20 outubro 2012

Concordar ou Não Concordar — Eis a Questão!




As comunidades virtuais que caracterizam o mundo cibernético guardam o sentimento de uma forte ligação entre seus membros. O sentimento de que têm algo em comum, se faz necessário, como condição essencial para o grupo sobreviver por muito tempo. Via de regra, o motor que mantém a durabilidade de uma confraria ou comunidade são as afinidades, alianças de pontos de vista entre seus membros contra uma minoria invasora que faz o contraponto às suas idéias.

Cada indivíduo, isso é uma realidade, tem essa tendência — a de querer controlar, impor, julgando-se portador de todo saber. Isto, inconscientemente, não deixa de lhe conferir um tipo de poder sutil que é exercido sobre o outro. Aí é onde entra o mecanismo do que é certo e do que é errado, com suas conseqüências de se ter que concordar ou não concordar com a opinião daquele que diz que deseja o melhor para o grupo.

Marcos Palácio, em seu livro “O Medo do Vazio” revela, em uma pequena e emblemática frase, o que está no centro de toda comunidade. Diz ele: “o sentimento de pertencimento é o elemento fundamental para a definição de comunidade”. Isso, não quer dizer que inexista preconceito entre os membros de uma comunidade que se dispõe a ser inclusiva.

João Baptista Cintra Ribas (antropólogo da USP), no seu ensaio, “O OLHAR”, diz algo interessante: “Quando evitamos o encontro com culturas diferentes, corremos o risco de nos aprisionar a preconceitos adquiridos na nossa. Por sermos humanos, temos preconceito (isto é, um conceito ou opinião formado antecipadamente, sem ponderação ou conhecimento dos fatos). O problema não é ter preconceito, mas aprender a lidar com ele para que não se transforme em julgamento sem levar em conta o fato que o conteste”.

Não raramente, nas comunidades virtuais, surge um membro contando de modo eufórico a sua experiência no sentido inconsciente de convencer o outro a ser um como ele. Para esse, a fé ideológica é que dar sustento a sua maneira de experenciar o mundo. Se ele percebe a sua identidade ou realidade como a única, a correta, a dos demais membros, por conseguinte é falsa. Se a experiência de um for supervalorizada pelos demais, pode se tornar um problema para o grupo comunitário, pois ela sendo abstrata e subjetiva diz mais respeito ao sujeito elaborador do discurso.

Quem não se lembra do tempo da adolescência, quando o que nos seduzia era ter uma experiência diferente, maior ou melhor que a do outro? É justamente esse anseio instintivo de competição, que reprimido ou guardado no porão do inconsciente, ainda hoje, emite suas ressonâncias dentro dos grupos ou redes sociais.

Esse jogo de campos subjetivos parece manter a chama do pré-conceito no âmago de uma comunidade, Se não vejamos:

Quanto mais as pessoas concordam, tanto mais a coesão de seu grupo pede a exclusão dos que discordam. Se concordo estou reforçando a convicção do outro. Se discordo, posso estar para meu conforto, fortalecendo as minhas próprias idéias. Se não concordo ou discordo, o outro diz que estou em cima do muro.

Como fugir do corpo desse dilema?

Quanto mais lemos e nos aprofundamos na área do saber, mais solitários ficamos, solitário da cultura de massa. Paradoxo: essa cultura, ao mesmo tempo, individualista, considera a capacidade de nos relacionarmos com os outros, uma virtude suprema.

Alguém ai se lembra de uma forma de viver em sociedade que não leve em consideração o outro — aquele que nos desestabiliza com sua maneira peculiar/estranha de ver o mundo?

Não é necessário concordar com o outro. Não concordar, provocar, também é uma forma de participar. Concordam? (rsrs)


Por Levi B. Santos
Guarabira, 20 de outubro de 2012


3 comentários:

Marcio Alves disse...

Concordo. rsrsr alias, mestre Levi, quanto mais nós mesmos tentarmos convencer o outro de que nossa verdade é "verdadeira", inconscientemente, estamos na verdade tentando nos convencer ao convencer o outro de nossa verdade. rsrs

Agora, o ponto central de todo e qualquer grupo é mesmo o sentimento de pertencimento...é dificil demais vivemor na "solidão" sem ideologias, sem grupos, até porque, estariamos fundando ou pertecendo a outro grupo seleto; o grupo dos sem grupo, sem ideologias. rsrsrs

abraços

Levi B. Santos disse...

Márcio


A sensação de pertencer solidamente a um grupo é comparável ao efeito de um analgésico: não cura, mas ameniza as dores e as dúvidas que habitam a solidão do sujeito.

Concorda ou não, velho guerreiro? (rsrs)

Eduardo Medeiros disse...

E eu sou agradecido ao deus virtual por ter me dado a oportunidade de pertencer a grupos tão interessantes.

discordar é possível e até desejável; já querer convencer a todo custo que o outro está errado é o início de todas as batalhas.Quando fica só nas batalhas intelectuais, tudo bem, mas quando a coisa descamba para a batalha pessoal...