21 novembro 2019

REVISITANDO O PROFESSOR DE JAVANÊS




Ontem (20), dia da Consciência Negra, o ministro Toffoli trouxe ao pleno do STF o “escritor negro que nunca esqueceu a sua classe” ― Lima Barreto ─, autor do risível “O Homem Que Sabia Javanês”.

No conto, o personagem Castelo criado por Lima Barreto “era um diplomata que chefiava um consulado, mas não sabia a língua exótica que um dia se propôs ensinar”. Em conversa com seu amigo Castro numa Confeitaria exibia orgulhoso as peças que pregava no seu ambiente de trabalho...
Bem, vou parar por aqui. Deixo a cargo do leitor, a leitura ou (releitura) da fenomenal obra desse venerado escritor. E que venham boas gargalhadas.

O voto de Toffoli, que não disse coisa com coisa por mais de quatro horas (no caso COAF), com certeza, será lembrado pelas futuras gerações como um dos maiores fiascos da História do STF.

Mas foi o indefectível Luís Roberto Barroso que, já saindo do plenário, após o truncado julgamento, sapecou a frase que evocou Lima Barreto:

Tem que trazer um professor de Javanês!!!”

Ainda bem que Barroso, um apreciador da boa literatura, chamou-nos a atenção para o memorável conto de nosso corajoso escritor negro - Lima Barreto - na noite do Dia da Consciência Negra.



Por Levi B. Santos
Guarabira, 21 de novembro de 2019

18 novembro 2019

AINDA SOBRE OS "ABUSOS DO STF"




A interpretação do Supremo ― no que diz respeito ao momento de prisão do réu ─ vem sofrendo variações conforme as circunstâncias ou contingências que o momento político oferece, o que provoca uma total insegurança jurídica.

Tanto é assim, que Eduardo El Hage, procurador que pediu a prisão de Sérgio Cabral, já teme pela soltura do ex-governador do Rio de Janeiro, condenado a 33 anos de prisão. Somando, todas suas penas chegariam a 267 anos de encarceramento (Leia na íntegra o artigo de Italo Nogueira – na Folha de S. Paulo de hoje, dia 18 de novembro de 2019).
Para El Hage, só haveria um caminho para acabar com o “vaivém” de abstratos entendimentos: o Senado atuar como contrapeso ao que classifica como abusos do STF.

Mas, ao que parece, herdamos toda a gama de atrocidades da dúbia democracia grega em seus primeiros e trôpegos passos.

Foi o dramaturgo Sófocles que, antevendo o destino da capenga democracia de Atenas, colocou palavras lapidares na boca de Creonte, palavras que ressoam de modo mais dolorido em nosso atual e sombrio tempo. O eco daquelas palavras, hoje, mais do que nunca, fazem travar a nossa língua de um amargor muito mais forte e cruel do que o experimentado pelos filósofos do sonho democrático abortado nos tempos imemoriais da frágil Grécia Antiga.

Creonte, ao abrir os olhos para o óbvio ululante, do fundo de seu ser fez emergir essa insofismável verdade, que retrata, sem tirar nem por, o final melancólico do enredo trágico encenado pelos poderes de nossa república das bananas ― versão 2020:

― “Não é possível conhecer perfeitamente um homem e o que vai no fundo de sua alma, seus sentimentos e seus pensamentos mesmos, antes de o vermos no exercício do poder”.

Será que os meliantes de nossas ‘sagradas casas’, não percebem que tudo se inicia no vácuo da falta de vigilância, uma vez que o estar sempre alerta no domínio de suas feras interiores, afastaria o narcisismo doentio e infantil responsável pela insana AUTOFAGIA ― processo esse que, ao fim e ao cabo, não deixará ninguém de pé?”


Por Levi B. Santos
Guarabira, PB