22 março 2020

A ARTE DE CURAR DOS ANTIGOS BOTICÁRIOS


Anúncio de remédio à base de Quinina – Nossa História – julho de 2005


Estamos todos de Quarentena em meio a uma Pandemia viral. Aproveitando o ócio obrigatório nos imposto por tempo indeterminado, que tal recordar um pouco de Nossa História Colonial, no que diz respeito a Farmacopeia popular no início de Nossa República?

Antigamente, as Drogarias eram conhecidas como BOTICAS, e os farmacêuticos eram denominados BOTICÁRIOS. As boticas geralmente funcionavam junto às casas de seus proprietários. Diogo de Castro, contratado por Tomé de Souza, foi o primeiro que com uma arca portátil de Madeira, na Colônia Portuguesa, iniciou a preparação de mezinhas para “curar” as moléstias do seu Senhor e sua vasta corte.

Como em época de grandes epidemias, costuma-se buscar incessantemente alguma mezinha milagrosa quase sempre derivadas de plantas medicinais no intuito de debelar um mal que se alastra de forma assustadora, eis que o comércio de ipecacuanha e quina, começou a efervescer.

Sobre os Magos de Botica e sua farmacopeia tupiniquim na comercialização da “QUINA”, Henrique Soares Carneiro, doutor e professor de História da Universidade de São Paulo, assim escreveu:

A Quina, Cinchona ledgeriana, a mais eficaz terapia contra a Malária, é o grande exemplo de um medicamento indispensável para a saúde moderna que se originou do saber indígena. Descrita em 1633 pelo padre espanhol, Calancha, a Quina logo se tornou um produto indispensável ao médico jesuíta. A difusão européia dessa casca amarga de uma árvore americana foi dificultada, num primeiro momento, pelas nações protestantes. […]Em 1820, dois químicos franceses isolaram o alcalóide “Quinina” e, após 1860, os Holandeses conseguiram contrabandear sementes que foram aclimatadas em Java” (“Nossa História” julho de 2005)

A pandemia do Covid 19, aqui nas Terras de Dom João VI desperta, por ora, duas propostas que nos meios de comunicações e redes sociais, vêm provocando acaloradas discussões:

● Uma proposta visa administrar a Quinina nos casos sintomáticos de Coronavírus sem ter submetido essa substância à nenhuma avaliação farmacológica. Talvez, quem sabe, evocando a imaginação dos boticários do tempo antigo, que antes do isolamento da quinina já faziam uso do produto bruto, quando ainda não existiam testes científicos para esse fim.

● A Outra proposta diz ser temerário o uso da Quinina, uma vez que não foi testada nem protocolizada e liberada pelo Ministério da Saúde para casos positivos de Coronavírus.

Como médico, não poderia deixar de insistir com esse alerta/esclarecimento:

A Quinina nunca foi testada cientificamente em casos do Covid 19, isto é, não se sabe que efeitos colaterais ou malefícios poderão advir do seu uso, a médio e longo prazo, feito de forma indiscriminada.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 22 de março de 2020

3 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Caro Levi,

Mais uma vez o parabenizo por seus artigos.

Quem dera eu pudesse estar com meu tempo ocioso, mas,infelizmente, ando trabalhando em velocidade semelhante. Só não tenho é saído de casa, exceto para comprar o essencial.

Nesses dias de pânico e também de ignorância, a qual é alimentada pelos fanfarrões de extrema direita como Trump e Bolsonaro, a indicação não científica da cloroquina fez lembrar dos praticamente dois anos que minha esposa fez uso dessa droga, entre 2010 e 2012, por motivo de suspeita de lupus, coisa que depois se descartou quando a mesma resolveu se expor ao sol numa praia e nada lhe ocorreu de ruim. Porém, supomos que ela tenha ficado com alguma sequela em sua visão passando a usar óculos.

Pode ser que o anti-malárico tenha alguma utilidade quanto a esse vírus e outras doenças.Porém, mesmo nesta hipótese, não deverá ajudar a todos pois muitos pacientes idosos ou pessoas com saúde debilitada talvez morrerão e nosso sistema de saúde corre o risco de passar um colapso jamais visto nos últimos 100 anos.

Por outro lado, não creio que morrerão tantos quanto foi na Gripe Espanhola,mas penso que o Brasil deveria ter sido mais precavido se, ainda em janeiro, houvesse aumentado o controle nos aeroportos.

Um abraço e ótima semana!

Levi B. Santos disse...

Desculpe aí Rodrigão, por ter passado esse tempão todo sem conferir os comentários do meu blog.

Mas, caro amigo, estou recentemente vendo que a coisa degringolou.

Como médico, entendo que o Bozo deve ser afastado, não por impeachment. Entendo que qualquer psiquiatra lhe daria uns sessenta dias para se tratar e repousar, deixando o vice Mourão, que se mostra muito sensato, para levar o barco nesse momentos de turbulência.

Abçs,
Levi

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

A saída de Bolsonaro seria o mais indicado para o país. Suponho que Mourão teria mesmo mais sabedoria para lidar com o momento.