31 dezembro 2010

Feliz 2011 — O Que é O Que é...



A vida continua meu irmão(ã), amigo(a) e leitor(a) que me aturou por todo o decorrer de 2010.

Espero continuar ao seu lado como um eterno APRENDIZ

Um feliz 2011

Essa poesia do saudoso Gonzaguinha foi o que encontrei de melhor para o seu réveillon:



E a vida?
e a vida o que é diga lá, meu irmão?
ela é batida de um coração?
ela é uma doce ilusão?
mas e a vida?
ela é maravilha ou é sofrimento?
ela é alegria ou lamento?
o que é, o que é, meu irmão?

Há quem fale que a vida da gente
é um nada no mundo
é uma gota, é um tempo
que nem dá um segundo
há quem fale que é um divino
mistério profundo
é o sopro do criador
numa atitude repleta de amor
você diz que é luta e prazer
ele diz que a vida é viver
ela diz que melhor é morrer
pois amada não é
e o verbo é sofrer

Eu só sei que confio na moça
e na moça ponho a força da fé
somos nós que fazemos a vida
como der ou puder ou quiser

Sempre desejada
por mais que esteja errada
ninguém quer a morte
só saúde e sorte

E a pergunta roda
e a cabeça agita
fico com a pureza da resposta das crianças
e a vida, é bonita e é bonita

Viver, e não ter a vergonha de ser feliz
cantar (e cantar e cantar) a beleza de ser um eterno aprendiz
eu sei que a vida devia ser bem melhor e será
mais isso não impede que eu repita
é bonita, é bonita e é bonita.




Guarabira, 31 de dezembro de 2010

28 dezembro 2010

2011: Vão Mudar a Cobertura do Bolo de Novo?!

Há exatamente um ano, estava eu aqui escrevendo sobre o deus “Janus”, que na mitologia romana tem duas faces: uma olhando para frente (futuro) e outra voltada para trás (passado).
No momento atual de nossa conjuntura política, esse ser divino de duas cabeças em um só corpo nunca esteve tão bem representado. O deus Janus seria simbolizado pelo Criador(Lula) e a Criatura(Dilma). Enquanto um saudosamente olha para 2010, a outra figura tem os olhos na direção de um 2011 incerto. (Paz no futuro e glória no passado...)

Aqui, nas terras de D. João VI, o deus de uma face já degustada e de outra a ser provada no futuro, parece funcionar como um bolo cujo farto e saboroso miolo já se sabe previamente a quem pertence. A única novidade reservada aos súditos, é se satisfazer com as migalhas da colorida e belíssima cobertura que, a cada ano, caem da mesa do rei e seus parceiros. (És belo, és forte, impávido colosso...)

“Nas olimpíadas de 2009, a Política juntou-se à Religião para disputar a medalha de ouro da principal competição, denominada corrupção. Ganhou de modo quase unânime a “Oração da Propina” dos políticos evangélicos de Brasília. A cobertura desse bolo foi uma das mais indigestas já vistas: servos do senhor altíssimo pediram a bênção de Deus para que Ele ocultasse das vistas dos inimigos o produto do roubo escandaloso, do qual esse mesmo 'Deus' ganharia o dízimo para aplicar nas obras em prol das pobres almas perdidas no lamaçal do pecado”. (Terra adorada, entre outros mil...)

De longe, o ato mais vergonhoso de 2010, foi realizado nos estertores desse mês de dezembro, quando os deputados e senadores outorgaram a si mesmos, um dos maiores aumentos de salários da história do país: 61% — o equivalente a dez vezes o índice de 5,9% que eles adotaram para atualizar o salário mínimo em 2011. (Se o penhor dessa igualdade, conseguimos conquistar com braço forte...)

Cantemos com orgulho o hino nacional, pois o nosso país ganhou duas valorosas medalhas de ouro nesse ano que está se findando.

A primeira medalha: foi destinada aos políticos brasileiros que agora são detentores dos maiores salários entre todos os países do mundo; o EUA ficou na rabeira, num modesto quarto lugar. (E o teu futuro espelha essa grandeza...)

A segunda medalha: esta, já era esperada por todos os brasileiros — pela terceira vez consecutiva ganhamos o ouro no “Índice de percepção de Corrupção”, ao vencermos a Itália por dois décimos de diferença. (salve lindo pendão da esperança...)

No dia 31 de dezembro de 2010 o palco do grande teatro chamado Brasil fecha as suas cortinas depois de oito anos de apresentação do espetáculo “Nunca Antes na História Desse País”, tendo como personagem principal, o imperador Lula. Sai do palco o Sr. “bolsa família”, para a entrada de uma face feminina junto com as esperanças de uma plateia ávida por um país mais justo e menos corrupto. (Teus risonhos campos têm mais...)

Estremeço de medo, só em pensar que o deus “Janus” nunca sairá do trono. Ele continuará reinando eternamente, tanto através de sua face masculina bonachona e risível voltada para o passado, como através da estreante face feminina de uma bondosa mãe, olhando para o futuro. (dos filhos deste solo és mãe, gentil...)

Um lembrete ao leitor amigo: Ao que parece a face feminina do deus JANUS que olha para 2011, deverá obedecer ao mesmo centro, ou seja, ao comando do mesmo cérebro dos anos anteriores”. Quem viver, verá... (Ó Pátria amada idolatrada. Salve! Salve!)

Contudo, nunca vou deixar de sonhar: Tenham todos, um venturoso ANO NOVO (Nossos bosques têm mais vida ?...)


Imagem (1): paulotakahashi.blogspot.com

Imagem(2): Deus Janus


Guarabira, 28 de dezembro de 2010

21 dezembro 2010

NATAL: É Tempo de Rever “Nossos Anjos”


A história dos anjos se confunde com a história humana, estando, ao mesmo tempo, relacionada ao nosso lado profano e ao nosso lado divino. A presença dos anjos no universo se confunde com o universo de nossos sentimentos, ambições, virtudes e falhas. Uma história igualmente repleta de contradições. E isso pode ser verdadeiro, desde que se faça uma abordagem desses seres angelicais sob o pano de fundo da psicanálise.

Quem não se lembra de Erich Von Daniken, autor do best-seller. “Eram os Deuses Astronautas?”, que nos anos 70 promulgava que os anjos eram seres reais, porém, com origem extraterrestre, que interferiam em nossa evolução de uma forma ou de outra?!
O autor de “Anjos — A Historia” (David Albert Jones) diz que os anjos retratam a nossa ambivalência: “Anjos vivem entre dois mundos: entre o céu e a terra, entre a vida e a morte. Os anjos, assim como os adolescentes vivem em um espaço intermediário entre a infância e a idade adulta”.

Hoje, na era do cientificismo, se sabe que “anjos” nada mais são que representações simbólicas de nosso inconsciente. Apesar de não serem homens nem deuses, dizem muito de nossa natureza humana.

Joad Raymond, especialista na obra de John Milton (autor do best-seller - Paraíso Perdido), sobre anjos, assim fala: “Os anjos continuam sendo um meio útil pelo qual pensamos nosso mundo, uma maneira de dar significado à nossa existência e às nossas atitudes do dia a dia”.

Procurar padrões e figuras para unir ou diferenciar os seus afetos mais profundos, foi sempre uma preocupação do ser humano, e nessa inquietação atávica ele procura dar ordem ao caos, pois esse mundo impenetrável lhe produz assombros. Os “anjos-mensageiros” como complexos do “inconsciente/divino” estão sempre a revelar mensagens originadas no nosso lado obscuro. Nos moldes de nossa cultura e do nosso tempo, eles se apresentam como “imago-expressão” de nossas verdades e anseios primitivos.

Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274) estudou os seres angelicais com mais profundidade, chegando à conclusão de que eles eram seres puramente espirituais, aproximando-os, dessa forma, dos conceitos de pensamentos e estados psíquicos.

Na modernidade, o psicanalista Carl Gustav Jung, com a descoberta dos “arquétipos”, conseguiu analisar a função religiosa da psique, transpondo o abismo entre ciência e religião. Compreendeu, enfim, que as afirmações, revelações e dogmas são padrões ordenados do que ele denominou “Inconsciente Coletivo”.

Segundo Gregório — o Taumaturgo, o anjo Gabriel conversa com a virgem Maria, para que a serpente (anjo mau) não possa mais conversar com a mulher. Jung, vê nisso, o estabelecimento de um vínculo psicológico entre duas imagens, tanto por contraste como por similaridade. A obediência de Eva a serpente e a obediência de Maria ao anjo da Anunciação são eventos paralelos ou opostos, constitutivos de nossa psique.
O amor de Deus e a ira de Deus, sua luz gloriosa e seu fogo ardente pertencem inseparavelmente um ao outro e são a razão de nossa ambigüidade. Esses pólos aparentemente opostos aparecem no nosso imaginário como anjos de luz e anjos da escuridão, em consonância com o que está escrito em Isaias 45, 7: “Eu crio a Luz e crio a Escuridão. Eu, o Senhor, faço todas as coisas.”

O Natal — é a época propícia na qual a figura dos anjos é usada exaustivamente nos diversos meios de comunicação. Há “anjos de luz” portadores de mensagens que simbolizam a mais elevada espiritualidade, no sentido de oferecer consolo e paz, e há “anjos das trevas”, que aparecem como seres inspiradores do reino daqui de baixo, impulsionadores das vendas estratosféricas de presentes a serem trocados entre os familiares. Esses últimos, são anjos que atiçam o nosso instinto de consumismo desenfreado, responsável por um coroamento recorde de vendas, a cada Natal que passa. O estribilho de sua música preferida é esse: “muito dinheiro no bolso, saúde pra ‘dar’ e vender”.

E por falar em anjos, não poderia deixar de registrar aqui, “A Hora do Angelus (anjo em grego) ou Toque da Ave-Maria”, que é executada às 18:00 horas, na passagem da luz do dia para a escuridão das trevas, e traduz no dogma cristão, o momento da Anunciação — feita pelo anjo Gabriel a Maria — da concepção de Jesus Cristo. Gabriel, em psicanálise, significa a síntese entre os nossos “anjos de luz” e os nossos “anjos da escuridão”. Nele estão representados os nossos afetos ambivalentes. Ele sintetiza a nossa sombra acolhedora e paradoxal; simboliza, ao mesmo tempo, os nossos sentimentos de esperança e de nostalgia em épocas de mudanças ou crises existenciais.

Toda vez que ouço a prece musicada desse anjo simbólico, invade-me um misto de melancolia e paz. Trata-se da “Ave Maria de Schubert”, que eu ouvia emocionado todo cair da tarde, pelos alto-falantes colocados em pontos estratégicos de minha cidade, nos meus tempos de menino.

P.S.:
Só poderia ser mesmo um anjo, o autor da magnífica sinfonia erudita (do vídeo abaixo), que nas cordas de um plangente violino conseguiu realizar um dos maiores milagres cósmicos: “tocar o lado divino da alma humana”.

Por Levi B. Santos
Guarabira, 21 de dezembro de 2010

17 dezembro 2010

Saco de Papai Noel Chega à Câmara



José Simão, que faz humor na Folha de São Paulo sobre os fatos relevantes e sensacionais que acontecem nesse “Gigante Adormecido pela própria natureza”, denominado Brazil, fez o seguinte comentário sobre a grande manchete do dia: “o aumento do salário dos deputados”.


Eles se “alto-almentaram”! Tudo com L. Foi alto, né?

Mas a melhor manchete fica com o site sensacionalista, a de hoje é a seguinte: “Com a aprovação do novo salário, Tiririca já sabe contar até 26 mil.” Ele sabia contar até 10. Mas quando soube da novidade aprendeu na hora. Pronto! Deixa o abestado trabalhar!

E o Maluf: “Eu seria deputado até de graça!” É, todo mundo vota nele por três motivos incontestáveis: 1) rouba, mas faz; 2) mente, mas não convence; 3) é culpado, mas ninguém prova. O Simão quer ser o Maluf!


José Simão (Folha de São Paulo de 16 de dezembro de 2010)


José Júlio de Senna, Ph. D. em Economia, em seu memorável livro — “Os Parceiros do Rei” (Editora Topbooks), fala de maneira profunda sobre nossa herança cultural. Diz ele sobre os políticos (O Rei e seus Parceiros) e a massa de manobra (os súditos):

“É comum entre nós a crença no poder salvador do dirigente supremo da nação, ou de um governador de um Estado. Muitos são os exemplos dos políticos idolatrados por vastos segmentos da nação, e por esta considerados capazes de lhe alterar, definitivamente, o rumo da vida. Não são poucos os que esperam desses políticos a solução mágica para todos os problemas, em especial o de natureza econômica. Na hora do voto depositam-se na urna não apenas a manifestação efetiva da preferência eleitoral, mas também as esperanças de verdadeiras mudanças, para algo muito melhor. E tudo isso faz de nosso povo vítima fácil de inescrupulosos demagogos. [...] eles privilegiam a vida ociosa, o ‘dolce far niente’."



P.S: Enquanto isso, os brasileiros e brasileiras (os súditos) se contentam com menus de 6% (5,7%)

13 dezembro 2010

A Ceia Totêmica Cristã

Tomai, comei; isto é o meu corpo (Jesus)

Um ritual antropofágico dos tempos pré históricos, ainda hoje, continua sendo reproduzido com toda sua grandeza simbólica na cerimônia da Eucaristia (igreja católica) e nas cerimônias da Santa Ceia (igrejas protestantes e evangélicas). Em tais rituais, os membros reconhecidos como irmãos são convidados a comer um pedaço do corpo de Cristo e a beber seu sangue, que no caso, são simbolizados pelo pão e pelo vinho, à semelhança da refeição totêmica que Freud narra em seu livro “Totem e Tabu”, a qual ele considera o mais antigo festival da humanidade. Para ele, a repetição desse ato memorável estaria encravada nas origens do pensamento religioso cristão.

“Quando o homem partilhava uma refeição com o seu deus, estava expressando a convicção de que eram partes de uma só substância; e nunca partilharia essa ceia com quem considerasse um estranho” (Freud – Totem e Tabu – pag 162)

Em “Totem e Tabu”, Freud utiliza o mito da morte do Pai primitivo para compreensão da gênese da religião cristã. Ele vê um paralelismo do mito cristão com o totemismo.

“A força ética da refeição sacrificatória pública repousava em idéias muito antigas da significação de comer e beber juntos. Comer e beber com um homem constituía um símbolo e uma confirmação de companheirismo e obrigações sociais mútuas” (Totem e Tabu – pág 161)

Na ceia totêmica, cada um dos participantes ao ingerir simbolicamente um pedaço do corpo do Totem adquire a sua santidade. Pelo ato de devorá-Lo realizavam a identificação com Ele, adquirindo sua força. A refeição totêmica surge como uma forma e um esforço de apaziguar o Pai, e mitigar o sentimento de culpa por se ter entronizado o Filho no lugar de Deus-Pai. O próprio ato pelo qual o Filho oferecia a maior expiação ao Pai conduzia-o ao mesmo tempo, à realização de seus desejos contra o Pai. Cristo, Ele próprio, tornava-se Deus em lugar do Pai, deslocando a religião paterna (Judaísmo) para a religião filial (cristianismo)

Nesse sentido, Philippe Julien, psicanalista Francês, no seu livro “Abandonarás Teu Pai e Tua Mãe” — página 79 (Editora Comp. de Freud), diz o seguinte: “O cristianismo começa com a morte do Pai Todo poderoso, por que Ele se esvaziando do seu poder, deixa de intervir na história, fazendo, para o bem ou para o mal, nascer o desejo do outro”.

Freud vê aspectos do paradoxo humano no totemismo, em que o fato do crime e do sentimento de culpa dos filhos da horda primitiva que matam o pai primevo, tanto pode gerar a concretização do desejo como a negação dele, constituindo aquilo que denominamos em psicanálise: “ambivalência emocional”.

Mircea Eliade, em seu livro Aspectos do Mito” (pág. 93) — diz que “as cerimônias religiosas são festas de recordação, com um significante — o de apreender o mito central, ou seja, o assassínio da divindade e suas conseqüências”.

“Na psicologia de Jung, ao celebrar a última ceia, o crente estaria comendo a sua própria carne e bebendo o seu próprio sangue; isso tinha um significado: o de que ele devia reconhecer e aceitar o outro que há em si mesmo” — escreveu Edward Edinger no seu livro, “Arquétipo Cristão” (página 63)

O aspecto da “refeição do Totem”, que recobre a última ceia, mostra Cristo representando o “Anthropos” — o homem total original.

Na iconografia primitiva, a Última Ceia era representada por uma refeição à base de peixe, e remonta ao Banquete Messiânico da lenda judaica, na qual a carne do Leviatã — o monstro marinho —, é servida aos devotos. O Leviatã habitava as profundezas obscuras do oceano, e isso em psicanálise tem um paralelo — “o Inconsciente”, que analogicamente, representa as profundezas abissais e temerosas da psique. Esse mesmo monstro aquático — símbolo das forças poderosas do inconsciente — aparece na epopéia poética e mítica do personagem, Jó: “Se puseres a mão sobre ele (o Leviatã), lembrar-te-ás da peleja e nunca mais o intentarás. Toda a esperança de apanhá-lo é vã; o homem será derrubado só em vê-lo.” (Jó 41:8-9).

A tradição mítica cristã diz que, na aparição de Cristo na Galiléia depois de sua morte, Ele comeu peixe com favo de mel junto aos seus discípulos. Tanto o peixe dessa refeição sobrenatural ou intra-psíquica de Cristo como o grande peixe Leviatã da lenda judaica, representam os conteúdos da psique primordial e seus reflexos percebidos na consciência. A ceia é o processo “revelatio” em que o “o imenso tesouro” que jaz oculto em nós, passa a ser observado no outro, nosso irmão, num processo que Jung denominou individuação” (vide - O Mito do Significado de Anniela Jaffé — editora Cultrix — página 82)

A ceia totêmica de Cristo fez nascer na religião a “função fraternal”, sugerindo que o semelhante, o “irmão”, tem um impacto estruturante/desestruturante, entretanto, necessário na constituição da nossa individualidade, desde que cada um faça o seu mergulho, para provar do estrangeiro que há em si, na figura de um Leviatã que habita nas profundezas do obscuro e temível mar do inconsciente.

P.S.:

A psicanálise preocupa-se apenas em analisar o conteúdo da psique expresso no mito. A existência psicológica é subjetiva e verdadeira, porque o conceito de verdade não está ligado ao palpável e ao que é demonstrável racionalmente, mas ao que é percebido sensorialmente, de forma individual ou em grupo”. (Erich Fromm — Psicanálise e Religião – página 21)

O mito é considerado como o maior patrimônio espiritual da humanidade. “Os mitos resultam de experiências humanas coletivas, sem que seus produtores tenham consciência da autoria deles, pois são projeções das interpretações do mundo interior e exterior transformadas em imagens, metáforas ou representações e expressões da própria realidade”. (Ernest Cassirer Mito e Linguagem – Editora Perspectiva)


Por Levi B. Santos

Guarabira 13 de dezembro de 2010


FONTES:

1. Freud, Totem e Tabu — Editora Imago

2. Philippe Julien, Não Abandonarás Teu Pai e Tua Mãe — Editora Companhia de Freud

3. Mircea Eliade, Aspectos do Mito Editora Edições 70 (Portugal)

4. Edward Edinger, Arquétipo Cristão Editora Cultrix

5. Anniella Jaffé, O Mito do Significado — Editora Cultrix

6. Erich Fromm, Psicanálise e Religião — Editora Zahar

7. Ernest Cassirer, Mito e Linguagem Editora Perspectiva

8. Bíblia Sagrada, Livro de Jó

08 dezembro 2010

VIREI UM FANTASMA


Foi com o passar do tempo...

Aprendi que os meus impulsos assustadores

Jamais deveriam ser objeto de exame

E os reprimi a um alto custo.


Quem é esse homem...

Uma personalidade confiante e de sucesso

Que antes como uma criancinha frágil e inocente

Brincava e brigava com os demônios.

Na escuridão da noite?!


Tornei-me amistoso.

Como um fingidor, moderno e descolado

Para ser visto, esmerei-me no domínio do saber

Dentro da embalagem, eu nem sequer sabia

Do jogo previamente programado.


Como hábil artista

Esculpi no invólucro, a nova versão de mim

Fabriquei um ser grandioso e bem-sucedido

Para sorrir feliz de meus feitos e proezas

E ser compensado com aplausos.


Pobre de mim...

O meu dever é esconder-me de mim mesmo

Para ser visto na grande vitrine deste mundo.

Ao desfilar com uma roupa que não é minha

O meu fantasma, alimento.


Guarabira, 08 de dezembro de 2010

05 dezembro 2010

Vinte e Seis Anos Depois...





“Ser tricolor não é uma questão de gosto ou opção, mas um acontecimento de fundo metafísico, um arranjo cósmico ao qual não se pode – e nem se deseja – fugir”. ( Nelson Rodrigues)

01 dezembro 2010

ESSE FILME EU JÁ VI ANTES


Não nego, quando vi a nossa bandeira tremulando lá na parte mais alta do morro do Alemão, a minha alma ufanista gritou mais alto. Senti-me nos meus 16 anos de idade, desfilando garbosamente no dia 7 de Setembro na praça de minha cidade natal, diante do pendão auriverde de nossa pátria mãe gentil.

Saudosos tempos em que acreditava tenazmente no que diziam os meus livros de História do Brasil. Aquele famoso quadro da independência pintado de encomenda por Pedro Américo, que mostrava D. Pedro I em um fogoso alazão, hoje, eu sei que foi tudo invenção da mídia do passado.

Laurentino Gomes, debruçando-se sobre a nossa História, pesquisou em várias bibliotecas, inclusive nas de Além mar (Portugal), e descreveu em seu recente livro “1822”, pormenores por nós, ufanistas, até então desconhecidos. A história do Grito do Ipiranga não foi àquela história dourada que nos contaram os professores de quarenta anos atrás.

Conta Laurentino, em seu best-seller, que D Pedro I, tinha ingerido alimento mal conservado no dia anterior, ao da independência do Brasil. Na sua caminhada do Rio de Janeiro a São Paulo, desceu de sua mula baia várias vezes à beira da estrada, para realizar suas evacuações. Acredita-se que, já pálido e desidratado, o fraco grito que deu, não foi o de “independência ou morte!”, mas sim o grito de dor provocado pelas fortes cólicas intestinais. Provavelmente, de cuecas e de cócoras, ele pediu ao seu assessor imediato que avisasse à guarda de honra que o seu governo estava separado de Portugal.

Mas o falso quadro pintado por Pedro Américo emocionou a muitos do meu tempo. O leitor, talvez queira perguntar: “O que tem isso a ver com a tomada do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro?”

Tem tudo a ver, meu caro leitor. O belo e imponente quadro pintado por Pedro Américo está sendo revisitado e mostrado com auras de patriotismo, igual as estripulias que meus inocentes professores de História me faziam imaginar. O "espetacular" quadro de Pedro Américo, retratando a independência, hoje, está sendo substituído pela Telinha de TV, no horário nobre. No lugar das peripécias do nosso primeiro imperador, ele mostra o nosso heróico Exército, a nossa heróica e briosa Aeronáutica, a nossa saudosa e temida Marinha subindo os caminhos íngremes do morro do Alemão. Não importa que as nossas fronteiras estejam desguarnecidas, não importa que os nossos portos estejam em penúria, não importa que os nossos aeroportos estejam operando sem condições mínimas de conforto e segurança. O que importa é o imaginário, o que importa é reviver a fantasia e a utopia do nosso tempo de adolescente, quando iludidos, marchávamos em homenagem ao grande feito de D. Pedro I. Hoje, danem-se fronteiras desguarnecidas ou sem policiamento, o que importa é assistir pela TV, numa confortável poltrona, logo após o jantar, as nossas Forças Armadas e amadas consumirem os impostos que pagamos com o suor de nosso rosto, para mostrar ao mundo que o poder paralelo do narco-tráfico, pelo menos por alguns dias, sofreu um “pequeno-grande” abalo.

Para ativar a memória do leitor, esse filme já foi visto: Na conferência Mundial sobre o meio ambiente, a “RIO – 92”, quando as Forças Armadas foram usadas contra traficantes; em 1994 quando o Exército e fuzileiros navais ocuparam morros e favelas na Operação Rio; em 1997, quando 900 homens do Exército participaram de uma mega-operação para recuperar fuzis roubados.

E os nobres da platéia, continuam “deitados em berço esplêndido”, rindo da nossa cara — como diz o nosso emblemático e espetaculoso hino.

Provavelmente, muitos dos nobres que estão lutando contra o narco-tráfico, estarão, logo mais, no belíssimo espetáculo de queima de fogos do final de ano na orla marítima do Rio, sem nem se aperceberem que a droga por lá rola solta.

Uma pergunta que não quer calar:

“Por que o Brasil, segundo a ONU, é o quarto maior país consumidor de drogas do mundo???


Crônica por Levi B. Santos

Guarabira, 01 de dezembro de 2010