30 janeiro 2020
26 janeiro 2020
“Não Estou Preparada!” ― Um Dilema Shakespeariano
Para
o grande dramaturgo britânico, Oscar Wilde (1854 ― 1900), autor do
famoso “O Retrato de Dorian Gray”, “a vida
imita a arte mais do que a arte imita a vida”.
Ancorando-me
no enunciado (verso e reverso) elaborado por esse renomado escritor, detenho-me agora
no assunto mais comentado dos dias atuais nas redes sociais, nos
jornais e na TV. Manchetes, tipo “A Namoradinha do Brasil é
convidada pelo governo para assumir a Secretaria da Cultura”
infestaram de forma maciça os meios de comunicações.
A
consagrada atriz continua, ainda, ligada a Globo ― emissora de TV que a lançou no
mercado televisivo. Lá, teve um inusitado sucesso de público em sua longa carreira. Em seu trabalho
novelístico e artístico a atriz imitava tanto a vida de personagens das mais altas famílias, como a dos mais humildes moradores de antiquados rincões de
nosso país.
O
ator Lima Duarte (ex-companheiro de Regina Duarte na Novela Roque
Santeiro), com a verve humorística que lhe é peculiar, fez uma
inserção interessante entre o mundo da arte e o da vida real, reproduzida por Mônica Bérgamo em sua coluna na Folha de S. Paulo.
Disse,
Lima Duarte, que na telenovela "Roque Santeiro" fazia o papel de um
impulsivo coronel do interior:
“A
união de Regina com Bolsonaro é perfeita para o Brasil de hoje:
Sinhozinho Malta na Presidência e Viúva Porcina na Cultura” ―
afirmou, como que evocando o papel dos dois em Roque Santeiro(drama que bateu todos os recordes de audiência da Globo, em 1985).
Entrar
na vida Política sem a muleta da fantasia ou da ficção parece ser
coisa praticamente impossível. É que as coisas do Estado, de há muito, andam muito parecidas com o mundo ficcional das novelas.
“Não
estou preparada!”. Bem, isso é o que, até agora, a
atriz Global afirma em suas falas recentes sobre assumir ou não
assumir a Secretaria da Cultura.
Divagando sobre o que pode estar escondido no âmago da afirmação defensiva da
artista:
Como
carregamos em nossa índole a ambivalência desde os tempos mais
remotos, na arte da política podemos agradar ou provocar. É em
tempos de polarização excessiva que ocorrem os mais sérios
atritos: se meu lado conservador se sobressai posso até agradar aos
meus que militam na direita, mas, ao mesmo tempo, desagrado aos do
lado oposto. E aí surge a pertubadora dúvida: a do pender ou não pender para o lado político que, momentaneamente, comanda a situação.
Na
vida, equilibrando os dois lados de sua ambiguidade interna, a atriz
muito representou, quer do lado do conservadorismo, quer do lado
engajado na vanguarda pelos direitos femininos. Em “Malu
Mulher” a atriz, em seu papel, vivenciou a violência
doméstica, a submissão psicológica, a revolta contra o machismo.
Tudo isso numa época em que não se aceitava a independência da
mulher.
Acontece que depois de ter, por muito tempo, representado as contradições e idiossincrasias humanas através das
novelas e mini-séries, a intérprete talvez esteja se vendo numa encruzilhada, sem ter ideia de como conciliar sua alma de desejos dúbios; sem o poder de efetuar a síntese dos
dois lados antagônicos de seu duplo eu, para que haja, enfim, o mínimo de apaziguamento interior.
Agora,
sob o peso da idade e depois de muitos anos atuando na Vida de
Representação, como sair dessa enrascada?
Abraão
Grinberg e Bertha Grinberg em “A Arte de Envelhecer com Sabedoria”
escreveram algo muito contundente sobre a consciência-de-si, que, com maior nitidez, aparece naquela fase da vida em que, pela soma das muitas experiências vivenciadas, já nos encontramos bem mais amadurecidos:
“...É
o instante da vida em que deixamos de ser a montanha para sermos um
simples vale. O vale das montanhas do mundo dos homens. O instante em
que a Locomotiva será conduzida pelos vagões”.
Coincidência,
ou não, no campo da arte política, não vamos, somos levados.
Vigiemos, pois é na terceira idade que a impetuosa necessidade de
reflexão nos surpreende com mais intensidade.
Por Levi B. Santos
Guarabira,
26 de janeiro de 2020
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da Imagem do Topo:
https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/noticia/2020/01/um-sinhozinho-malta-no-poder-e-uma-porcina-no-ministerio-diz-lima-duarte-ck5n694xv007g01qbotjr7ljo.html
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18 janeiro 2020
SÓ O TEMPO DIRÁ POR QUE O SECRETÁRIO ESPECIAL DA CULTURA FOI REVISITAR O MONSTRO NAZISTA JOSEPH GOEBBELS
Adolf Hitler e Joseph Goebbels
Foi
com essa História de “Regeneração Cultural” que os dois
monstros, Adolf Hitler e Joseph Goebbels (carrascos responsáveis pelo
Holocausto Judeu), alienaram ou cegaram quase toda a população da
Alemanha de sua época.
Aqui,
pra nós, quero dizer, antes de tudo, que toda a forma de
totalitarismo é deletéria, quer seja ela de extrema esquerda, ou de
extrema direita.
Já
martelamos demais a respeito dessa insana polarização. Quem não
sabe que quanto mais inclinação tivermos para um dos dois lados tentando anular ou destruir o outro que nos é diferente, certamente iremos cair numa espécie de Totalitarismo?
A
coisa funciona tão sutil, que a própria Censura psíquica pode
aprontar surpresas desagradáveis, como o de fazer aflorar o que está
guardado a sete chaves na instância que a psicanálise deu o nome de
INCONSCIENTE.
O
Inconsciente é a sede de memórias e sentimentos antigos que com o
tempo, foram recalcados ou soterrados em lugares profundos da psique.
Grande parte do que nos motiva advém dessa instância,
principalmente no que tange aos “lapsos” que cometemos no dia a dia em
situações de estresse ou de grande emoção. Aí dizemos numa
espécie de racionalização (mecanismo de defesa): “Ops!
Cometí um equívoco!”.
Quem
porventura não sabe que, nos momentos que estamos submetidos a forte
tensão em nossos discursos, desejos ou impulsos independentemente de
nossa vontade consciente podem de um segundo para outro aflorar,
trazendo-nos tormenta?
Atos
falhos, ambivalências, chistes, citações embaraçosas são
fundamentais no trabalho do analista. Essas idiossincrasias, pelo
avesso daquilo que é consciente, fornecem ao examinador elementos
essenciais para que a verdade ofuscada do sujeito venha à tona ―
assim reza a psicanálise
Nos
sentimos como que traídos quando desejos e impulsos que
considerávamos inaceitáveis em nós, rompem a barreira da Censura, deixando-nos repentinamente de saia justa. É em ocasiões como
esta que, para evitar o desprazer, reagimos de forma racional
tentando mascarar o que de verdade aflorou do inconsciente. Nessas
horas, sempre de forma defensiva, costumamos dizer: “Eu não
queria dizer isso”, ou “Fui mal entendido”, “Foi
um lapso”, “Eu não sabia”, etc.
Foi
em um discurso carregado de emoção, sob um suposto intuito de
regenerar a sociedade brasileira que, inconscientemente, o ministro
Roberto Alvim deixou escapar, em seus mínimos detalhes, uma
excrescência do pensamento totalitarista do monstro nazista,
Goebbels.
Mas,
que fique claro: esses sentimentos ou afetos destrutivos já residiam
em seus profundos arquivos mentais, desde muito tempo. Ressalte-se,
aqui, que não quero execrar ninguém, pois, não somos diferentes:
nossas inclinações autoritárias e de outras origens instintuais
estão indefinidamente adormecidas nos arquivos indeletáveis de
nossa Psique.
Mesmo
a Bíblia afirmando que é preciso vigiar para não cair em
tentação, quando menos se espera, ou quando o vigia postado na portaria da Censura resolve dar um cochilo, os recalques se imiscuem em nossa
sala de visitas deixando-nos desarticulados.
Cabe
a nós, dominar nossas feras interiores. Ou não foi assim que
Javeh, o Deus dos Hebreus, se apresentou a Caim, quando ele
premeditou assassinar seu irmão Abel? Sob a forma de uma voz
poderosa vinda do Inconsciente, Caim parou para ouvir: “O
Pecado jaz à Porta, e sobre ti será o teu desejo, mas sobre ele
deves dominar” (Gênesis 4 : 7)
Para
finalizar esse breve ensaio, quero recorrer a emblemática confissão
do psicanalista Carl Gustav Jung, quando após a Segunda Grande Guerra
Mundial recolheu-se em sua casa às margens do lago de Zurique da sua
amada Suíça, onde viveu seus últimos cinco anos de vida.
Durante
a segunda guerra mundial, dizia-se “boca a boca” que o
psicanalista Carls G. Jung tinha colaborado com o governo de Hitler
Em
1946, terminada a segunda grande guerra, um proeminente professor
judeu em visita a Suíça recusou-se a dialogar com Jung. Depois de
uma violenta discussão com o rabino, Jung rendeu-se: “Está
certo, eu vacilei.”(Jung―Uma
Biografia―Frank
McLynn―Record
Editora)
Mesmo
tardia, compreendo que a confissão de Carl G.
Jung tirou um grande peso
de sua consciência, além de ter resgatado sua biografia.
Entretanto, sei
o quanto
é difícil para o senhor, Roberto Alvim, confessar que vacilou e, por essa
razão, não
entro no mérito da questão que foi notícia em todos os jornais do
mundo.
Por
Levi B. Santos
Guarabira,
18 de janeiro de 2019
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http://www.openculture.com/2017/11/carl-jung-psychoanalyzes-hitler.htmlem:
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01 janeiro 2020
O DEUS JANUS, O VELHO E O NOVO ANO
O
Deus romano JANUS, portava duas faces: uma olhando para trás (o
passado) e outro olhando para frente (o futuro). Na mitologia, esse
deus tinha o poder de acabar com o velho para dar lugar ao novo.
Na
verdade, indo na contramão da lógica mítica, acho que não
acabamos com o velho. A Ciência, hoje, assegura que o presente se
nutre do passado e ao mesmo tempo, emite suas ressonâncias para o
devir.
A
metáfora das duas faces do deus Janus, representação simbólica de
que o passado e o presente sempre se complementam ―, está mais
viva do que nunca.
A
cada passagem de ano, lá estamos realizando o “eterno retorno”
de que falou Nietzsche. O desejo de fazer uma retrospectiva dos
acontecimentos mais marcantes de nossas vidas está aí para provar
que precisamos do passado para confrontarmos com o presente e mais
tarde com o que há de vir.
Hoje
mesmo, por ocasião do aniversário de minha esposa, ressonâncias
dessa história mítica de Janus, creio eu, vieram à tona.
Todos
ficaram encantados com o trabalho artístico executado no computador,
por Thiago (meu filho mais novo) e sua esposa Charly. Eles colocaram
lado a lado o passado e o presente: Fotos do passado do pai e da mãe
em ordem cronológica, como se faziam antigamente: retratos, em
sequência cronológica, colados nas páginas grossas dos velhos
álbuns do tempo da máquina de fotografar - KODAK. Ao mesmo tempo
passava em vídeo musicalizado toda a roda viva das fotos até os
dias atuais, como se fazem nos filmes de documentários. Mas isso o
deus Jânus do Facebook, de tempos em tempos, já faz, ao oferecer a
opção “retrospectiva” aos seus usuários, tipo: “quer
relembrar momentos marcantes de você com seus amigos, tantos anos
atrás?” E, com um clique, fatos que você talvez já tivesse
esquecido são transportados instantaneamente para o tempo presente.
Quanto
aos velhos, a Face do deus Janus voltada para frente é tenebrosa,
pois aponta o pouco tempo que lhes resta na caminhada terrena.
Graças
à tecnologia digital, eis que a face do deus Janus voltada para o
passado, capta e expôe as marcas que o tempo imprimiu nas
fisionomias dos que já se sentem fisicamente cansados. Quanto aos
joviais e cheios de vida que se encontram no início ou na metade da
jornada, a face da frente desse deus bifronte pode até sorrir.
Gosto
de me debruçar sobre as histórias míticas, porque, mais do que
tudo, elas nos ensinam a voltar para dentro de nós, a fim de captar
a grandeza das mensagens que residem nos símbolos. Acho os Mitos
fascinantes pela simples razão de falar do mistério que há em cada
um de nós. "Até quando sonhamos, estamos navegando no vasto oceano
da Mitologia" ― disse certa vez, o mitólogo Joseph Campbell.
Por
Levi B. Santos
Guarabira, 01 de janeiro de 2020
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