02 maio 2012

O “Politicamente (in)Correto” Sobre Religião





Vivemos, como nunca, a época do “politicamente correto”, que como uma onda varre a cultura do nosso país de ponta a ponta. O “politicamente correto” aparece transvestido de guardião da justiça e salvador do mundo, a bradar aos quatro cantos que se tem que premiar aqueles que tiveram seus direitos historicamente desrespeitados, esmerando-se por criar fórmulas as mais bizarras em benefício de uma sociedade mais justa e igualitária.

Comecei a leitura do mais recente livro de Luis Pondé (*) ― “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” (lançado essa semana pela editora LeYa) ― com seus 26 ensaios densos e até certo ponto  ácidos, mas necessário para compreender o “status” em que estamos inseridos.  O autor, logo na contracapa do livro diz bem a que veio, com sua língua ferina.

 Escreveu ele:

“Este não é um livro de história da Filosofia, mas sim um ensaio de filosofia do cotidiano, mais especificamente um ensaio  de ironia filosófica, movido por uma intenção específica: ser desagradável para um tipo específico de pessoa ― você ou alguém que você conhece.”

Dentre os seus humorados ensaios, um me chamou a atenção, talvez por falar de um tema tão cantado e decantado nos blogues: a Religião.

O titulo do ensaio é “Fundamentalismo e Budismo Light”, do qual passo a reproduzir alguns trechos emblemáticos nesta sala, com os devidos créditos ao autor e a editora:

“Deus deve estar profundamente deprimido com o mercado religioso. E não só ele, mas também Buda e similares.
Falar mal do cristianismo e do judaísmo é esperado numa pessoa politicamente correta, porque essas religiões são “opressoras”, além, é claro, de ser provavelmente a religião dos pais deles, e por isso eles querem ser “críticos”. Desconfio muito de gente “crítica”. Normalmente as pessoas “críticas” posam para seus amigos “menos cultos” sua parca inteligência feita de generalidades. O maior inimigo de Deus são seus crentes fervorosos. Como dizia o filósofo alemão Heine no século 19: ‘Só se é traído pelos seus’. Refiro-me aos novos fundamentalistas, dos pentecostais que incorporam o Espírito Santo na periferia das grandes cidades do Brasil e do mundo, aos muçulmanos chatos que querem matar todo mundo toda hora [...]. [...] Grande parte dos muçulmanos não é gente que acredita em paz, amor e diferenças, ao contrário do que os intelectuais mal informados pensam. Costumo dizer que a náusea que esse tipo de crente me causa poderia fazer de mim um ATEU mais facilmente do que os ATEUS que se julgam brilhantes porque são ATEUS. Até golfinhos conseguem ser ateus, porque o ateísmo é a visão de mundo mais fácil de ter: ‘a vida é fruto do acaso, e não tem sentido além dos pequenos sentidos que “inventamos”[...].

Aqui, o autor abre um parêntese para umas palavrinhas sobre os fundamentalistas islâmicos:

“Recentemente (em 2011) o mundo árabe passou pelo que os cheerleaders da esquerda (os intelectuais que babam em cima de tudo que lhes parece anti-americano) gostam de chamar Primavera Árabe’. Elas, as cheerleaders, não conhecem muito bem o mundo árabe (aliás não conhecem nada muito bem, porque normalmente não leem muito nem gostam de estudar, por isso no tempo da faculdade ficavam no centro acadêmico sonhando com Cuba) e logo pensaram que lá estavam estudantes franceses dizendo que é ‘proibido proibir’, como na revolução francesa de 1968.
O primeiro país da primavera árabe foi a Tunísia, e ela foi a primeira a fazer uma ‘eleição democrática’ por votos, mas indícios claros foram dados de que o Corão seriam referências importantes mesmo na Tunísia. O partido vitorioso foi um dos Islâmicos [...].  [...] O mesmo quadro se revelou no Egito, que chegou a eleições um pouco depois e também deu vitória a dos partidos islâmicos [...]

O autor, agora aproveita os ventos de liberdade recente do mundo árabe, para voltar a nossa República:

“O que você acharia se no Brasil o governo dissesse que a partir de hoje todas as leis levariam em conta o Velho Testamento? Mas o ponto aqui é que aqueles mesmos que criticam a proibição do aborto no Brasil, por exemplo, por ser coisa de ‘católico’, não criticariam abertamente a Tunísia ou o Egito por assumirem o Corão como limite de toda lei e de ter um partido islâmico no poder. E por quê? Porque é politicamente incorreto criticar o Islamismo[...]. [...] Elites se modernizaram deixando o ‘povo’ à margem, com fome e ignorância. O resultado é que neles (os revolucionários)   a religião (cultura) não deixou de ser referência prática cotidiana. É fácil de ver isso nas imagens da ‘Primavera Árabe’ de 2011, quando os ‘revolucionários da liberdade’ paravam em meio a tudo para bater cabeça em direção a Meca”.

Umas alfinetadas de Felipe Pondé sobre o que ele comumente denomina  turma do budismo light:

“Esse tipo de Budismo que se relaciona com a Nova Era (salada de conceitos religiosos de várias tradições mal cozidos, para consumo da classe média semiletrada e com alta opinião sobre si mesma), é normalmente típico de gente bem egoísta e dissimulada. Dizer que se é budista (ninguém deixa de ser católico ou judeu e vira budista em três semanas num workshop em Angra dos Reis ou num centro budista nas Perdizes em São Paulo), pega bem em jantares inteligentes, porque dá a entender que você não é um materialista grosseiro, mas sim um espiritualista sustentável. Basicamente uma religião sustentável não precisa sustentar nada a não ser uma dieta balanceada, uma bike importada e duas ou três latas de lixo de design em casa, para reciclagem do lixo. Esse ‘budista’, normalmente é gente com grana, preguiçosa, que nunca quis arrumar quarto quando era adolescente e, com o budismo light, descobriu que esse é um direito dela, porque no budismo não existe pecado, logo você pode ser preguiçoso com bênçãos cósmicas”.

Nos ensaios de Luiz Felipe Pondé misturam-se, literatura, mística, psicanálise, teologia e filosofia. Há exageros por parte do escritor?
 SIM, há. Mas o que não podemos negar é que através de sua faca cortante na dissecação da VACUIDADE humana, enxergamos mais o nu e o cru do humanismo ridículo e do niilismo revolucionário do “Politicamente Correto” de nossa cultura.


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(*) Luiz Felipe Pondé, é doutor em Filosofia pela USP/Universidade de Paris. Pós doutor pela Universidade de Tel Aviv ― Israel. Professor da PUC e colunista da Folha de São Paulo.
Além de acompanhar os seus artigos semanais na Folha, dele, já li, “Contra Um Mundo Melhor” – editora LeYa,  “Catolicismo Hoje” ― Editora Benvirá, além do recente livro que deu origem a esta postagem: “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” 



Guarabira, 02 de maio de 2011

4 comentários:

Donizete disse...

Gosto demais do Pondé.

Este tipo de estilo literário é o que mais me atrai!

Boa dica Levi. Vou comprar imediatamente o livro.

Abraços!

Levi B. Santos disse...

Doni

O “bom” de ler Pondé, é que ele, e seu pessimismo, vai contra tudo que é unanimidade dentro dos vários grupos de estudos por um BRASIL MELHOR. Ele se baseia na falácia da própria vivência com seus pares nas inúmeras reuniões de que participou para melhorar a sociedade.

Num dos artigos ele faz a seguinte citação:

“ Na minha vida já tive a (infeliz) oportunidade de participar de várias reuniões na universidade, seja como professor, nas quais estavam presentes muitas pessoas ‘preocupadas’ com o coletivo e a ‘igualdade’, e nunca vi tamanha concentração de pensamento a serviço de tanta estupidez e nulidade. Ele chega a concordar com o filósofo Rand, que como ele tem as mesma idiossincrasias. Rand, afirma que, ao buscar destruir as ‘injustiças sociais’ o mundo destrói a produtividade, fonte de toda a vida, paralisando o mundo”.

Enquanto redigia esse comentário, veio a minha mente que o Brasil é o país do mundo mais pródigo em criação diária de leis (que não são cumpridas). Enquanto isso, a Constituição Americana que surgiu em 1787 (até hoje não modificada), não tem a nossa incalculável quantidade de artigos, mas vigora, e é efetiva até hoje. (rsrs)

Levi B. Santos disse...

Pretendo na próxima postagem, publicar a entrevista que Pondê deu recentemente a jornalista GABI, na SBT.

São quatro vídeos imperdíveis

Eduardo Medeiros disse...

São dois caras polêmicos que eu gosto de ler: o Pondé e o Olavo de Carvalho. Dois caras que não estão nem aí para os temas intocáveis pelo politicamente correto. Do Pondé só li alguns artigos e vi algumas entrevistas. Agora com a dica, vou comprar o livro.

Um outro exemplo do politicamente correto na ciência é o evolucionismo. Darwin virou papa infalível e o patrulhamento em cima de algum cientista ou filósofo que ouse contradizer o evolucionismo é logo perseguido e até em muitos casos, proibido de publicar em periódicos científicos.

Cristianismo e judaísmo são sacos de pancadas, mas falar mal do islã é pecado mortal.

foi na veia.