18 novembro 2019

AINDA SOBRE OS "ABUSOS DO STF"




A interpretação do Supremo ― no que diz respeito ao momento de prisão do réu ─ vem sofrendo variações conforme as circunstâncias ou contingências que o momento político oferece, o que provoca uma total insegurança jurídica.

Tanto é assim, que Eduardo El Hage, procurador que pediu a prisão de Sérgio Cabral, já teme pela soltura do ex-governador do Rio de Janeiro, condenado a 33 anos de prisão. Somando, todas suas penas chegariam a 267 anos de encarceramento (Leia na íntegra o artigo de Italo Nogueira – na Folha de S. Paulo de hoje, dia 18 de novembro de 2019).
Para El Hage, só haveria um caminho para acabar com o “vaivém” de abstratos entendimentos: o Senado atuar como contrapeso ao que classifica como abusos do STF.

Mas, ao que parece, herdamos toda a gama de atrocidades da dúbia democracia grega em seus primeiros e trôpegos passos.

Foi o dramaturgo Sófocles que, antevendo o destino da capenga democracia de Atenas, colocou palavras lapidares na boca de Creonte, palavras que ressoam de modo mais dolorido em nosso atual e sombrio tempo. O eco daquelas palavras, hoje, mais do que nunca, fazem travar a nossa língua de um amargor muito mais forte e cruel do que o experimentado pelos filósofos do sonho democrático abortado nos tempos imemoriais da frágil Grécia Antiga.

Creonte, ao abrir os olhos para o óbvio ululante, do fundo de seu ser fez emergir essa insofismável verdade, que retrata, sem tirar nem por, o final melancólico do enredo trágico encenado pelos poderes de nossa república das bananas ― versão 2020:

― “Não é possível conhecer perfeitamente um homem e o que vai no fundo de sua alma, seus sentimentos e seus pensamentos mesmos, antes de o vermos no exercício do poder”.

Será que os meliantes de nossas ‘sagradas casas’, não percebem que tudo se inicia no vácuo da falta de vigilância, uma vez que o estar sempre alerta no domínio de suas feras interiores, afastaria o narcisismo doentio e infantil responsável pela insana AUTOFAGIA ― processo esse que, ao fim e ao cabo, não deixará ninguém de pé?”


Por Levi B. Santos
Guarabira, PB