Duas cenas comoventes da tragédia que se abateu sobre Santa Catarina, captadas pelas lentes dos repórteres da TV Globo e apresentadas no programa “Fantástico” de Domingo (dia 30 de Novembro) levaram-me à reflexão sobre os meandros da alma humana em ocasiões de grandes perdas.
Mas, o que mais me impactou foram dois momentos distintos focalizados pela câmara do repórter. Primeiro foi mostrada uma criança de seus cinco ou seis anos de idade visivelmente abatida, de pé sobre o seu colchão. Tinha um olhar desapontado e vazio do desamparo. Pude perceber nos seus olhos a solidão e um ar de incompreensão, como se estivesse a perguntar sem obter resposta, sobre o “porquê” de tanta dor. Não demorou mais que trinta segundos, e eis que a câmera focaliza uma outra cena que contrastou com todo o cenário de sofrimento do primeiro ato que estava assistindo. Ali, bem juntinho à circunspecta criança de olhar triste e melancólico, estava um senhor da terceira idade sentado sobre o seu colchão, brincando com uma criancinha de mais ou menos três anos de idade, que bem poderia ser sua neta. Por incrível que pareça, esse adulto e sua pequena criança, em meio àquela constrangedora situação, encontraram forças para esboçar um riso. Mesmo que tenha sido por dois ou três segundos, eu os vi sorrindo. Esta última cena captada pelas lentes do exímio repórter, me trouxe um grande alento, renovando as minhas esperanças na raça humana e na sua capacidade de superação.
Nos dois momentos distintos daquela tragédia, encontravam-se ali lado a lado, a tristeza e a superação. Na face da criança da primeira cena, visivelmente estampados estavam os sentimentos da solidão e do desamparo .
Na segunda cena, o pai ou avô e sua criancinha refugiavam-se na fantasia do brincar, que como consolo, diante de uma cruel adversidade, as fazia sentir algum raio de felicidade. Talvez, ali, de mãos vazias, tendo por chão apenas um colchão, eles estivessem comemorando o milagre da vida, o milagre de terem escapado.
Naquela noite, a cena registrada pelo repórter da Globo focalizando o exato momento em que o idoso e a sua criança nos braços esboçavam sorrisos em meio a tanta dor, me fez lembrar do Italiano Roberto Benigni. Este cineasta, através do seu filme “A VIDA É BELA”, usou todo o seu imaginário e, mesmo preso num campo de concentração, conseguiu juntar forças para mostrar ao seu pequeno filho, que valia a pena viver, mesmo cercado pelo terror e a violência.
Que os descendentes dos colonos Alemães do Dr. Hermann Blumenau, que há 160 anos se instalaram nas escarpas e vales à margem do rio Itajaí-Açu, reconstruam o que foi desmoronado, imbuídos do mesmo propósito, do mesmo espírito dos seus antepassados, que do nada fizeram surgir a tão bela e acolhedora Blumenau.
Um comentário:
Olá Levi.
É verdade que o sol que endurece o barro também derrete a cêra. Desse modo, creio que tudo depende (ao menos em parte) não necessariamente daquilo que o homem é, mas daquilo que ele pode chegar a ser.
Li certa vez um excerto de George P. Howard, no qual ele citava Charles Malik:
"Se a mente divina, movendo-se sobre o caos, pôde criar o universo, é certo que a mente humana, formada à maneira da divina - uma vez saturada da verdade, pode também dominar a ordem atual das coisas".
Que Deus conceda sabedoria e força aos desabrigados de Blumenau, para que eles possam, à semelhança de Deus, dar forma ao caos.
Abraço;
Leonardo G. Silva
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