Hoje é dia de Drummond de Andrade (31 de outubro de 1902 ― 17 de agosto de 1987).
NECROLÓGIO DOS
Como homenagem justa, nada melhor que trazer a
atriz Fernanda Torres para declamar uma das maravilhosas poesias desse fenomenal poeta de Itabira - MG que tanto encantou e ainda encanta o
Brasil: “Necrológio dos
Desiludidos do Amor”
NECROLÓGIO DOS
DESILUDIDOS DO AMOR
Os
desiludidos do amor
estão
desfechando tiros no peito.
Do
meu quarto ouço a fuzilaria.
As
amadas torcem-se de gozo.
Oh
quanta matéria para os jornais.
Desiludidos
mas fotografados,
escreveram
cartas explicativas,
tomaram
todas as providências
para
o remorso das amadas.
Pum
pum pum adeus, enjoada.
Eu
vou, tu ficas, mas nos veremos
seja
no claro céu ou turvo inferno.
Os
médicos estão fazendo a autópsia
dos
desiludidos que se mataram.
Que
grandes corações eles possuíam.
Visceras
imensas, tripas sentimentais
e
um estômago cheio de poesia…
Agora
vamos para o cemitério
levar
os corpos dos desiludidos
encaixotados
competentemente
(paixões
de primeira e de segunda classe).
Os
desiludidos seguem iludidos,
sem
coração, sem tripas, sem amor.
Única
fortuna, os seus dentes de ouro
não
servirão de lastro financeiro
e
cobertos de terra perderão o brilho
enquanto
as amadas dançarão um samba
bravo,
violento, sobre a tumba.
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9 comentários:
Levi, excelente lembrança.
Resta-nos(e ainda bem!) a presença de Drummond em nossas estantes, sempre nos encantando quando abrimos um livro seu.
Boa lembrança. Hj é dia das bruxas, da dona de casa (triste coincidência) ambas com suas vassouras. Q bom que Drummond salvou o dia. Belo texto sobre a desilusão. Sempre achei que quem não ama a gente, curte um pouco com a nossa cara, mas sambar no caixão, é de doer. rsrs...
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade
boa lembrança levi!
Edu Mariani e Gil
Um Convite Triste faço a vocês (rsrs:
Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira. (Drummond)
Amor é coisa boa de sentir
que recusa científica explicação.
Pobres neurocientistas:
Colocaram eletrodo.
Analisaram ressonâncias
Concluíram que o amor é química.
Ah, neurocientistas,
Pobre necessidade essa de
Documentar
Provar
Fazer ressonância
pra definir amor.
Quer um explicação para amor,
Eu dou:
Eu e meu filho,
hoje à tarde,
nos esbaldando na sala,
bailando prá lá e prá cá,
ao som de bom forró nordestino.
Eduardo Medeiros, 31/10/2012
Levi, se você não leu esta edição da revista Cult com um grande dossiê da obra de Drummond, vale a pena baixar lá na minha revisteca.
http://revistecadoedu.blogspot.com.br/2012/10/dossie-drummond.html
Caro poeta Eduardo
Ao estilo drummondiano
os teus versos
Ruminei devagar,
bem devagarinho.
Um canto triste, pareci ouvir.
Nas entrelinhas das palavras tuas,
Ao invés de um animado forró
Um violino sonoro, escuto,
É o saudoso Villa Lobos,
Numa“melodia sentimental”:
“Acorda, vem olhar a Lua
Que dorme na noite escura
Que surge tão bela e branca
Derramando doçura”.
(Levi)
P.S.:
Com certeza, irei conferir o artigo sobre Drummond na revista Cult.
uhu!!!O Edu arrasou!!! Mas já que é para enfeitar o blog com essa coisa magnífica que é poesia deixo essa pra vcs que li, reli, ruminei e tive em uma agenda de escola com uma foio tirada de revista. Meu blog à moda antiga.
"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar." (C. Drummond)
tá bonito....!!
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