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Chega afinal, a esplendorosa e tão sonhada noite da Convenção Geral. São precisamente 19.30 horas. Os guardas de trânsito, apressados, abrem caminho dentro da multidão alvoroçada, para dar passagem às importantes autoridades convidadas. Alguns afoitos teimam em não sair da frente do portão principal do estádio. Os policiais, a muito custo, e só com um cordão de isolamento, é que conseguem afastar os mais humildes que queriam a todo custo, tomar assento no interior do ginásio já praticamente superlotado. O alto-falante repete insistentemente: “atenção, atenção, não entra mais ninguém para o início da abertura do evento. Por favor, dirijam-se aos telões de fora do Ginásio”.
A multidão furiosa e curiosa força os portões, querendo ver, pelo menos, a ornamentação belíssima do interior do Ginásio. A polícia é obrigada a intervir por mais de quatro vezes, arrastando alguns teimosos que tentavam pular os muros do estádio, havendo até ameaças de prisões.
Os dois candidatos ao posto supremo da Instituição, com seus fraques deslumbrantes de tons acetinados e furta-cores, da “Armani”, preparam-se para entrar no engalanado prédio, em uma imponente carruagem puxada por quatro treinadas ovelhas. O séquito desliza suavemente sobre um tapete cor de púrpura, desviando-se para o portão principal do Ginásio. Seguindo o cortejo, uma Banda Marcial de 600 componentes toca o “Aleluia de Haendel”. A ovação que se iniciara na rua, se intensifica. Todos os ministros participantes da Convenção Geral da Instituição estão estupefatos com tamanha pompa. Dois canais de TV filmam algumas partes do desfile para o Jornal local do dia seguinte.
A carruagem finalmente pára no interior do Centro de Convenções completamente lotado de fiéis, sob um intenso barulho de palmas e estridentes sons de apitos e buzinas. Repentinamente, todas as luzes se apagam sob um grande estrondo, provocado por gritos de espanto. Alguns chegam a desmaiar, outros entram em crise histérica. A emoção chega aos píncaros, quando labaredas de fogos coloridas caem sobre o belíssimo altar. Em questão de segundos, aparecem luzes multicoloridas piscando incessantemente, ao ritmo de uma orquestra suspensa no ar. A carruagem então se movimenta lentamente na direção do púlpito, que estava localizado à cerca de dez metros. Nesse ínterim se ouve um “Oooooh”, de surpresa ─ ocasião em que é acionado um controle remoto, fazendo os dois candidatos serem ejetados do assento do carro, para num mergulho preciso, caírem suavemente em suas respectivas cadeiras especiais, previamente colocadas no altar ricamente ornamentado. Foi um momento eletrizante e de extraordinária precisão eletrônica.
De repente, sem que desse tempo para se respirar, um vasto pano azul celeste estende-se acima de todos, bem rente ao teto, desenrolando-se de ponta a ponta, até o portão de entrada do estádio. Por entre as frestas quase imperceptíveis do tecido, podiam-se ver estrelas cintilantes descendo, subindo e circulando no imenso espaço. Parecia mais um céu límpido e estrelado em noite de lua cheia.
Os fiéis já não agüentavam mais de tanta emoção. Olhando para cima, tinha-se a impressão de que o Ginásio estava com o teto aberto, e com o céu a despejar estrelas no seu interior.
Por último, um barulho ensurdecedor toma conta da multidão, ao mesmo tempo em que aparecem, não sei de onde, anjos artificiais reluzentes, numa imitação perfeita dos anjos relatados na Bíblia, descendo através do tecido azul celeste. Os anjos apresentam movimentos de asas, de lábios, e de pálpebras, e dão vôos rasantes de um lado para outro, em várias direções, soltando uma fina poeira de cor prata-incandescente sobre os fiéis emocionados. Muitos com medo de serem atingidos pelos seres angelicais, se abaixam, outros chegam a se deitar. Vindo de uma abóbada incrustada de pedrarias amarelo-ouro ─ por sobre o púlpito ─ uma voz estereofônica se fazia ouvir: “este é o meu filho em que me comprazo”. Tudo isso ao som sublime de uma bela sinfonia de “Schubert”. Por trás do púlpito pipocam girândolas de raios multicores, deixando uma fumaça vermelho-azulada com cheiro de jasmim, recendendo no ar.
Para esse milionário “show”, fora contratada uma equipe especializada de técnicos da Disney em Orlando – EUA, responsável pela montagem de toda a parafernália eletrônica, que constava de vinte sofisticados sistemas de roldanas, rodeadas por um montão de fios ligados a uma central de computação instalada em cima do teto do Ginásio. Todo o trabalho fora efetuado sigilosamente, sem que ninguém suspeitasse. Comentava-se “à boca pequena” que fora esta mesma equipe que montara o show de abertura das Olimpíadas de Atlanta em 1996.
Antes de ser iniciada a votação de cartas marcadas, os ministros agradecem em fervorosa oração, por tudo ter saído maravilhosamente bem. O grandioso espetáculo de abertura da convenção ocorrera sem uma falha sequer.
A maioria dos convencionais estava imensamente satisfeita. Se alguma dissidência havia, com relação à chapa da “situação”, ela foi desfeita pela ousadia dos que conseguiram com maestria incomum, trazer as delícias deslumbrantes do céu para dentro do Centro de Convenções.
Ensaio-ficção (ou realidade futura) por Levi B. Santos
Guarabira, 1° de abril de 2009
3 comentários:
Gostei muito do seu blog: Jasiel Botelho
Paz do Senhor!
Excelente texto!
Os personagens do seu ensaio devem ter causado inveja em algum protagonista de uma outra convenção que gosta de andar de helicóptero por aí...
Gostaria que o irmão opinasse em uma pergunta que foi publicada em meu blog.
Deus abençoe!
Prezado Jasiel Botelho
Agradeço a sua passagem pelo meu blog.
Sou um acompanhador das suas boas tiradas de humor cristão.
Continue nos prestigiando.
Saudações fraternais,
Levi B. Santos
Prezada irmã Vanessa
Na verdade, este ensaio que postei sobre uma convenção-ficcional, é uma sátira a esses tipos de encontros, que tem de tudo, menos espiritualidade.
P.S: Deixei um comentário em seu blog, sobre a sua última postagem.
Desculpe-me se fui muito contundente. Às vezes, a gente se deixa levar pela emoção, e fala demais.
Graça e Paz,
Levi B. Santos
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