Quadro
“O Grito”
de Edward Munch
Enquanto
escrevo essas linhas, jornalistas da Globo News no programa “Central
das Eleições” discutem, alvoroçadamente, sobre a pesquisa mais
recente do “Datafolha”, contendo dados estatísticos sobre o medo
de implantação de uma futura ditadura no Brasil. A pergunta feita
ao eleitor foi essa:
Qual
a chance de haver uma nova ditadura no Brasil?
A
resposta mostrou o país rachado: 50% tem medo de que a ditadura
volte.
Em
época que a mídia trata de explorar o medo entre os eleitores, nada
melhor que recorrer ao sociólogo, Zygmunt Bauman, e refletir um
pouco sobre o que ele diz no trecho, abaixo, de sua obra ―
“Vida Liquida”:
“a
vida na sociedade líquido-moderna é uma versão da dança das
cadeiras, jogada para valer. O verdadeiro prêmio nessa competição
é a garantia (temporária) de ser excluído das fileiras dos
destruídos e evitar ser jogado no lixo”.
Ainda,
no tocante ao medo, gostaria que respondessem a essa pergunta:
Vocês
sabem por que o filme Titanic atraiu tanta gente, chegando na época
a superar todos os recordes anteriores de bilheteria? ―
Na verdade, quem pergunta e ao mesmo tempo responde, em forma de
metáfora, é Jacques Attali:
“O
Titanic somos nós, nossa sociedade triunfalista,
autocongratulatória, cega e hipócrita, sem misericórdia para com
seus pobres ― uma sociedade
em que tudo está previsto, menos os meios de previsão… Todos
imaginamos que existe um iceberg esperando por nós, oculto em algum
lugar no futuro nebuloso, com o qual nos chocaremos para afundar
ouvindo música… .
“Attali,
identificou vários icebergs: financeiro, nuclear, ecológico, social
e o proveniente do fundamentalismo religioso,”
(Zygmunt Bauman – Medo Líquido).
Não
poderia, de maneira alguma, deixar de trazer à tona o maior pensador
e dramaturgo do século XX, o alemão Bertolt Brecht. Ele diz algo
que vem bem a calhar com o sentimento de medo que, por ora, domina os
corações da geração dos ex-colonos de Portugal. Da sua memorável
comédia ― “De Nada,
Nada Virá” ―,
trago um trecho que,(quem sabe?), pode funcionar como um calmante ou
antídoto contra a neurose coletiva que domina atores de diversos
escalões da sociedade:
O PENSADOR:
― Vou pensar alto, o que querem
representar, se isso não atrapalhar o meu próprio pensamento?
OS ATORES:
― Vamos apresentar a vida dos
homens entre os homens
O PENSADOR:
― O que querem provar com isso?
OS ATORES:
― Não sabemos, o que você
acha que poderá ser provado, se apresentarmos a vida dos homens
entre os homens?
O PENSADOR:
― De
Nada, Nada Virá.
OS ATORES:
???
Podem
até considerar que o que eu vou dizer aqui é coisa de louco. Mas,
como é livre a expressão do pensamento, quero dizer ao nobre
leitor(a), que o meu pessimismo parece, hoje, ter dado lugar a um
incipiente otimismo (o otimismo dos atores da comédia de Brecht –
rsrs).
Mas
não ria não! Console-se. Pensando bem, vejo que os navios de grande
calado, hoje, bem mais reforçados do que os de 1964 navegam pela
mesma rota que passou o velho Titanic, sem, no entanto, correrem o
perigo de se desmancharem frente a choques de média intensidade
(Marolas ou marolinhas, na linguagem do velho timoneiro, Lula).
Ademais,
não custa lembrar que, logo logo, chegará o Natal, depois vem a
festa do reveillon, e mais um pouco a frente, o Carnaval. Por esse
tempo todo, podem ficar certo, não haverá grandes navegações em
alto-mar, pois, os navegadores (comandantes) estarão todos gozando
férias prolongadas. Ou não estão lembrados que o Brasil, como é
de costume, só começa a funcionar depois da Páscoa?. Até lá, não
vai haver perigo de afundamentos de navios nem afogamentos de
passageiros. Haverá, sim, por esse período de tempo, uma acomodação
geral e irrestrita. Nesse ínterim, os derrotados de ontem se
abraçarão com os vitoriosos de hoje em Copacabana na festa de
fogos, ou mesmo na Sapucaí. E o povão, feliz da vida, poderá ver
pela TV os componentes dos blocos partidários (ou sopinhas de
letras) a torcer, efusivamente, por suas escolas de sambas
financiadas com dinheiro público.
E
o Império do Medo, então, se transformará em Império da Alegria.
Os de togas, os de paletós e os vestidos de roupas de militares
sairão de braços dados com os fantasiados portando armas de
brinquedos, numa algazarra, aos olhos de muitos, irracional. Foliões,
desfilando com máscaras de todos os que concorreram à Presidência
da República, se deleitarão num clima de pacificação jamais visto
nas terras de Santa Cruz.
Falou
o profeta, que hoje, se encontra sem medo e de bom humor.
Despeço-me,
não sem antes, a título de alerta, deixar aqui para cristãos e não
cristãos, uma máxima do apóstolo Paulo, considerado o fundador do
cristianismo: “Queres tu, pois, não ter medo
da autoridade? Faze o bem...” (Romanos
13: 3)
Por
Levi B, Santos
Guarabira,
21 de outubro de 2018