25 abril 2009

A CARNE É FRACA




Nas inquietações e amarguras da vida, intercaladas por instantes de alegrias, tento me manter sóbrio e lúcido, tateando com a débil e ilusória luz do intelecto, o comando do meu próprio destino.


Às vezes tento uma saída desesperada para além dos meus limites. Tudo não passa de um esforço em vão. No meu sufocante delírio, busco desvendar o mistério da vida e da morte. E o que recolho? Recolho apenas as migalhas dos anseios da minha carne transitória.


Tento ir mais além, querendo suplantar o espaço e o tempo. E o que vejo: só miragens. Cada vez que forcejo para sondar o invisível, afundo ainda mais os pés na lama de minha própria ignorância.


Só posso dizer para minhas entranhas estremecidas: “Alma débil! Coração ingênuo, acalma-te, sujeita-te a pequenez do teu pobre e insensato universo. És criatura frágil vinda do barro em que pisas. De que vale golpeares o caos na marcha para o futuro, se arrancas somente sonhos e quimeras, que não passam de efêmeras centelhas de um cérebro incapaz”.


Posso ser livre? Em minha marcha, como posso seguir os ditames do meu pensamento, se ouço dentro do peito um grito? ─ “Por que te empenhas em seguir o Invisível através do desvario de teus próprios sentimentos?” “Chegarás sim, ao lugar de onde partiste, se reconheceres que nada és”.


Não tenho outro caminho. Meu primeiro dever é Te aceitar sem revolta. É reconhecer os limites de minha mente. É trabalhar sol a sol sem protestos e sem desfalecimentos. É viver constantemente desconstruindo-me e reconstruindo-me , em meio ao caos agitado da vida.


Então, para não vacilar e cair, ergo estacas, crio fortalezas, planto ervas para que elas possam mais tarde saciar as minhas graves necessidades. Contenho-me, pois na minha mente, só posso apreender o que a minha visão capta: a fumaça das aparências que escondem a Tua essência.


Mas dessa lama humana, algo me diz que pode jorrar canções divinas, superior a todos os meus propósitos de desvendar com a razão, os mistérios insondáveis que permeiam a minha alma. Reconheço que sou pusilânime, mesquinho e insignificante, mas algo me impele a prosseguir nessa marcha, combatendo dentro da pequena arena acanhada do meu coração. O que me anima, é ter a certeza de que um Deus em um corpo carnal como o meu, fez uma marcha em sentido inverso, descendo de seu trono para me trazer esperança e Paz, em meio ao caos de um mundo injusto e cruel. Esse Deus que encarnou em seu Filho, para me dizer: “[...] o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Marcos 14 : 38)



Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 25 de abril de 2009







21 abril 2009

O VELHO DO ANDOR




É sempre na época em que se celebra a páscoa, que vem à tona, inusitados fatos dos tempos de minha meninice, que ainda guardo indelevelmente na memória.

Ainda hoje, aos sessenta e dois anos de idade, toda vez que visito a minha mãe, no tradicional feriado da Sexta Feira da Paixão, assisto ao mesmo ritual dos tempos dos meus verdes anos. A procissão do “Senhor morto” ainda faz o mesmo trajeto de décadas atrás. Como o velho bangalô dos meus pais fica encravado no topo da ladeira da longa e retilínea avenida central da cidade, fico como um expectador privilegiado de um dos mais antigos rituais da igreja católica.

Foi ali, na murada da sacada de minha casa, que eu senti os meus primeiros terrores, os meus primeiros medos, ao ver se aproximar lentamente, em meio a uma grande multidão, a imagem do Senhor morto carregado em um andor, por quatro homens impecavelmente trajados de branco. Era tão perfeita a estátua, que cheguei, por diversas vezes, a duvidar se aquilo não era um cadáver de verdade: A pele do corpo seminu com a palidez semelhante a dos mortos, os olhos esbugalhados como se estivessem querendo sair das órbitas. E não é que o temor e tremor que tomavam conta de mim naqueles momentos, na minha imaginação, me faziam ver os dedões dos pés do Cristo morto, se mexer!

De início, eu vedava os meus olhos com as mãos, visivelmente atemorizado com àquele fúnebre espetáculo, cujo fundo musical era uma espécie de ladainha lúgubre e chorosa. Mas com o tempo fui perdendo o medo.

Já rapazote, por ocasião das procissões, eu resolvi deixar o Senhor morto de lado, passando a me concentrar mais na figura de um alto e vigoroso homem garbosamente vestido com sua finíssima indumentária branca. Ele fazia parte da dupla da frente que carregava o andor do Senhor morto. A sua posição por ser sempre a do lado direito, fazia-me ver em mais detalhes as peculiaridades de sua fisionomia.

Passaram-se alguns anos. Eu estava na praça central de minha cidade participando com os crentes de todas as denominações, da comemoração do dia da Bíblia, quando ouvi o preletor oficial bradar em alta voz:

- Peço nesse momento, para todos que estão aqui reunidos, erguerem bem alto, o que de melhor vocês adquiriram em suas vidas!

De repente, sobre nossas cabeças surgiu um mar imenso de bíblias de todas as cores, formatos e volumes, tremulando como se fossem estrelas brilhando em plena luz do dia. Mas, algo atiçou a minha curiosidade para saber de quem era aquele braço levantado tão alto, que fazia sua bíblia sobressair sobre as demais. Grande foi a minha surpresa ao constatar, que o volumoso livro de capa preta com o nome Bíblia na cor prateada, era do velho do andor, que passava perto de mim, todo ano, carregando o senhor morto nos ombros e na sua mão direita. Era ele mesmo em carne e osso. Pensei comigo: “o velho finalmente tinha deixado a sua religião, para ser um crente”.

Decorreram alguns anos. Eu, agora estudante da quarta série ginasial, fora indicado junto com outro colega, para fazer uma entrevista com os alunos do Mobral ─ um programa instituído pelo Governo para alfabetização de idosos, que alguns mais afoitos diziam ser destinado unicamente para fins eleitoreiros, pois ensinavam só assinar o nome, para que a pessoa pudesse tirar o seu título de eleitor.

Ao adentrar a escola ─ um casarão velho cheirando a mofo, com extensas áreas das paredes com reboco caído ─, fui surpreendido de tal forma, que fiquei com as pernas trêmulas. Lá no canto direito da sala estava o velho do andor sentado em uma carteira colegial, vestido de branco, como sempre. A segunda surpresa que tive: ele estava sem o seu volumoso livro de capa preta. Sentindo uma vaga tontura, permaneci parado por alguns minutos, antes de esboçar qualquer reação. Apesar de minha enorme timidez, algo lá dentro me dizia: “Coragem! Entreviste o velho do andor!.”

Recebi a autorização da diretora, e me dirigi cambaleante em direção ao velho do andor, para a minha primeira e emblemática entrevista como estudante.

A sala estava abafada, pois só havia uma janela lateral para entrada da brisa do fim de tarde. Após saudá-lo com um “boa tarde”, perguntei o seu nome. Ele me respondeu com a voz arrastada e cansada, devido o peso da idade:

─ Me chamo de Tomaz da Cruz Pordeus ─ falou com a voz desgastada pelo peso da idade.
Pronto disse comigo mesmo: era só o que faltava ─ , o homem tem religião até no nome.
Parti então para minha segunda pergunta ─ um tanto mal educada:

─ Seu Tomaz! O que levou o senhor nessa idade a procurar aprender a ler e a escrever?

─ Meu filho, estou aqui para aprender a ler, a fim de poder examinar as Escrituras Sagradas, pois, acredito que elas testificam de Deus e seu Filho Jesus. Quero ter a minha própria experiência, para não andar só pela cabeça dos outros – concluiu o velho dando uma tossida rouca no final da locução.

A resposta do velho do andor me desnorteou por completo, levando-me irrefletidamente a perguntar:

─ Mas o senhor já é crente! Eu o avistei, com sua mão direita fortemente empunhando uma bíblia, numa concentração cristã, lá na praça!

─ Meu filho, entre pensar e ser, vai uma grande distância. Eu pensava que era crente. Para felicidade minha, descobri que eu tinha apenas trocado de andor, isto é, trocado de ídolos. Descobri que a sensação que eu sentia ao carregar o andor do Senhor morto, segurando-o arrojadamente na minha mão direita, era a mesma que sentia quando empunhava a minha Bíblia. O meu maior prazer era carregá-la como um amuleto. Por muitas vezes, cheguei a colocar debaixo do meu travesseiro, para ver se acordava mais crente.

O velho do andor despertara-me para enxergar o óbvio: eu estava vivendo, até então, pelo viés das aparências, seguindo um batalhão de mosqueteiros, caminhando para lugar nenhum.

Apesar de ter nascido num lar cristão, e ser um igrejeiro contumaz, tinha ali, naquela breve e significativa entrevista, recebido a maior lição de minha vida. Lição esta que fez desmoronar o falso e frágil alicerce do meu aparente mundo religioso.

Sai dali sozinho, tímido e fraco, mas aliviado do peso forte das certezas acabadas, livre da amarga água do poço, com que saciaram a minha débil e imatura sede de Deus.



Ensaio por Levi B. Santos
Guarabira, 21 de abril de 2009

18 abril 2009

O ENSAIOS & PROSAS RECEBE PREMIAÇÃO






Este selo "melhores blogs da cristandade" foi um presente de primeiro aniversário do AMENIDADES DA CRISTANDADE, dedicado ao seu rol de blogueiros cristãos amigos. O parceiro de link Teóphilo Noturno do blog Este Mundo Jaz no Maligno ,foi quem me indicou para essa premiação, a quem agradeço de coração, nesse momento.

De acordo com as regras de premiação de selos, passo a indicar sete blogs para esse honroso distintivo. Aí vão eles:

Psicoterapeuta Cristão

Blog da Vanessa

Humor Cristão

Ministério Palavra de Esperança

Crônicas de Um Observador

Exejegues

Devocionais, Reflexões e Crônicas




Para receber o selo, se faz necessário seguir as seguintes regras:

1) Colocar o link do blog que ofereceu o prêmio ao seu blog;

2) Escolher outros sete blogs de conteúdo cristão (não importando a corrente ou denominação) para receber a premiação e colocar seus links no post que consta a premiação;

3) Comunicar os blogs premiados;

4) Colocar as regras e a imagem do selo no post de premiação.


Guarabira, 18 de abril de 2009

16 abril 2009

O SONHO QUE ABRIU MEUS OLHOS



..........Tudo não passara de um sonho que tive acordado. Deixei-me, por um instante, ficar cego para o mundo exterior, para que os olhos da minha alma pudessem ver e sondar as profundezas, até então, indevassáveis do meu ser.

No sonho, eu via duas células se juntando. Logo depois elas davam origem a um embrião, que por sua vez se transformava em feto. De repente, uma mulher me apareceu em dores de parto. Percebi após um momento de silêncio, um choro forte de um bebê. Ouvi vozes ao longe: “Nasceu o filho da virgem Maria”. Num segundo, lá eu estava vendo cenas da curta infância do Filho do carpinteiro José. De repente, ele me apareceu aos doze anos, corpo franzino, desengonçado, tinha a cabeleira vasta e desalinhada. Ainda tão criança já estava cuidando das coisas de seu Pai: discutindo religião com os mestres no Templo. Vi-me mergulhado no pequeno mundo dessa tenra criança. Emocionei-me ao vê-Lo aos trinta anos, começando um breve e marcante ministério. Pude ver cenas de verdadeiros milagres. Vi muitas pessoas humildes reunidas ao seu redor, ouvindo em silêncio as suas interessantes lições sobre um Reino muito diferente daqueles que os fariseus preconizavam. Vi também homens que o perseguiam, e, eram esses homens, justamente, os sucessores de Moisés, que tinham a função de zelar pela Lei. Pela maneira que esses homens se comportavam, dava para perceber que estavam fazendo ali um “conchavo” de natureza política. Deu para notar sobre quem falavam. “É melhor que Ele morra, para que não percamos os nossos cargos” , deu para ouvir claramente.

Via-O agora aos trinta e três anos de idade, diante de uma corte de juízes. Ouvi ecoar o brado do veredicto: “será condenado à morte de cruz” , pena máxima para o horrendo pecado de blasfêmia.

Vi depois, um túmulo vazio. Vozes diziam: “ele não está mais aqui”.

Fui transportado para um outro plano. Tinha chegado ao topo de uma colina, com o coração batendo forte, lutando bravamente para impedir a fuga do tempo, que teimava em avançar na sua corrida implacável, deixando dias, semanas, meses e anos para trás.

A uma distância de poucos metros, estava agora diante de dois homens. A certeza veio num estalo: estava presenciando um encontro inusitado entre um Pai e seu Filho. Cheguei mais para perto deles, pisando em lã, para não fazer barulho e não atrapalhar o significativo diálogo entre eles. Pena, que tenha perdido o começo da história que o Filho contava para o Pai, de maneira entusiástica.

Agucei bem os meus ouvidos para escutar a maravilhosa prestação de contas entre o Filho e seu querido Pai. Sentei-me de costas para uma escarpa, cuidadosamente, para não romper com o encanto daquele esplêndido quadro.

No oculto de minha doce solidão, transformei-me num expectador privilegiado de um diálogo, que mais tarde, me abriria os olhos para uma evidência maravilhosa. O diálogo emblemático, assim transcorreu:

─ Corri o risco de nunca mais voltar ─ disse o Filho para o Pai de olhar circunspeto.

─ Não havia outra alternativa para resgatar os filhos da minha maior obra da criação ─ respondeu o Pai ao seu Filho, em tom resignado. ─ Já estava cansado de tantas guerras contra os inimigos do povo que escolhi com tanto amor. Abrão, Moisés, Jacó, Davi foram grandes líderes, mas falharam na hora “H”. Todos foram tentados em seus próprios desejos, e, em maior ou menor grau, sucumbiram às artimanhas da geração daquele que, apesar de ser o mais belo e formoso dos anjos da minha corte, rebelou-se e quis usurpar o meu trono, motivo pelo qual foi lançado nas profundezas caóticas da terra.

 Compreendemos que, o maior inimigo do homem não era o seu semelhante  afirmou o Pai para o seu Filho.  A maior guerra, na verdade, estava sendo travada dentro do próprio indivíduo, entre as forças do mal e a sua consciência regida pela moral e ética que os ditames da minha Lei requeriam. Tornar esse fato, consciente, foi a razão maior do pacto que fiz contigo  concluiu o Pai, pousando suavemente a sua mão direita sobre a cabeça do Filho.

─ Não foi fácil meu Pai  disse o Filho franzindo o cenho. ─ Instintos medonhos habitam o oceano tenebroso da alma humana. Mergulhei profundamente no abismo profundo desse mar, onde dormem monstros terríveis que não podem ser despertados. Que pude comprovar, senão que a carne é fraca? Todas as vicissitudes e desejos humanos moeram-me por dentro. Doei–me de corpo e alma para viver a tragicidade da condição humana. Por isso mesmo me dispus perante Ti, a ser advogado de todos que me aceitaram como teu Filho, para perdoá-los em suas fraquezas. Está escrito que o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Não poderia entendê-los se o meu relacionamento fosse dentro de uma relação “Senhor  escravo”. Eram escravos e eu os transformei em amigos, para que vissem em mim um irmão, e não um senhor. Fiz-me igual a eles para ganhar a sua confiança, afim de que pudessem crer em Ti, através de mim. Desejos atrozes quiseram me dominar. Angustiei-me muitas vezes. Indignei-me com os que fizeram da Tua casa um covil de ladrões. Fui surpreendido com a fé de alguns que não eram judeus. Comovi-me com os que sofreram a perda de parentes próximos. Chorei sobre Jerusalém. Amei e intercedi pelos saudosos discípulos que me deste, os quais, foram uma parte de mim na nobre missão que me confiaste.

Eu ouvia tudo isso com o coração contrito, mas algo na minha imaginação, não encontrava eco em minha própria consciência. Sabia de antemão que Deus por ninguém é tentado. Como compreender que Ele entregara o seu único filho para ser tentado pelo veneno dos desejos pervertidos da milícia de anjos caídos que tinham como poderoso chefão, o ex-anjo de Luz, e agora Rei das trevas?

Ao ouvir atentamente toda a conversa entre eles, a minha mente, que até então estava obscurecida, abrira-se para a compreensão de que Cristo tinha inaugurado uma nova aliança, com o ser humano sob a égide da fraternidade. Fizera nascer o amor entre os irmãos. A barra transversal da cruz onde ficaram estendidos os seus braços na horizontalidade, passou a ser o símbolo maior dessa comunhão entre irmãos.

O inusitado diálogo do meu sonho acordado, trouxe-me à tona o “porquê” de Deus ter abandonado o seu Filho na cruz, a sua própria sorte. Por ter vivenciado todas as vicissitudes do drama humano, sem pecar, coube a Ele, assumir as conseqüências do pecado do homem, sacrificando-se até a morte, para religá-lo com o seu Criador.

Um clarão assomou a minha mente, fazendo-me lembrar do que estava escrito em Hebreus 4: 15: “Pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas, porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.

Antes de despertar do meu sonho acordado, vi o Pai levantar-se do seu trono e dar um forte abraço no seu Filho único.

Antes de se retirar, tive a impressão de ver o Filho dirigir o seu olhar até onde eu estava. Não tive dúvida de que foi para mim que ele falou, encerrando o maravilhoso diálogo.

 Agora meu Pai, entendendo que a guerra interior entre a carne e o espírito é cruel e ininterrupta, toda vez que o homem fraquejar, Eu intercederei por ele, para que a Tua misericórdia o alcance  finalizou o Filho.

Foi essa frase conclusiva que me despertou do sonho acordado, abrindo os meus olhos interiores para enxergar que não estava só na minha caminhada , havia um amigo e irmão sempre ao meu lado, em qualquer situação.



Ensaio por Levi B. Santos

Guarabira, 16 de abril de 2009


10 abril 2009

“O PAI NOSSO” ─ MODELO EMPRESARIAL GOSPEL



Pai nosso, que estais nos céus,
Comercializado seja o vosso Nome.
Venha a nós muito dinheiro.
Seja feita a nossa vontade:
Mansões na terra e um lar no céu.




O milhão nosso de cada dia, nos dai hoje.
Perdoai as nossas dívidas,
Assim como nós as cobramos dos nossos devedores.
Não nos deixeis cair em nossas armações,
Mas livrai-nos do fiscal.




Porque este reino, e este poder,
São a nossa glória para sempre.
AMÉM.




Por Levi B. Santos
Guarabira, 10 de abril de 2009

07 abril 2009

EU DUVIDO DESSE "DEUS"




Não tenho dúvida da existência de Deus. Mas duvido dos discursos atuais acerca de Sua existência.



Não tenho dúvida de que Deus fala através do homem. Mas duvido do que profetizam em nome desse Deus.



Não tenho dúvida de que Deus tem poder. Mas duvido dos poderes que são atribuídos a Ele.



Não tenho dúvida de que Deus deu o seu Filho de graça em sacrifício por nós pecadores. Mas duvido do Deus que faz exigências extravagantes e ameaças de castigo para que se possa segui-Lo.



Não tenho dúvida de que Deus se manifesta no coração humano. Mas duvido das manifestações absurdas que dizem partir Dele.



Não tenho dúvida de que Deus se fez carne para ser o maior amigo do homem. Mas duvido de um Deus que se fez carne para nos fazer de súditos.



Não tenho dúvida de que quem O aceita, já tem vida eterna. Mas duvido dos que O aceitaram, e ainda não tem vida eterna.



Não tenho dúvida de que Jesus foi tentado em seus próprios desejos. Mas duvido da pregação de um Jesus insensível, sem desejos carnais.



Não tenho dúvida de que Deus ama o pecador e aborrece o pecado. Mas duvido do evangelho daquele que aborrece o seu irmão e secretamente morre de amores pelo que o mundo oferece.



Não tenho dúvida de que Deus não nos deu espírito de medo. Mas duvido desse Deus que semeia o terror para aprisionar almas.



Não tenho dúvida de que Deus pediu para se dar de graça àquilo que de graça se recebeu. Mas duvido de um Deus que pede para vender aquilo que de graça se conseguiu.


Não tenho dúvida de que Deus trouxe Cristo para bem pertinho de nós. Mas duvido desse Deus que desviou Cristo para bem distante de nós.



Não tenho dúvida de que o Filho de Deus veio romper a tradição dos nossos pais. Mas duvido desse Deus, quando Ele conclama seguir a tradição paterna.



Não tenho dúvida de que o “Ide” do Filho de Deus foi para pregar e ensinar. Mas duvido de um Deus que manda pregar e realizar “shows da fé”.



Não tenho dúvida de que os discípulos do Filho de Deus ao invés de terem ouro e prata, tinham fé e eram cheios do Espírito. Mas duvido dos modernos discípulos que além de ter o ouro e a prata, ainda dizem ter a “unção”.



Não tenho dúvida de que a oração da fé cura o doente. Mas duvido das curas da “oração da fé” com horário previamente marcado na televisão.



Não tenho dúvida de que os discípulos deixaram tudo que tinham para seguir a Cristo. Mas duvido de certos discípulos que ganham fortunas por servir a Cristo.



Não tenho dúvida de que Deus não quer que ninguém se perca. Mas duvido daqueles que em Seu Nome ganham almas, para depois, as fazerem duas vezes filhos do inferno.



Não tenho dúvida de que o Filho de Deus afirmou: “basta a cada dia o seu mal”. Mas duvido do Deus que alardeia: “tenha a cada dia mais prosperidade econômica”.


Não tenho dúvida de que os evangelhos falam verdadeiramente de Cristo. Mas duvido das “supostas verdades cristãs” que são expostas, aos montes, nas prateleiras das livrarias gospel.





Por: Levi B. Santos
Guarabira, 07 de abril de 2009

01 abril 2009

A FANTÁSTICA ABERTURA DE UMA CONVENÇÃO


........


Chega afinal
, a esplendorosa e tão sonhada noite da Convenção Geral. São precisamente 19.30 horas. Os guardas de trânsito, apressados, abrem caminho dentro da multidão alvoroçada, para dar passagem às importantes autoridades convidadas. Alguns afoitos teimam em não sair da frente do portão principal do estádio. Os policiais, a muito custo, e só com um cordão de isolamento, é que conseguem afastar os mais humildes que queriam a todo custo, tomar assento no interior do ginásio já praticamente superlotado. O alto-falante repete insistentemente: “atenção, atenção, não entra mais ninguém para o início da abertura do evento. Por favor, dirijam-se aos telões de fora do Ginásio”.


A multidão furiosa e curiosa força os portões, querendo ver, pelo menos, a ornamentação belíssima do interior do Ginásio. A polícia é obrigada a intervir por mais de quatro vezes, arrastando alguns teimosos que tentavam pular os muros do estádio, havendo até ameaças de prisões.


Os dois candidatos ao posto supremo da Instituição, com seus fraques deslumbrantes de tons acetinados e furta-cores, da “Armani”, preparam-se para entrar no engalanado prédio, em uma imponente carruagem puxada por quatro treinadas ovelhas. O séquito desliza suavemente sobre um tapete cor de púrpura, desviando-se para o portão principal do Ginásio. Seguindo o cortejo, uma Banda Marcial de 600 componentes toca o “Aleluia de Haendel”. A ovação que se iniciara na rua, se intensifica. Todos os ministros participantes da Convenção Geral da Instituição estão estupefatos com tamanha pompa. Dois canais de TV filmam algumas partes do desfile para o Jornal local do dia seguinte.


A carruagem finalmente pára no interior do Centro de Convenções completamente lotado de fiéis, sob um intenso barulho de palmas e estridentes sons de apitos e buzinas. Repentinamente, todas as luzes se apagam sob um grande estrondo, provocado por gritos de espanto. Alguns chegam a desmaiar, outros entram em crise histérica. A emoção chega aos píncaros, quando labaredas de fogos coloridas caem sobre o belíssimo altar. Em questão de segundos, aparecem luzes multicoloridas piscando incessantemente, ao ritmo de uma orquestra suspensa no ar. A carruagem então se movimenta lentamente na direção do púlpito, que estava localizado à cerca de dez metros. Nesse ínterim se ouve um “Oooooh”, de surpresa ─ ocasião em que é acionado um controle remoto, fazendo os dois candidatos serem ejetados do assento do carro, para num mergulho preciso, caírem suavemente em suas respectivas cadeiras especiais, previamente colocadas no altar ricamente ornamentado. Foi um momento eletrizante e de extraordinária precisão eletrônica.


De repente, sem que desse tempo para se respirar, um vasto pano azul celeste estende-se acima de todos, bem rente ao teto, desenrolando-se de ponta a ponta, até o portão de entrada do estádio. Por entre as frestas quase imperceptíveis do tecido, podiam-se ver estrelas cintilantes descendo, subindo e circulando no imenso espaço. Parecia mais um céu límpido e estrelado em noite de lua cheia.


Os fiéis já não agüentavam mais de tanta emoção. Olhando para cima, tinha-se a impressão de que o Ginásio estava com o teto aberto, e com o céu a despejar estrelas no seu interior.

Por último, um barulho ensurdecedor toma conta da multidão, ao mesmo tempo em que aparecem, não sei de onde, anjos artificiais reluzentes, numa imitação perfeita dos anjos relatados na Bíblia, descendo através do tecido azul celeste. Os anjos apresentam movimentos de asas, de lábios, e de pálpebras, e dão vôos rasantes de um lado para outro, em várias direções, soltando uma fina poeira de cor prata-incandescente sobre os fiéis emocionados. Muitos com medo de serem atingidos pelos seres angelicais, se abaixam, outros chegam a se deitar. Vindo de uma abóbada incrustada de pedrarias amarelo-ouro ─ por sobre o púlpito ─ uma voz estereofônica se fazia ouvir: “este é o meu filho em que me comprazo”. Tudo isso ao som sublime de uma bela sinfonia de “Schubert”. Por trás do púlpito pipocam girândolas de raios multicores, deixando uma fumaça vermelho-azulada com cheiro de jasmim, recendendo no ar.


Para esse milionário “show”, fora contratada uma equipe especializada de técnicos da Disney em Orlando – EUA, responsável pela montagem de toda a parafernália eletrônica, que constava de vinte sofisticados sistemas de roldanas, rodeadas por um montão de fios ligados a uma central de computação instalada em cima do teto do Ginásio. Todo o trabalho fora efetuado sigilosamente, sem que ninguém suspeitasse. Comentava-se “à boca pequena” que fora esta mesma equipe que montara o show de abertura das Olimpíadas de Atlanta em 1996.


Antes de ser iniciada a votação de cartas marcadas, os ministros agradecem em fervorosa oração, por tudo ter saído maravilhosamente bem. O grandioso espetáculo de abertura da convenção ocorrera sem uma falha sequer.


A maioria dos convencionais estava imensamente satisfeita. Se alguma dissidência havia, com relação à chapa da “situação”, ela foi desfeita pela ousadia dos que conseguiram com maestria incomum, trazer as delícias deslumbrantes do céu para dentro do Centro de Convenções.



Ensaio-ficção (ou realidade futura) por Levi B. Santos
Guarabira, 1° de abril de 2009