Em
plena tarde do dia 07 de setembro de 1822, D. Pedro I que saíra de
Santos para resolver uma pendenga entre dois grandes partidos
políticos de São Paulo, foi surpreendido por cólicas atrozes
seguidas de numerosas evacuações intestinais. Várias vezes o
príncipe apeou-se de sua mula baia, para entre uma ida e vinda no
matagal da beira da estrada bem perto do Riacho do Ipiranga, expelir
o abundante material fecal infectado de seus inflamados intestinos,
fruto, talvez, de alimentos contaminados ingeridos com sofreguidão
no dia anterior. Foi em meio a essa agonia tremenda que, tonto e
debilitado pelo quadro de desidratação, dirigiu-se ao Padre
Belquior —, peça importante de sua pequena e simples comitiva.
― E
agora, Padre Belchior? ― disse com voz fraquinha, D. Pedro I
(pálido e suando frio, incomodado por ardências provocadas pelas
fezes ácidas).
― Não
há outro caminho, que não seja o de cortar as relações da colônia
com Portugal ― retrucou de modo incisivo, o padre e amigo, pouco
antes de receber uma missiva de D. Leopoldina que fazia referência a
um pomo maduro a ser colhido rapidamente.
D.
Pedro caminha alguns passos (trôpegos). De repente, após tomar um chá de folha da goiabeira, estanca diante dos
animais (que, provavelmente estavam comendo capim à beira da
estrada), e diz (com fala trêmula, já bem enfraquecido pela intensa
disenteria):
― Nada
mais quero com o governo Português!" [Baseado no livro '1822' - de Laurentino Gomes]
P.S.:
Segundo
a pesquisadora Cecília Helena Salles de Oliveira, “a data 7 de
setembro de 1822 não foi considerada, de início, particularmente relevante
como marco simbólico da formação da nação, nem pela imprensa,
nem pelo próprio D. Pedro”. [História Viva/Dueto Editorial]
“66
anos após o grito (que não houve – grifo meu), Pedro Américo se
ofereceu para fazer a obra e ganhou uma boa quantia pela encomenda:
30 contos de réis – como comparação, em 1888, o governo de São
Paulo aplicou 22 contos de réis na área da saúde. Na época,
muitos políticos achavam que não seria preciso pedir a alguém de
fora para fazer o quadro (Américo já vivia na Itália), mas, como
tinha amigos influentes, ele conseguiu a indicação” Na verdade o quadro 'Independência ou Morte!' foi um plágio descarado do quadro do francês Ernest Meissounier, o qual retratava a vitória de Napoleão em 1807 na batalha de Friedland [Vide:
História
Pensante]
O
grito farsesco da narrativa oficial inaugurada pelas elites em sete
de setembro de 1822, em pouco mais de sessenta e sete anos, novamente sem a
participação popular, foi encenado no Rio de Janeiro, naquilo que
denominaram
“Proclamação
da República” (15 de novembro de 1889). Do Grito (que não houve)
de D. Pedro I à badalada “Reforma Política” dos dias atuais, lá
se vão 195 anos de histórias mal contadas.
Levi B. Santos
Guarabira, 06 de setembro de 2017
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Levi B. Santos
Guarabira, 06 de setembro de 2017
Um comentário:
Boa tarde, Levi.
Replicando aqui o que já havia antes comentado em sua postagem no grupo Confraria dos Pensadores Fora da Gaiola do sítio de relacionamentos Facebook, realmente esse é um capítulo pouco conhecido da nossa História.
Entretanto, apesar do grito do Ipiranga ter ocorrido de um modo nada heroico e sem a participação popular naquele momento, não podemos esquecer que já havia na antiga colônia anseios pela emancipação política de Portugal e que várias partes do Brasil passaram pelas guerras pela Independência. Foi o que lembrei hoje na postagem que fiz em meu blogue pessoal.
Já a República eu considero que foi mesmo um golpe civil-militar sem uma participação maior da sociedade. De qualquer modo, a atitude de D. Pedro tem a ver com a frase “façamos a revolução antes que o povo a faça” atribuída mais de um século depois ao governador de Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrada.
Ótimo feriado ao amigo!
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