Na
cerimônia de posse do presidente republicano, Donald
Trump,
a pastora Paula White fez, em oração, esse pedido:
“Deus misericordioso, revele ao nosso presidente a capacidade de
conhecer
a vontade, a sua vontade, a confiança para nos liderar e a COMPAIXÃO
para ceder ante os nossos melhores anjos.”
(Vide
lin).
Em seu discurso de posse, Trump bradou: “Essa carnificina americana termina aqui e agora!”. As tiradas de cunho xenófobo do presidente recém eleito, não se constituem surpresas: as profecias anunciadas durante sua campanha já tratavam do pacote de maldades que viria à baila, assim que o resultado das eleições fosse oficialmente confirmado.
Em seu discurso de posse, Trump bradou: “Essa carnificina americana termina aqui e agora!”. As tiradas de cunho xenófobo do presidente recém eleito, não se constituem surpresas: as profecias anunciadas durante sua campanha já tratavam do pacote de maldades que viria à baila, assim que o resultado das eleições fosse oficialmente confirmado.
O
“novo-velho” messias da hipermodernidade americana, em seus
discursos fundamentalistas, prometia devolver a “Terra
Prometida” aos americanos, ao mesmo tempo, cheio de empáfia,
ameaçava expulsar e devolver os imigrantes a seus países de origem.
Achando pouco, para gáudio dos ”compassivos” da nação que
o apoiou, fomentava a construção de um muro de separação na
fronteira de seu reino com o México.
A
prece da pastora implorando a Deus o derramamento da compaixão no
coração empedernido de Trump trouxe a minha memória dados
estatísticos sobre esse afeto à moda americana que o escritor e
historiador inglês, Theodore Zeldin, em “Uma História Íntima da Humanidade” (obra antológica escrita há mais de
setenta anos), tão bem dissecou. Saliente-se que as referências
estatísticas desse autor, apesar de serem antigas, na atualidade
permanecem praticamente incólumes. Sobre a Compaixão Americana,
disse Theodore, de forma contundente:
“Hoje
em dia, 45% de todos adultos se engajam em trabalho voluntário,
ajudando os outros pelo menos cinco horas por semana. Mas a maior
parte deles(54%) acredita que as pessoas, em geral, atraem
sofrimentos e que a caridade não é uma resposta, mas apenas um
curativo temporário. Dois terços dos americanos consideram
importante não se envolver muito nos problemas alheios: antes de
tudo, convém cuidar de si mesmo e, se ainda lhe restar força, então
ajude os outros. […] Ficou demonstrado que os frequentadores de
igrejas não são mais compassivos do que aqueles que não as
frequentam; não param para prestar socorro a um garro enguiçado nem
cuidam de parentes idosos com mais frequência. Alguns apreciam
aquela sensação de 'amaciar o ego' ao serem tidos como generosos,
ou heróicos, e se sentem aventureiros quando demonstram
misericórdia; é o espírito de aventura o que mais o estimula. Nos
velhos tempos, os americanos tentavam ser compassivos, em obediência
aos mandamentos de Deus. Agora, valem-se mais frequentemente da
terapia para explicar seus motivos: a caridade lhes faz bem, melhora
a imagem que fazem de si”.
Vez
por outra estamos a confundir “compaixão”, com
“pena”(dó). Compaixão, seria sentir com o outro,
sofredor. O sentimento que expressamos como pena, por sua vez,
poderia dar a ideia de algo partindo de um ser em condição mental
superior para um ser em estado psíquico inferior. Mas a pena que
sentimos do outro que sofre, pode perfeitamente ser uma ressonância
ou consequência de um acontecimento doloroso vivido em nosso passado
de criança ou de adolescente. No caso, esse sentimento estaria mais
para a compaixão, se por compaixão entendêssemos a repetição
imaginária de algo doloroso vindo dos recônditos de nossa psique. A
situação daquele que sofre, detonaria em nós o gatilho de um
despertar. Seria o caso de se dizer que o afeto da compaixão, volta
e meia, a nós retornaria no encontro com o outro que no presente
padece; as dores do outro corresponderiam às dores primevas, quem
sabe, relativas às coisas aparentemente esquecidas, mas
poderosamente arquivadas nos porões do nosso sombrio inconsciente.
Mas
há outras modalidades forçadas da “generosidade compassiva”,
que talvez estejam a balançar os corações dos republicanos que
elegeram Donald Trump. Por se situar dentro do jogo do poder
terreno, e ser de natureza interesseira, essa modalidade de compaixão
está mais para uma farsa.
Como
bem sabemos, a “generosidade compassiva” pregada pelas religiões
dominantes, em sua prática, carrega o cheiro da vaidade. No discurso
da religião oficial pedagógica americana do Reino de Trump,
esse afeto “generosamente compassivo”, traduzido pelo lado
avesso, busca, sobretudo, a admiração das pessoas, reforçando a
vaidade ou o caráter mercantil e fundamentalista de grande parte da
suprema membresia republicana.
Na
verdade, o mote de fundo puritano ―
“América para os Americanos” ―,
brandido pelo presidente, assemelha-se muito ao apregoado por Hitler:
o Führer alemão no passado de tão triste memória, invocava a
pureza da raça ariana, em detrimento dos judeus e demais minorias.
Hoje, na esteira da xenofobia trumpiana, ganha terreno uma compaixão às avessas
assumida de forma egocêntrica pelos ativistas da supremacia branca
dos EUA. Recentemente, a cidade de
Charlottesville(EUA) serviu de palco para a explosão de ódio por parte de "brancos supremos" contra negros e judeus.
Ao
que parece, a Era Trump veio despertar, em um suposto povo
divinamente escolhido para mandar e desmandar na América, a
adormecida intolerância contra os considerados hereges e os
rotulados de “raça inferior”. No entanto, quando esse “povo de
sangue supremo” planeja a purificação de seus pecados ou
podridões, são exatamente os marginalizados que são usados por ele
como “bode expiatório”(no ritual de purificação
praticado pelo povo hebreu, um bode era escolhido para carregar os
pecados da comunidade. Depois, o animal era abandonado no deserto,
para que os males nele projetados ficassem bem distantes do “povo
sagrado”).
Na
visão radical do todo-poderoso, Trump, a compaixão é
entendida pelo avesso: os oprimidos não são os estrangeiros que
vivem nos EUA, são os americanos ressentidos que perderam um pouco
de suas riquezas, e agora culpam os imigrantes pelo seu estado atual.
Mas, no Velho Testamento há uma passagem bastante interessante, um
conselho dado ao povo escolhido de Javeh, para que
pudesse manter o passado bem vivo em sua mente, quando acolhido foi
em terras estranhas (Egito). No entanto, hoje, em benefício próprio,
os remanescentes desse povo preferem se fazer de cegos para aquilo
que os escribas, a respeito do sentimento compassivo, deixaram
escrito no Livro Sagrado(Torah) do Deus a quem supostamente seguem:
“Ao
estrangeiro não maltratarás, nem o oprimirás, pois vós mesmos
fostes estrangeiros na terra do Egito.” (Êxodo
22: 21)
Por
Levi B. Santos
Guarabira,
10 de novembro de 2017