Por vinte séculos a igreja vem pregando a salvação, a graça e o perdão de Deus a uma humanidade assediada pelo medo e pela culpa. Uma das noções que mais prejudicam as pessoas que anseiam pela GRAÇA e que está tão arraigada na mente humana, é a questão de que “tudo tem que ser pago”. Mesmo sabendo que Cristo tomou sobre si nossas culpas, as pessoas não abrem mão de seu passado cheio de faltas e falhas e, nem parecem demonstrar que foram perdoadas, vivendo como se estivessem sendo corroídas por dentro angustiadamente.
As práticas do passado, volta e meia, passam a cercear a liberdade do cristão, como um fantasma que o acusa de não ter sido absolvido de suas atitudes pregressas. Segundo o cristão e psiquiatra suíço Paul Tournier, tudo isso se passa como uma forma de punição que o sofredor administra a si mesmo, e continua repetindo indefinidamente como uma espécie de fatalidade inexorável. Nunca foi o projeto do evangelho, extinguir a nossa espontaneidade para nos transformar em “autômatos”.
Estamos vivendo numa época em que os julgamentos apregoados por certos guias espirituais estão disseminando o medo e alimentando a culpa. E, se não vigiarmos, esse amargo veneno pode até nos esterilizar e nos impedir de produzir os verdadeiros frutos.
Numa época em que tanto se acusa, tanto se amedronta, tanto se castiga, é preciso que nos debrucemos, mais uma vez, para uma reflexão sincera e profunda sobre o emblemático caso da mulher apanhada em adultério, narrado nos evangelhos. A nossa atenção deve estar redobrada para entender que nessa história, o objetivo da acusação dos guardiões da Lei não se baseava em um preconceito social ou moralista. Eles acusavam a mulher pecadora valendo-se de uma citação das Escrituras Sagradas, no intuito de atemorizar Cristo, quanto a uma resposta que pudesse contestar o que preconizava a Lei. Disseram eles:
“E na lei mandou Moisés, que tais mulheres sejam apedrejadas. Tu, pois, o que dizes?”
É nesse momento que o Mestre dos Mestres opera a mais estranha inversão. Ele apaga a culpa que esmagava a mulher e ao mesmo tempo suscita culpa naqueles que supostamente não a experimentavam: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a lhe condenar”. Em termos psicológicos, esta instigante resposta de Cristo pode ser assim explicada: “Deus apagou a culpa consciente da pecadora, e tornou consciente a culpa reprimida dos seus acusadores”.
Vejamos agora um exemplo de um aparente conselho ou julgamento em que está embutida a semente do medo pelo reforço da culpa:
“A mãe vendo a filha chorar a morte de seu pai, insinua: ‘não chore por seu pai, ele morreu porque você não era boazinha. Agora você vai ter que me obedecer!’”.
Traduzindo as palavras da mãe, veremos que ela inconscientemente semeou culpa, para depois exigir através do medo, uma obediência sem questionamento. Lá no fundo, a mãe exigia a submissão da filha como expiação pelo suposto pecado de ter sido um entrave na vida do pai.
Não é raro vermos em nosso meio, pessoas zelosas em socorro aos doentes e necessitados, como também não é raro vermos os que esmagam os enfermos com testemunhos conflitantes, que dão a entender que o doente não sara, porque lhe falta a fé. E a pessoa que já carrega a culpa por estar doente, agora acrescenta uma outra bem mais grave: a idéia de ter culpa porque não tem fé para ser curado.
Já é tempo de revisarmos conceitos e paradigmas arcaicos, para entender que a finalidade da religião é libertar e não esmagar. É libertar da culpa e não culpar. É tornar o jugo suave e não árduo. É tornar o fardo leve e não pesado
Não é brandindo a espada do medo que iremos salvar os que estão se afogando nas águas turvas, revoltas e profundas desse imenso oceano que são as trevas da ignorância. A palavra ameaçadora, filha do medo, ao invés de ajudar as almas a não naufragarem, antes semeia a intranqüilidade que as leva mais rápido ao fundo do abismo.
Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 03 de Janeiro de 2009
2 comentários:
Caro Levi, boa postagem, mas como tenho que fazer um comentário, o faço com passagens que dá uma luz aqueles instigam o medo e a culpa para se favorecerem de tal situação; mas ainda temos aquelesd que pregam o genuíno Evangelho perdoador que diz: "Vai e não peques mais".
Ainda temos a palavra de Jesus: "Conhecereia a verdade e a verdade vos libertará", Jo 8.32.
Romanos 14:22 "A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova."
1 João 3:20 "sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração e conhece todas as coisas.
1 João 3:21 Amados, se o nosso coração nos não condena, temos confiança para com Deus;"
Um abraço
http://bereiano.blogspot.com
culpa e medo são antagonicos,você pode ser sentir culpado por algo que fez mas não o fez por medo.Fez porque quis,agora culpa é algo que te perturba a nossa mente.Excelente postagem.
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