As
comunidades virtuais que caracterizam o mundo cibernético guardam o sentimento
de uma forte ligação entre seus membros. O sentimento de que têm algo em comum,
se faz necessário, como condição essencial para o grupo sobreviver por muito
tempo. Via de regra, o motor que mantém a durabilidade de uma confraria ou
comunidade são as afinidades, alianças de pontos de vista entre seus membros
contra uma minoria invasora que faz o contraponto às suas idéias.
Cada
indivíduo, isso é uma realidade, tem essa tendência — a de querer controlar,
impor, julgando-se portador de todo saber. Isto, inconscientemente, não deixa
de lhe conferir um tipo de poder sutil que é exercido sobre o outro. Aí é onde
entra o mecanismo do que é certo e do que é errado, com suas conseqüências de
se ter que concordar ou não concordar com a opinião daquele que diz que deseja
o melhor para o grupo.
Marcos
Palácio, em seu livro “O Medo do Vazio” revela, em uma pequena e emblemática frase, o que
está no centro de toda comunidade. Diz ele: “o
sentimento de pertencimento é o elemento fundamental para a definição de
comunidade”. Isso, não quer dizer que inexista preconceito entre os membros
de uma comunidade que se dispõe a ser inclusiva.
João
Baptista Cintra Ribas (antropólogo da USP), no seu
ensaio, “O OLHAR”, diz algo
interessante: “Quando evitamos o encontro
com culturas diferentes, corremos o risco de nos aprisionar a preconceitos
adquiridos na nossa. Por sermos humanos, temos preconceito (isto é, um conceito
ou opinião formado antecipadamente, sem ponderação ou conhecimento dos fatos).
O problema não é ter preconceito, mas aprender a lidar com ele para que não se
transforme em julgamento sem levar em conta o fato que o conteste”.
Não
raramente, nas comunidades virtuais, surge um membro contando de modo eufórico
a sua experiência no sentido inconsciente de convencer o outro a ser um como
ele. Para esse, a fé ideológica é que dar sustento a sua maneira de experenciar
o mundo. Se ele percebe a sua identidade ou realidade como a única, a correta,
a dos demais membros, por conseguinte é falsa. Se a experiência de um for
supervalorizada pelos demais, pode se tornar um problema para o grupo
comunitário, pois ela sendo abstrata e subjetiva diz mais respeito ao sujeito
elaborador do discurso.
Quem
não se lembra do tempo da adolescência, quando o que nos seduzia era ter uma
experiência diferente, maior ou melhor que a do outro? É justamente esse anseio
instintivo de competição, que reprimido ou guardado no porão do inconsciente, ainda
hoje, emite suas ressonâncias dentro dos grupos ou redes sociais.
Esse
jogo de campos subjetivos parece manter a chama do pré-conceito no âmago de uma
comunidade, Se não vejamos:
Quanto
mais as pessoas concordam, tanto mais a coesão de seu grupo pede a exclusão dos
que discordam. Se concordo estou reforçando a convicção do outro. Se discordo,
posso estar para meu conforto, fortalecendo as minhas próprias idéias. Se não
concordo ou discordo, o outro diz que estou em cima do muro.
Como
fugir do corpo desse dilema?
Quanto
mais lemos e nos aprofundamos na área do saber, mais solitários ficamos,
solitário da cultura de massa. Paradoxo: essa cultura, ao mesmo tempo,
individualista, considera a capacidade de nos relacionarmos com os outros, uma
virtude suprema.
Alguém
ai se lembra de uma forma de viver em sociedade que não leve em consideração o
outro — aquele que nos desestabiliza com sua maneira peculiar/estranha de ver o
mundo?
Não
é necessário concordar com o outro. Não concordar, provocar, também é uma forma
de participar. Concordam? (rsrs)
Por Levi B. Santos
3 comentários:
Concordo. rsrsr alias, mestre Levi, quanto mais nós mesmos tentarmos convencer o outro de que nossa verdade é "verdadeira", inconscientemente, estamos na verdade tentando nos convencer ao convencer o outro de nossa verdade. rsrs
Agora, o ponto central de todo e qualquer grupo é mesmo o sentimento de pertencimento...é dificil demais vivemor na "solidão" sem ideologias, sem grupos, até porque, estariamos fundando ou pertecendo a outro grupo seleto; o grupo dos sem grupo, sem ideologias. rsrsrs
abraços
Márcio
A sensação de pertencer solidamente a um grupo é comparável ao efeito de um analgésico: não cura, mas ameniza as dores e as dúvidas que habitam a solidão do sujeito.
Concorda ou não, velho guerreiro? (rsrs)
E eu sou agradecido ao deus virtual por ter me dado a oportunidade de pertencer a grupos tão interessantes.
discordar é possível e até desejável; já querer convencer a todo custo que o outro está errado é o início de todas as batalhas.Quando fica só nas batalhas intelectuais, tudo bem, mas quando a coisa descamba para a batalha pessoal...
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