dúvida, um grande mestre do humor.