.... [...]Vaidade das vaidades, tudo é vaidade. (Eclesiastes 1:2)
Vaidade, sorrateiro sentimento do coração humano.
Tem às vezes aparência de uma virtude em excesso.
Mas o maior dos vaidosos, não admite a vaidade;
Não sabe que nasce com ela. E ela se acaba nele.
Até mesmo na humildade, ela está à sua espreita.
É a companheira sombria, misteriosa e esquisita.
De todas as paixões, é ela a que mais se esconde.
Até as ações mais pias, podem nascer da vaidade.
Quem tem não a conhece, tampouco a distingue,
É como espelho de grau que aumenta nossa forma.
É um instrumento que tira dos olhos nosso defeito,
Ao mesmo tempo expõe os defeitos que há no outro.
Das vaidades últimas, ela é vanglória antecipada,
Ao sermos despejados de volta solene à terra.
A vaidade está presente até mesmo na agonia,
Enriquecendo de adornos o pobre vil moribundo.
Como se na hora fatal, o morrer não fosse nada,
E o nosso mundo de coisas, pudéssemos conduzir.
Vaidades das vaidades. Em tudo está a vaidade.
Vaidade que se nota até nos últimos suspiros,
Ela está nas pompas frias da derradeira partida,
Está na lápide brilhante de um branco mausoléu,
Está nas letras inseridas na pedra fria marmórea;
Na suntuosidade do túmulo, a inspirar veneração.
É como um sonho infinito de desejo recorrente,
Encastelado no centro da moldura imaginária.
Até no nobre ataúde, a vaidade está presente,
Até mesmo na antevisão do nicho no altar-mor.
É nos mórbidos preparos da funesta caminhada,
Que o ser inconsciente desfruta a vaidade última.
Versos por Levi B. Santos
Guarabira, 28 de Dezembro de 2008
6 comentários:
Com certeza Salomão lhe daria espaço entre os seus versos.
Quem pode dizer que não peca por vaidade?
Sempre o vaidoso grande Levi kkkkkkkkkkkk
Sua vaidosa fã.
Parabéns, Levi, pela postagem.
De fato, como fugir da vaidade?
Será que não é mais sensato dialogarmos com a nossa vaidade para que ela se concilie com a realidade da vida?
Um abraço
Não tem jeito, o ser humano é sempre guiado pelo princípio do prazer. Esse instinto é projetado para o além, ou seja, o sujeito, às vésperas da partida, continua obcecado pelo luxo até no planejamento de seu enterro.
Mas Deus gosta de luxo. O templo de Salomão é o maior exemplo. Só a réplica desse fenomenal templo erguida por Edir Macedo em São Paulo, atrai, cada vez mais, milhares de fiéis de todas as partes das Américas. Foi a projeção da vaidade no imaginário do religioso, que fez o autor do hino de nº 26 do hinário "Harpa Cristã" escrever esse vaidoso trecho:
"Quão glorioso, cristão, é pensares
Na cidade que não tem igual,
Onde os muros são de puro jaspe.
E as ruas de ouro e cristal
Olá, Levi.
Confesso preferir que, ao invés de uma tumba luxuosa para um corpo sem vida, seja a minha pessoa lembrada na memória dos que continuarão pelos anos seguintes ainda que eu não possa saber o que falarão de mim depois.
O desejo por viver num lugar luxuoso na outra vida, o qual é uma excelente metáfora para explicar para carnais as coisas espirituais, entendo como algo aceitável. Aliás, nada contra o ser humano ter agora ou depois coisas boas. O problema é quando há desigualdades causadas no mundo pelo sustento do luxo de uma minoria, sendo que, no além, as riquezas não custariam sofrimento alheio.
Um abraço
Na verdade, a metáfora "Deus gosta de luxo" é mais uma espécie de Superdesejo humano (ligado ao TER) projetado em um Ser Supremo (Pai imaginário). Lembro de que minha saudosa mãe dizia: o ouro e as pedras preciosíssimas que aqui não poderia adquirir, lá no Céu ela iria TER aos montões. Mais ou menos como almeja (de forma inconsciente) grande parte dos fiéis: um Paraíso no Modo TER, uma espécie de compensação pelo sofrimento existencial terreno.
Por outro lado, na consciência do devoto, aqueles que na terra tiveram tudo para seu egoístico prazer, irão viver eternamente no além, porém, em um lugar de sofrimento, bem separado do "Rico Eden Celestial". Na alegórica "Divina Comédia" de Dante, os salvos se regojizam ao verem os pagãos (que desprezaram a Deus e maltrataram seus fiéis) atolados e atormentados em um lago de fogo. A alegoria de Dante mostra, acima de tudo, que não há como fugir do sentimento de vingança (ou ressentimento) que permeia a alma do humano injustiçado em vida.
"Até quando, ó Sobrano, não vingarás o nosso sangue" - disse João em seu Apocalípse.
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