Não
raramente tenho tido sonhos angustiantes. Mas esse que tive
recentemente, pela gravidade do momento que ora atravessamos, talvez tenha sido o mais
estarrecedor. Não obstante, os antigos acreditarem que sonhos podem
prever o futuro, na minha cética compreensão, acompanho Freud,
quando ele diz que “todos os sonhos se originam do passado em
todos os sentidos”. Mesmo projetado num futuro, o sonho do
tempo presente tem, em seu bojo, conteúdos já experimentados e
recalcados no subsolo obscuro da mente.
Sonhei
que estava no início de julho ―
três meses antes da eleição presidencial de 2018 ―,
época em que a operação Lava-Jato, como nunca tinha ocorrido
antes, vinha funcionando de forma temerária e avassaladora. Lembro
bem da voz tonitruante que fez estremecer todo meu corpo: “já
contamos com mais de trezentos congressistas denunciados
como réus”. Manchetes dos principais jornais do país
passavam por minha mente dando conta de que nossos seis principais
partidos políticos estavam sem pré-candidatos à presidência da
república. Ninguém estava em condições de assumir o posto maior
da nação, provocando, em consequência, uma crise sem precedentes
desde que o mundo é mundo.
Em
minha visão, um senhor de longa beca preta, parecendo um dos
ministros do Supremo, saiu-se com essa: “Eu avisei! Eu avisei
que a Lava-Jato, com seu ímpeto puritano,
terminaria por inviabilizar o país!” No desenrolar do sonho
veio a minha percepção que o vaticínio do ministro teria começado
a se concretizar em uma reunião secreta, por ocasião da recusa de
um membro do Senado em assinar uma intimação enviada pelo próprio
STF, nos idos de dezembro de 2016. Um detalhe do sonho, nunca vou
esquecer: O senhor de preto, usando da ironia, cantarolava (baixinho, para
ninguém ouvir) o último verso de ―
”FESTA” ―, música funk
muito conhecida, na voz da grande intérprete baiana, Ivete Sangalo:
“...Vai rolar a festa/Vai rolar/O povo no gueto/Mandou avisar.”
De
repente, me vi em um grande salão ricamente condecorado. Um guarda
com vestes imperiais, dirigindo-se a mim, detonou: aqui você não
pode entrar, os três poderes estão se reunindo
para descascar um grande abacaxi! Depois de
vários jantares secretos nesse belíssimo salão nobre, as
autoridades levantaram-se cabisbaixas e, tomando seus valiosos
automóveis, desapareceram com destino incerto, como fantasmas
evaporando no ar. Foi quando vi uma fumaça branca subindo no céu do
planalto central brasileiro, indicando que haveria eleição para
presidente da república: Do lado de fora do prédio vi uma grande
faixa branca onde estava escrita, em letras vermelhas reluzentes, a
inscrição: “A fórmula encontrada foi uma
intervenção vinda do Céu!”. Por falar em Céu, pude escutar
uma voz cavernosa a imitar a célebre e sábia decisão de Cristo
diante dos apedrejadores da prostituta, narrada nos Evangelhos: “Quem
não tiver pecado, atire a primeira pedra”.
Perguntei ao guarda sobre o motivo dessa reunião secreta. Após olhar para frente, para trás e para os lados e não vendo ninguém por perto, segredou-me ao ouvido: Pelo placar de 9X1, ficou decidido que só os réus com até três processos é que poderiam se candidatar ao posto máximo do país. Pelo mesmo escore, também decidiram que a Lava Jato seria controlada por um Conselho, aos moldes do CNJ. Diante do caráter urgente prevalecera o bom senso de que não se deveria retardar o veredicto. Imediatamente, após a fala do guarda, vi uma enorme pomba falante passar em voo rasante sobre minha cabeça. Em todo seu esplendor, ela estava alí, bem evidente a grasnar em latim: “Periculum in mora!”
Perguntei ao guarda sobre o motivo dessa reunião secreta. Após olhar para frente, para trás e para os lados e não vendo ninguém por perto, segredou-me ao ouvido: Pelo placar de 9X1, ficou decidido que só os réus com até três processos é que poderiam se candidatar ao posto máximo do país. Pelo mesmo escore, também decidiram que a Lava Jato seria controlada por um Conselho, aos moldes do CNJ. Diante do caráter urgente prevalecera o bom senso de que não se deveria retardar o veredicto. Imediatamente, após a fala do guarda, vi uma enorme pomba falante passar em voo rasante sobre minha cabeça. Em todo seu esplendor, ela estava alí, bem evidente a grasnar em latim: “Periculum in mora!”
Em
minha mente, eu tinha a nítida percepção de que a decisão tomada
de urgência pela alta cúpula dos poderes não tinha agradado
aqueles presidenciáveis que, apesar dos fardos pesados que
carregavam nos ombros e em outros recantos, estavam na crista da onda
midiática.
Como
é comum em sonhos se pular em frações de segundo de um ambiente
para outro completamente diferente, de repente estava eu deitado no
sofá de minha sala assistindo ao Jornal da GloboNews (edição da
meia-noite), do qual, só retive na memória a última fala do
comentarista de plantão, especialista em política e economia:
“...Talvez tenha sido por
isso que o dólar subiu e a Bolsa despencou. O Mercado, as empresas
nacionais/internacionais e os banqueiros não gostaram da
solução acordada pelos três poderes. Os
que estavam de corpo e alma envolvidos em muitas
denúncias na Lava-Jato eram os preferidos do Mercado.
O Mercado temia os mais puros de
coração(os com menos de três processos): é que os
imaturos, devido a falta de traquejo
político-econômico, poderiam por tudo a perder ao
assumir o cargo de presidente da república. Os barões,
administradores dos bancos e das grandes empresas,
apesar de confiarem no espírito poderosamente
inflamável do Neo-Liberalismo, temiam que o
presidente eleito, imbuído de um idealismo edênico,
interferisse em suas futuras e obscuras
negociatas com o poder público”.
O desfecho do sonho foi
tremendamente assustador. Lembro que estiquei-me todo, ficando nas
pontas dos pés sobre o assoalho de madeira de lei, a fim de me
debater com mais vigor contra a água turva de odor irrespirável que
inundava o salão nobre. Quando me encontrava no momento de maior
agonia, lutando para que a água turva não entrasse em minhas
narinas, nauseado e completamente sem forças, acordei do meu
tenebroso sonho republicano.
Por
Levi B. Santos
Guarabira,
13 de dezembro de 2016
5 comentários:
Verdade, meu amigo, é que não sabemos quem será ficha limpa até lá. Realmente a Marina Silva passava ter alguma chance nesse cenário nebuloso assim como o Bolsonaro. Este não teria meu voto.
Verdade é que, se não houver político já condenado em segunda instância pelo TRF, muitos virão em 2018 tentando se eleger para colocar o vice no lugar, terem foro privilegiado... Enfrentar o esses bandidos não é tarefa fácil
E verdade que muitos políticos hoje réus e condenados na Lava Jato fizeram algo pelo país. Se analisarmos seus feitos do ponto de vista do que a política tem sido no Brasil, alguns deles deixaram um legado.
Mas meu sonho, Rodrigão, é imensamente aterrador, principalmente no que diz respeito a delação eterna (que não tem data certa para acabar), já cognominada de "Delação do Fim do Mundo".
Cada vez aparecem mais novidades nessa Lava Jato. Espero que o Temer consiga concluir o seu mandato. Mas se tiver que cair (hipótese remotíssima), então que seja ainda esta semana para termos eleições diretas. Pois este Congresso não possui legitimidade moral alguma.
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