23 maio 2016

As Duas Almas do Lulismo: Um Olhar Psicanalítico

As duas faces do Deus Romano Janus (museu do Vaticano) – simbolizam o dualismo sobre-humano das ideologias


O conceito de inconsciente criado por Freud fez cair por terra a soberania da consciência. A descoberta de que o nosso complexo “eu” não era mais detentor daquela aura de superioridade que se pensava até então, terminou por provocar uma reviravolta nos campos da ciência, religião, filosofia e política. O determinismo do inconsciente tomou a expressão javélica “Eu Sou o que Sou!” para si, deixando a esfera da consciência ao sabor de suas influências, como bem afirmou Erich Fromm em O Medo à Liberdade”: “O homem moderno vive na ilusão de saber o que quer, quando de fato ele quer o que se supõe que deva querer”.

Foi no decorrer de 1970 que o filósofo marxista Louis Althusser, para explicar os raízes psicológicas dos conflitos de natureza ideológica, trouxe para o campo da Teoria Ideológica os conceitos freudianos como, inconsciente, mecanismos de defesas psíquicos, o Superego e as identificações imaginárias que começam a se formar após os primeiros cinco anos de idade. Chegou-se a conclusão de que o substrato psíquico denominado inconsciente tem um papel preponderante na constituição do sujeito. Por essa ótica, as vinculações ou fantasias infantis reprimidas seriam responsáveis pela socialização dos desejos numa idade mais madura do indivíduo. Nos iludimos quando imaginamos que podemos livremente escolher e ficar com o “polo aparentemente bom” de nossa ambivalência psíquica. Vez ou outra, sem que percebamos, lá estamos a nos identificar com o polo antagônico de nosso aparelho psíquico, constituído de afetos negativos que publicamente repudiamos. A identificação com a pessoa que não queríamos ser, é uma espécie de desmascaramento que o inconsciente nos prega enfim, uma verdade inconveniente que geralmente é rechaçada pela consciência para que o indivíduo agarrado monoliticamente a uma de suas dúbias almas, não sofra.

Geralmente demonizamos os nossos afetos negativos. Freud deu o nome de mecanismos de defesa aos atos instantâneos que sempre nos leva a deslocar ou projetar o nosso lado sombrio no outro que estranhamos. O poeta Olavo Bilac imortalizou em versos o conflito ou antagonismo entre essas duas almas: “E no perpétuo IDEAL que te devora/Residem juntamente no teu peito/Um demônio que ruge e um deus que chora.”
Xenofonte (430 a.C.), em termos metafísicos expressou muito bem a velha ambivalência dos afetos: “...Ó Ciro, estou convencido que tenho duas almas; quando a alma boa domina passo a praticar ações nobres e virtuosas; mas quando a alma má predomina, sou constrangido a praticar o mal.”

Na psicanálise, a expressão freudiana “ideal do eu” está no epicentro de todo o pensamento ideológico. “Do ideal do eu parte um importante caminho para compreensão da psicologia coletiva. Este ideal tem, além de sua parte individual, sua parte social, que é também o ideal comum de uma família, de uma classe ou de uma nação” escreveu Freud em “Introdução ao Narcisismo”.

André Singer, porta-voz da presidência da república (2003-07) em seu livro Os Sentidos do Lulismo”, faz uso de linguagem metafórica (ou porque não dizer psicológica?) para dissecar as duas almas (ou polos ambíguos) que habitam a psique petista. Aos polos paradoxais da ambivalência lulista ele deu os nomes: “espírito de Sion” e “espírito de Anhembi”. Por “espírito de Sion” entenda-se o anseio aguerrido de forte teor anticapitalista presente no coração dos militantes que frequentavam as salas do colégio Sion em Higienópolis (São Paulo) - na segunda metade dos anos 1970 – local onde a maioria da juventude reivindicava uma sociedade sem patrões. O “espírito de Anhembi” caracterizava a segunda alma do PT, que tem na “Carta ao Povo Brasileiro”(junho de 2002) um Lula se comprometendo com as exigências do capitalismo (época do Lulinha Paz e Amor), tanto é que agregou como vice de sua chapa um empresário do partido Liberal, o mineiro José de Alencar. Essa alma paradoxal do lulismo, através de um processo sutil de identificação, estaria a flertar com o neo-liberalismo praticado por FHC.

Segundo André Singer, a guinada do Lulismo para a direita na campanha pela presidência da república em 2002 deixou atônita boa parte da esquerda petista. Por incrível que pareça, foi a segunda alma do lulismo com vestes de direita, que levou as camadas mais escolarizadas a elegê-lo para o primeiro mandato: 32% dos votos obtidos por Lula em 2002 foram daqueles que ganhavam mais de dez salários mínimos, e 28% dos que ganhavam em torno de cinco salários. A parcela dos pobres (até dois salários mínimos) contribuiu apenas com 15% do total de votos adquiridos por Lula. (Fonte: Datafolha).

No segundo mandato de Lula (2006) as classes (abastada e média) que o elegeram em 2002 abandonaram o barco petista. A decepção provocada pelo mensalão, sob o lema enganoso de Zé Dirceu (O PT não rouba nem deixa roubar), foi responsável pela debandada da classe média. Ocorreu então uma inversão: o lulismo deslocou-se da metade superior da pirâmide para a base (população de baixa renda). O estilo individual de ascensão social levou os mais pobres a fazer vista grossa ao moinho da corrupção nas altas esferas da coalizão petista. O eleitorado menos escolarizado do Nordeste (reduto pertencente ao PMDB) que não aprovara o lulismo no primeiro mandato, nessa nova edição deu a vitória a seu maior expoente.

No dizer de André Singer, “os dois mandatos de Lula à frente do executivo formaram síntese contraditória das duas almas que hoje habitam o PT. Foi o fato de ter sido viável promover simultaneamente políticas que beneficiavam o capital e a inclusão dos mais pobres, com melhora relativa na situação dos trabalhadores, que permitiu a convivência dos espíritos de Anhembi e de Sion”.

A militância entusiasmada petista, polarizada na alma ou espírito de Sion nos anos 1980, apregoava a apropriação social dos meios de produção e uma utópica sociedade sem patrões. O arrefecimento nas suas hostes, hoje, creio que se deve mais a compreensão de que as duas almas do Lulismo poderiam coexistir sem turbulências ou maiores atritos. Os argumentos ideológicos (de direita e de esquerda) por mais dissonantes que pudessem ser, bem que poderiam conviver pacificamente com as forças do mercado, desde que as facções dos idealistas não viessem a se lambuzar no farto mel nem se atrevessem a ir com muita sede ao pote.

Em suma, numa leitura freudiana, o “espírito de Sion” seria nada mais nada menos que resquício de um poderoso afeto da vivência primeva do indivíduo, uma espécie de ressonância do vínculo paterno a que estavam ligados indissociavelmente na tenra infância. Por um processo psicológico de identificação/deslocamento, o poder paterno estaria representado pelo Estado: ele seria o eterno provedor das massas inflamadas. Já o “espírito de Anhembia segunda alma do lulismo , corresponderia àquela fase de rebeldia (adolescência) onde a rua, e não mais a casa ou o lar, é que tinha o condão de atrair os meninotes do meu tempo para o campo do liberalismo com suas luzes, seu maravilhoso mercado de troca de Gibis e de revistas novelescas da Abril Cultural, além de uma parafernália de objetos que estimulavam o desejo prazeroso de possuí-los. Eu diria, até, que o espírito do Anhembi foi o grande responsável pelo deslumbramento da pós-modernidade. Como o homem é um animal contraditório por natureza, um fato não se pode negar: às vezes, o espírito de Sion entra sorrateiro na sala do pensamento do sujeito, provocando uma pungente nostalgia, tal qual um grito saído da boca dos ancestrais a invocar o primitivismo latente mas não morto que habita os porões sombrios de sua psique.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 23 de maio de 2016

Site da Imagem: quiltsareforever.blogspot.com

13 maio 2016

Novo Presidente Evoca o Positivismo




O Positivismo, sistema filosófico criado pelo francês Auguste Comte em 1852, pretendia dar ares de ciência aos pensamentos metafísicos da religião. Republicanos de nossa história, como Benjamin Constant e Cândido Rondon foram ardorosos seguidores dessa corrente humanista.

Segundo a doutrina positivista o ser humano passava por três fases. Na primeira fase (Teológica) os fenômenos naturais e sociais eram percebidos como ações divinas. A segunda fase (metafísica) abrangia o estágio em que o indivíduo, pela reflexão, interpretava o mundo através de conceitos abstratos. A terceira fase (Positivista) compreendia o estágio mais avançado em que os fenômenos eram bem mais dissecados, através de elaborações preconizadas pela metodologia científica.

Da célebre frase cunhada por Auguste Comte, “o Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim” foi derivado o lema Ordem e Progresso” que adorna nossa bandeira nacional.

Hoje, em plena pós-modernidade, ecos da construção filosófica Comteana ainda emite seus eflúvios. Influências do positivismo, por exemplo, inspiraram recentemente Michel Temer a adotar o logotipo para seu curto governo em meio a uma crise sem precedentes: A logomarca “Pátria Educadora” que servia de pano de fundo televisivo para as aparições da presidenta recém-afastada, deu lugar a um globo estrelado na cor azul sobre um fundo também azul com a faixa “Ordem e Progresso” em amarelo, tendo abaixo a inscrição “BRASIL Governo Federal” símbolo do presidente interino que pretende ir até o final de 2018.

Dizem que Religião e Política não se misturam: são como o óleo e água. Mas só mesmo o Michel Temer, no alto de seu último estágio compreendido por altas e profundas elaborações metafóricas(Positivismo), é quem sabe as motivações reais que o levaram a tecer considerações “temerosas” sobre o tema “religião” no encerramento do seu discurso de posse:

Religião vem do Latim “religare”. Portanto quando você é religioso você está fazendo uma religação. O que queremos fazer agora com o Brasil é um ato religioso, um ato de religação de toda a sociedade brasileira com os valores fundamentais do nosso país” finalizou de forma enfática.

A filosofia positivista de Auguste Comte influenciou a nossa nascente república nos idos de 1889, ao trazer em seu modus operandi conceitos de cunho religioso para os campos da sociologia e da política. A psicanálise diz que nunca podemos estar seguros de que uma ideia que se apodera de nós é realmente nova. A instância psíquica denominada “Inconsciente” costuma pregar peças na Consciência. Quem sabe se esse mesmo pensamento positivista que inaugurou a república de Deodoro e Floriano, não está arraigado no inconsciente dos intelectuais republicanos de hoje? O próprio Temer, pode ter sido vítima das forças poderosas do inconsciente quando, poucos dias atrás ao sondar quem deveria fazer parte do seu quadro de governo, convidou um líder religioso para a Pasta da Ciência e Tenologia. Como religião e ciência aqui em nossas plagas são instâncias inconciliáveis, o novo presidente prontamente se desvinculou da ideia positivista de unir essas duas categorias: a pasta da Indústria e Comércio caiu melhor nas mãos do religioso.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 13 de maio de 2016

08 maio 2016

Na Casa de Bazinha (Nove anos atrás)







Foi muito feliz o filósofo Nietzsche, quando concebeu a ideia de que “a vida é um eterno retorno”, pois o tempo gira, gira, gira e está sempre a nos levar ao ponto de partida.

Aos sessenta anos de idade, ainda exercendo a função de médico, me vejo descansando no mesmo lugar que me serviu de pousada no inicio de minha carreira. O quarto em que residi por um bom período, tem as paredes muito altas, de reboco irregular, com cobertura de telhas antigas feitas à mão, sustentadas por “caibos” e linhas de madeira de lei. Nas noites quentes de verão, ele ficava infestado de muriçocas, atrapalhando o meu sono. Foi neste cubículo que curti as ressacas de minhas farras, de minhas aventuras, festas e namoricos no fogoso tempo dos meus vinte e seis anos.

Hoje, toda quinta-feira, após o tradicional almoço de galinha caipira, feijão mulatinho, arroz e macarrão, com sobremesa de salada de frutas, eu me recolho a este mesmo “quarto”. Ao meio-dia, lá estou eu estirado em uma rede velhinha, já um pouco puída, porém bem cheirosa, separada especialmente para mim. Ali dou o meu cochilo de uma hora e meia, para depois iniciar o batente do segundo expediente no mesmo Hospital que iniciei minhas atividades profissionais há trinta e cinco anos.

Tudo agora é vazio neste quarto. Vazia está uma estante velha de três prateleiras, instalada no mesmo canto de sempre. Era nela que guardava os meus livros de medicina. Essa estante serve hoje de suporte a um jarro grande, também vazio, na cor escarlate.

As duas velhinhas Bia e Bazinha, cabisbaixas, uma em cada canto guardando um vazio de palavras talvez pensadas, mas não ditas. De tanto tempo juntas, quem sabe, enfastiaram-se do diálogo. Na ausência de palavras só o entrecruzar dos olhares, fala por si mesmo. Sendo os olhos a janela da alma, para que conversar? Se as janelas destas duas almas gêmeas estão tão escancaradas, que as fazem se enxergar mutuamente por dentro, sem a necessidade da palavra, é porque uma é o espelho da outra. É como se estivessem a dizer entre si: “Se eu sei o que tu queres, e tu sabes o que eu desejo ─ para que falar”?


Apesar de vazio, o silêncio do meu quarto é quebrado de uma maneira quase constante, pelo barulho que vem dos carros passando na rua em frente de casa. Há 35 anos, o barulho que eu ouvia não vinha dos automóveis. Eles eram raros. A rua era mais do povo, e o que eu escutava eram restos de conversas das pessoas que passavam na calçada, junto ao velho janelão do quarto, que dava para a rua. O janelão continua o mesmo. As camadas de tinta a óleo, que a minha mãe manda dar todos os anos em sua superfície, evitaram que a madeira apodrecesse. Do lado de dentro de casa, os barulhos que ouço vem do tilintar dos pratos e talheres sendo lavados na pia da cozinha, pela velha Bazinha (apelido carinhoso de minha mãe), já meio capenga e ruim da vista. O outro barulho vem da tosse insistente de Bia (mãe de criação), portadora de uma doença cardíaco-pulmonar que a castiga há anos.

Era nesse mesmo quarto, que no inicio de minhas atividades de médico, minha mãe gostava de trazer as suas amigas mais chegadas, para se consultarem comigo. Eu ficava contrariado, pois achava que ao meio-dia, não eram horas de se ouvir lamúrias dos doentes. Além do mais, eles estavam me tirando do meu sagrado descanso na velha “rede do meio-dia”.

Hoje, a minha velha mãe, já sem amigas, pois quase todas já se foram, é a única a se consultar. E eu, meio acordado, meio dormindo, vou ouvindo os seus sintomas, que já se tornaram uma ladainha. De olhos semicerrados, vou ouvindo ela falar:

Ó Levi, eu quero que tu dê uma olhada aqui nas minhas pernas e nos meus pés.

E apontando para os lugares doloridos das pernas ela vai dizendo:

Dói aqui, olha! Aqui... Aqui...Bem aqui…

Olhando de soslaio, sem me mexer da rede vou respondendo como sempre:

Isso é reumatismo, mamãe. A Sra. não pode tomar remédios para este tipo de doença, por causa de sua gastrite. O jeito é ir levando a vida assim mesmo.

E é assim, bem junto a minha rede, após o almoço, que ela vai desfiando suas demais queixas, como se eu tivesse a varinha mágica e o poder de fazer desaparecer todas as suas dores.

Olha Levi, eu não posso caminhar nem para feira, nem para a igreja, pois fico muito cansada ─ continua falando minha mãe.

Essa sua última queixa eu valorizei, porque ela sofre de cardiopatia crônica, e não pode fazer muito esforço. Imediatamente, abaixando um lado da rede, levanto a minha cabeça e o pescoço duro afetado pela artrose, falo sério para ela:

A Sra. só pode ir à igreja ou à feira, de carro, mamãe! Numa caminhada dessas, a pé, o seu coração pode pifar. Tenha cuidado! Vou falar com Davi (meu irmão) para ele providenciar um automóvel para lhe levar a esses lugares.

Depois de consultar-se, ela se retira, e eu continuo o meu cochilo na rede do meio-dia.

De repente, mas de repente mesmo, sinto a rede balançar. Abrindo os olhos lentamente, vejo a sua mão puxando o punho da rede. É quando ouço a velha “gravação”:

Já são duas horas da tarde. Tá na hora de tu levantar. Levanta! Senão vai chegar atrasado. Tem doce de goiaba, café com biscoito e “delicia” lá na mesa.

Ela continua com aquele mesmo cuidado de muitos anos atrás, de não me deixar atrasar para o expediente da tarde. No horário exato diz: “levanta”! E eu, preguiçosamente saio em câmera lenta da minha tão confortável rede, para o mesmo e gostoso lanche que ela sempre me preparou por todo esse tempo.

Toda quinta-feira, na minha "rede do meio-dia", participo desse rito médico-sentimental. Até quando? Só Deus sabe.


Crônica por: Levi B. Santos
Guarabira, 28 de Fevereiro de 2007



06 maio 2016

A República de Volta ao Éden



Numa época de grave crise moral, política, ética e econômica em que sentimentos, os mais diversos, inflamam corações, não custa nada recorrermos a um pouco de humor para amenizar a febre que, de forma pendular, nos faz passear para lá e pra cá revisitando os polos de nossa natureza contraditória ou paradoxal, sem se fixar em nenhum deles.

Em um momento grave como este que estamos passando, nada melhor que fazer uma releitura da velha história de “Adão e Eva”, referência religiosa e mítica de nossos afetos ambivalentes. Os polos antagônicos representativos das dualidades amizade e traição, amor e ódio, vingança(ressentimento) e misericórdia, “verdade” e mentira, tais quais ondas em um mar agitado se batem sem dó nem piedade contra perigosos rochedos litorâneos.

O Colunista e escritor, Ruy Castro, na Folha de São Paulo de hoje (dia 06)nos brinda com um artigo que vem bem a calhar com os hilários e últimos acontecimentos de Nossa Republiqueta. O autor em “A História da Maçã” evoca os arquétipos antagônicos internalizados nos personagens Adão e Eva, que de forma risível mas também simbólica, estão imortalizados nas letras das marchinhas dos antigos carnavais.


A História da Maçã [Por Ruy Castro]


"Eva querida/ Quero ser o teu Adão/ Dar-te-ei o meu amor e a minha vida/ Em troca do teu coração// Hei de conquistar/ O teu amor se Deus quiser/ Custe o que custar/ Haja o que houver/ Serei capaz de qualquer prejuízo/ Mas te darei o Paraíso"– "Eva Querida", de Benedito Lacerda e Luiz Vassalo, com Mario Reis, Carnaval de 1935.

"Adão/ Meu querido Adão/ Todo mundo sabe/ Que perdeste o juízo/ Por causa da serpente tentadora/ O nosso Mestre/ Te expulsou do Paraíso// Mas, em compensação/ No teu pobre coração/ Que era muito pobre/ Pobre, pobre de amor/ Cresceu e se eternizou/ Meu Adão/ O teu pecado encantador"– "Querido Adão", de Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago, com Carmen Miranda, Carnaval de 1936.

"Papai Adão/ Papai Adão/ Papai Adão já foi o tal / Hoje é Eva / Quem manobra/ E a culpada foi a cobra// Uma folha de parreira/ Uma Eva sem juízo/ Uma cobra traiçoeira/ Lá se foi o Paraíso!" – "Papai Adão", de Armando Cavalcanti e Klecius Caldas, com Blecaute, Carnaval de 1951.

"Eva, me leva/ Pro Paraíso agora/ Se estou com muita roupa/ Eu jogo a roupa fora// Você vive bem/ Em pleno verão/ Você vai ao baile/ Até de calção/ Queria também/ Usar pouca roupa/ Mas é que a polícia/ Daqui não dá sopa" – "Eva", de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, com Marlene, Carnaval de 1952.

"A história da maçã/ É pura fantasia/ Maçã igual àquela o papai também comia/ Eu li no almanaque que um dia, de manhã/ Adão tava com fome e comeu a tal maçã/ Comeu com casca e tudo/ Não deixando nem semente/ Depois botou a culpa/ Na pobre da serpente" – "História da Maçã", idem Haroldo e Milton, com Jorge Veiga, Carnaval de 1954.

São teses que reuni para um eventual debate sobre Darwin com o bispo Marcos Pereira, provável ministro da Ciência e Tecnologia do governo Temer.  [Ruy Castro]