04 janeiro 2009

AS DUAS FACES DA GUERRA






A guerra é uma “moeda” ─, resolvi criar esta metáfora, em meio às notícias de tanto sangue derramado e ainda por derramar lá na faixa de Gaza.


Normalmente não vemos as duas faces da moeda ao mesmo tempo. Uma fica sempre escondida e para baixo. A que está a nossa vista é sempre a face de cima. Tem mais: as duas faces da moeda nunca são iguais (vide a brincadeira de cara ou coroa).


Mas o que tem em comum a guerra com a moeda? ─ perguntarão os senhores.


E entusiasmadamente direi:


Em todas as guerras desde que o mundo é mundo, há sempre duas histórias: a história dos vencedores e a dos vencidos. A narrativa dos louros colhidos pelos guerreiros vencedores vem logo à tona. É a primeira a ser imposta e acolhida pela mídia. A história dos perdedores é como o eco, o qual é ouvido sempre depois do estrondo inicial.


Não foi diferente na história de nosso país. Quando estudante de Ginásio, a minha mente foi como que repetitivamente impregnada pela história contada do ponto de vista dos Portugueses, nossos exploradores, que aqui vieram trazer as “virtudes” da civilização Européia. Na época das minhas primeiras letras eu só via a moeda por esse lado. Muitos anos depois, já formado, é que pude atentar para a existência da outra face da moeda, ao entrar em contato com a narrativa histórica do ponto de vista dos nativos, que tiveram a sua cultura destruída em prol de um suposto progresso moral e social.


Venho assistindo diàriamente há mais de uma semana a carnificina do Oriente Médio transmitida ao vivo via televisão e internet. Em pleno século XXI, olhando pedaços de cadáveres e sangue fluindo como rios, em contraste com a alegria do pipocar das rolhas de champanhe saudando o novo ano, eu me pergunto:


Em que a civilização está nos abrandando?


Se o que se entende por civilização for o jogo de palavras e manchetes inúteis da ONU, dos EUA e dos principais governos da Europa diante de uma guerra, ela desenvolveu no homem por todos esses séculos apenas uma diversidade de sensações... e nada mais. Não seria mais honesto se estes homens se desnudassem de suas máscaras e admitissem que, lá no fundo, encontram certo prazer no derramamento de sangue?


Séculos e séculos de civilização, e o que podemos concluir: o homem tem se tornado um sanguinário pior e mais hediondo. Antes, ele com a consciência tranqüila massacrava aquele que julgava merecer, e achava que isso era um modo de fazer justiça. Hoje, ainda que ele julgue que derramar sangue é uma torpeza, mesmo assim o pratica, e ainda mais do que no passado.


Não resta dúvida que a razão é coisa boa. A razão torna-se um mal quando se faz dela o pior instrumento da irracionalidade, que é chegar ao cúmulo de admitir como solução, matar o seu próximo.


Sabendo que a guerra é a forma de barbárie mais primitiva pelo aparecimento dos elementos mais arcaicos e destrutivos que existe no homem, o despojamento das armas seria o melhor sinal da abdicação desses instintos e desejos incontroláveis.


Ah, se cada guerreiro soubesse que ele também é como uma moeda, tendo também duas faces distintas em seu ser. Ao se situar do lado do bem, querendo exterminar o “mal” na pessoa do seu inimigo, ele sem querer está destruindo a si mesmo. Coitado desse valente soldado, não sabe que está ferindo gravemente a sua face encoberta, ao tirar a vida do seu semelhante.


Ensaio por Levi B. santos
Guarabira, 04 de Janeiro de 2009






4 comentários:

Leonardo Gonçalves disse...

Alô Levi,

Finalmente voltei à ativa depois de uma semana e meia de "greve", na qual postei um único artigo pré-montado que já tinha guardado no computador (uma espécie de "Ás" na manga, rs).

***
Agora vamos falar desse post:

O que mais me espanta no ser humano é a frieza com que encaramos o sofrimento das outras pessoas, o chamado "Problema do Mal". Note que eu acabei de fazer uma piadinha acerca do meu "Ás" na manga, com direito a risadinha e tudo no final, e isso logo de haver terminado a leitura de um texto de conotação forte que expõe a carnificina, a enxurrada de sangue que lava as ruas de Gaza.

Acompanhar as notícias sobre a investida militar de Israel na faixa de Gaza me fez refletir um pouco acerca do Armagedom. Não é que eu ache que o mundo vá acabar amanhã: Falo isso porque creio que essa guerra tem revelado a "outra face", o pior lado de Israel. Os judeus até então eram as vítimas, uma nação que varias vezes foi alvo de campanhas militares covardes. Porém hoje é exatamente o contrário! Veja como essa guerra tem contribuido para a formação de uma imagem negativa acerca de Israel: Vários presidentes ao redor do mundo fizeram pronunciamentos contra os nossos amigos "hebreus". O mundo está voltando a odiá-los, e é só uma questão de tempo para algum presidente meter o bedelho na guerra alheia, instaurando o colapso mundial. Se isso acontecer (e Deus nos livre de que aconteça), veremos as nações do mundo se voltando contra Israel e alguns poucos a favor (Os EUA provavelmente será um deles), e uma III Guerra mundial. Aquele oriente médio é como uma dessas bolas de aniversário: se apertar um pouquinho, estoura!

O pior é que em meio as nossas elucubrações filosóficas, históricas e teológicas, nós acabamos esquecendo do maior de todos os danos ocasionados pela guerra: o sofrimento indizível de centenas de famílias que choram a perda dos seus entes queridos, ou ainda que amargam mutilações e ferimentos de toda espécie.

Por último, acabo de me lembrar daquele coronel no filme do Rambo, que diz para o soldado cansado que queria se aposentar: "Você é uma máquina de matar!". Creio o coronel podia muito bem estar falando com o mundo, denunciando aquilo que de pior temos dentro de nós. Somos como o Rambo: uma máquina de crueldade, com a única diferença de que essa crueldade foi amortecida pela graça transformadora de Deus.

Sim! Somente a sublime e inexplicável graça de Jesus pode converter corações empedernidos, tranformando-os em corações de carne. Só a graça de Deus, aliada ao evangelho de Cristo, é capaz de substituir o ódio por altruísmo e ensinar-nos a amar os inimigos, bendizer os que nos maldizem, e orar pelos que nos perseguem.

Abraço Fraterno,

Leonardo G. Silva

Anônimo disse...

O canário na mina

Dr. Ellis Washington, professor de direito e ciências políticas na Universidade Estadual de Savannah, EUA

"Neste exato momento, temos de ir de resposta passiva para ataque ativo… A longo prazo, a derrubada do governo do Hamas é inevitável". — Benjamin Netanyahu, líder do Partido Likud

No passado, fiquei sabendo, os trabalhadores de minas de carvão costumavam baixar uma gaiola com um canarinho nas minas a fim de apurar se havia presença de níveis de gás metano, dióxido de carbono ou outros gases nocivos. A lógica era que enquanto o canário prosseguisse cantando na mina, os mineiros sabiam que seu abastecimento de ar estava seguro. Mas quando o canto cessava, era hora de deixar a mina imediatamente, pois a morte viria sem demora.

Esse simples raciocínio dedutivo durou muitos anos e salvou muitas vidas, mas em nossa moderna época tecnológica, as nações do mundo parecem ter se esquecido do único país que falando metaforicamente é o canarinho que diariamente canta sua melodia sóbria para este mundo pervertido e psicopático — esse canário na mina é o povo judeu e a nação de Israel.

Três anos atrás, Israel deu Gaza aos palestinos. Em troca, Israel recebeu milhares de ataques de foguetes, sem nenhuma provocação. Na véspera do Ano Novo, no dia antes de 2009, o canário na mina está sendo asfixiado pelo ódio muçulmano, pela apatia mundial e pelo anti-semitismo da ONU que cerca o Estado judeu, e depois de anos de paciência está finalmente lutando corajosamente por sua sobrevivência.

Minhas perguntas aos meus amigos judeus são estas:

1. Por que vocês continuamente dão aos seus inimigos declarados, os muçulmanos palestinos, a terra de vocês — Gaza, a Margem Ocidental (a parte mais importante da Judéia), Hebron, Belém, metade de Jerusalém —, que é por direito de herança de vocês, dada a vocês pelo próprio Deus, fato que é detalhadamente registrado na Torá?

2. Por que vocês permitiram que a ONU anti-semita e corruptos líderes mundiais anti-semitas que odeiam a existência de vocês levem vocês à loucura política mediante insustentáveis medidas geopolíticas — a "Solução de Dois Estados", "terra em troca de paz" e "diplomacia bilateral"?

3. O fato de que Israel tenha dado terra em troca de paz deu a vocês um só dia de paz? Uma só hora de paz? Um só segundo de paz? Não, é claro que não, pois o Hamas, o Fatah e as nações árabes e muçulmanas não querem paz; elas querem Israel completamente fora da terra de Israel. Israel, você não tem amigo nenhum, você não tem nenhum aliado neste mundo, a não ser o exército de Israel e a vontade de cumprir seu destino e o Deus da Torá.

Israel, você sabe que as 44 nações muçulmanas odeiam você por ordem religiosa, os países socialistas assistencialistas da Europa ocidental odeiam você por ordem política, as nações comunistas e tirânicas odeiam você por ordem ideológica e praticamente o mundo inteiro está contra você porque eles não crêem nas profecias bíblicas de que os judeus são na verdade "o povo escolhido de Deus". Seu único aliado no mundo, os Estados Unidos, são na melhor das hipóteses um amigo instável que, logo que Barack Obama for empossado como presidente dos EUA, trairá você, vendendo você aos países muçulmanos exatamente como o Presidente Bush traiu e vendeu Israel para seus amigos da Arábia Saudita. (Recorda Bush passeando pelos jardins da Casa Branca ou em seu rancho no Texas de mãos dadas com o Princípe Abdullah, como duas menininhas de escola? Foi um espetáculo realmente de dar nojo.)

Deixando de lado a questão política por um momento, qual é o país racional e civilizado na terra que toleraria ataques terroristas por oito minutos, sem mencionar oitos anos de incessantes ataques a bombas lançados por seus vizinhos — sem nenhuma retaliação? O governo brasileiro permitiria que o Uruguai ou a Argentina tivesse o direito de lançar ataques não provocados contra o Brasil e seus cidadãos no nome da paz?* Os EUA permitiriam que o Hamas, a al-Qaida, o Talibã, o Hezbollah ou algum outro grupo terrorista tivesse acesso livre para entrar em nosso país, lançar foguetes mortais em nosso país, tudo no nome da paz, sem que cobrássemos uma retaliação e castigo imediato? O Egito, a Turquia, a Alemanha, a Rússia, a China, o Irã, a Síria ou algum dos muitos países membros da ONU que criticam o minúsculo país de Israel e suas tentativas desesperadas de proteger suas fronteiras permite que o Hamas lance 3.000 foguetes num de seus países? Com toda certeza, não!

Aliás, o canário está tossindo por causa do forte cheiro de fumaça na mina de carvão enquanto o mundo diz para si mesmo: "É seguro entrar na mina de carvão para trabalhar. Só porque Israel está morrendo não significa que nós morreremos". Será?

Uma notícia da Associated Press sobre a guerra em Gaza declara:

O ataque produziu uma conseqüência diplomática negativa. A Síria decidiu suspender as conversações de paz indiretas com Israel, iniciadas no começo deste ano. O Conselho de Segurança da ONU pediu que ambos os lados parem a luta e pediu que Israel permita que suprimentos humanitários entrem em Gaza. O primeiro-ministro da Turquia, um dos únicos países muçulmanos a ter relações com Israel, chamou o ataque de Israel de um "crime contra a humanidade", e o presidente francês Nicolas Sarkozy condenou "as provocações que levaram a essa situação bem como o uso desproporcionado de força".

Essa reação bizarra e pervertida do mundo contra o direito de Israel se defender dos foguetes do Hamas parece vir não de nações prudentes e civilizadas, mas de manicômios.

"O liberalismo é uma doença mental", escreveu o intelectual conservador Michael Savage em seu best-seller de título semelhante em 2005. "O socialismo", caracterizou com muita perspicácia Winston Churchill, "é uma filosofia de fracasso, uma doutrina de ignorância e um evangelho de inveja, sua virtude herdada é a distribuição igual da miséria". Infelizmente, o Israel moderno é um Estado socialista e parece a caminho do inferno ao adotar o liberalismo como sua política interna e externa. Israel precisa abandonar o liberalismo, o socialismo, a forçada igualdade de tudo e se desprender da filosofia autodestrutiva de buscar o favor dos países que têm aliança e compromisso com o islamismo, o socialismo e o relativismo moral.

Enquanto o canarinho canta sua melodia triste, considere essas observações:

O Irã está dando os últimos retoques em seus mísseis nucleares concebidos com o único propósito de aniquilar Israel;

Pela primeira vez altas autoridades militares da Rússia e China estão discutindo acordos bilaterais por meio de ligações telefônicas diretas;

A China possui o estrategicamente crucial Canal do Panamá que os Estados Unidos construíram durante o governo do presidente Theodore Roosevelt há 100 anos;

A Rússia ousadamente e sem desafio restabelece sua Cortina de Ferro na América do Sul, Cuba (que fica a 60 quilômetros da fronteira americana), a Geórgia, o Iraque, o Oriente Médio e em toda a África;

Um bando de piratas da Somália em barcos de alta velocidade está controlando o Golfo de Aden, extraindo centenas de milhões de dólares em pagamentos de resgates;

E a secretária de estado dos EUA, a Dra. Condi Rice, está se encontrando na maior calma com o terrorista da Líbia, Muamar Gadhafi, e numa entrevista poucos dias atrás fez esta surpreendente confissão: "Não tenho uma personalidade agressiva", sendo compelida a exercer diplomacia com personalidades agressivas corruptas, totalitárias e assassinas do mundo inteiro.

A promessa solene de Deus a Abraão, o pai do povo judeu, claramente delineava a ligação e destino inextricável de Israel com as nações do mundo — Gênesis 12:13: "E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra."

À medida que esta grande tragédia shakespeariana chega à sua inevitável apoteose, a menos que os líderes de boa vontade e homens reais de determinação moral cheguem a seus sentidos coletivos, então as nações civilizadas do mundo não ficarão muito atrás desse canarinho que luta para cantar sua triste canção de vida… das profundezas das minas.

J. S.

Levi B. Santos disse...

Caro Leonardo

Seu comentário foi muito pertinente. Enquanto estava lendo-o comecei a voar na imaginação. Sabe o que pensei meu caro?

Pensei de forma antropológica. Pensei em um Deus cansado de guerra, enviando o seu Filho para pregar um outro reino. Um reino que não era baseado em qualquer tipo de possessão aqui na terra. E esse reino é totalmente incompatível com as armas dos guerreiros de hoje. Quando Deus enviou o seu Filho, Ele deve ter pensado: Agora eu não sou mais aquele Senhor dos “exércitos do velho testamento”. A minha promessa não é mais terra, bens imóveis e móveis, etc (perdão à Universal). O meu reino é resgatar o homem, dessa visão terrena e efêmera.

Uma minha amiga que mora em Israel há mais de 10 anos, fez três comentários para o texto que postei “BOMBARDEIOS NO NATAL DA TERRA SANTA”. Num deles, ela se refere sobre a veracidade de que 95% dos judeus não crêem nos evangelhos. Sendo assim o “Armagedom” de que você falou, poderá ser a conseqüência natural desse desenrolar de violência.
Estamos debaixo da graça, por isso mesmo, nos indignamos, como Cristo se indignou, diante de quadros como os que estamos assistindo na Palestina.

Cordialmente,
Levi B. Santos

Leonardo Gonçalves disse...

Paz Levi,

Estou enviando um texto que está no blog do Reinaldo Azevedo.


A CARNE BARATA DAS CRIANÇAS PALESTINAS

Certo! Pode-se afirmar que os militantes do Hamas só usam cadáveres de crianças como bandeiras porque, afinal, há cadáveres de crianças. Sem dúvida, em qualquer guerra, elas são as vítimas que mais chocam e constrangem. Mas o que os terroristas fizeram para poupá-las? Nada! Ao contrário! A carne das crianças palestinas ou das crianças libanesas do Sul do Líbano são as mais baratas do Oriente Médio. Os militantes do Hamas e do Hezbolhah, respectivamente, escondem-se em meio à população civil. A cada criança morta, um triunfo. A imprensa dos países islâmicos faz o uso esperado dos cadáveres. E a dos países ocidentais não fica atrás. A primeira investe no vitimismo; a segunda, na perversão humanista.

A foto de uma criança palestina com lágrimas nos olhos vale por milhares de editoriais censurando Israel. O que sai do olhar treinado e estudado do fotógrafo assume as características de um flagrante. O que é uma escolha confunde-se com um registro objetivo da guerra. Imagens com essas características valem por perguntas: "Mas onde estão as criancinhas israelenses? Cadê os cadáveres dos infantes judeus?". Também induzem algumas respostas: "Sem elas, só se pode concluir uma coisa: trata-se de uma luta desigual! De uma reação desproporcional! Precisamos de mais cadáveres de judeus para que possamos, então, ser compreensivos com Israel".

E o ato essencialmente imoral do terrorismo islâmico — mais um — perde relevo para a comoção. Mais eficientes do que os foguetes do Hamas, são os cadáveres das crianças palestinas. São bombas de efeito moral que explodem no território israelense e demonizam um país que só não foi extinto em razão da sua tenacidade — também a militar. "Ora, então Israel que evite a reação". É? E como agir, então, para conter o agressor? Reação proporcional?

Reação proporcional? Deve-se levar isso a sério? Terão os israelenses de fabricar seus foguetes quase domésticos par jogar em Gaza ou no Sul do Líbano? Seria legítimo treinar homens-bomba, que morreriam, então, em nome de Iahweh? Devem os israelenses ser "proporcionais" também no nível de exposição de seu próprio povo à fúria do inimigo, de sorte que também possam exibir, com vitimismo triunfante, seus cadáveres pelas ruas, passando-os de mão em mão, numa espécie de catarse da morte?

De fato, Israel não tem saída. A não ser lutar. A guerra de propaganda contra os adoradores de cadáveres, o país já perdeu. Resta-lhe fazer todos os esforços para não ser derrotado no terreno propriamente militar. É a sua contribuição do momento ao triunfo da civilização.