Morro do Cruzeiro – Alagoa Grande – Paraíba
O morro do
Cruzeiro de minha cidade natal, no meu tempo de
criança, só quem tinha muito preparo físico é que conseguia chegar até o seu topo, onde uma grande cruz se encontra erguida. Lá, os romeiros deixavam pedaços de corpo humano em madeira
ou gesso − promessas de curas de doenças, as mais variadas. Os órgãos e membros do corpo humano, confeccionados de uma maneira artesanal ficavam junto ao pé da grande cruz, em uma completa desarrumação. E eu ficava absorto, por longos minutos, a observar o monte de réplicas, símbolo das graças e milagres alcançados pela gente simples da localidade.
Lembro-me que, naquela época, alguns barracos do
morro tinham por teto, folhas de zinco enferrujadas e cheias de furos. Esse longínquo passado, hoje, evoca em mim a dolente
canção, “Chão de Estrelas”, de Sylvio
Caldas, cuja última estrofe, assim diz: “a porta do barraco era sem trinco / Mas a lua furando o nosso zinco / salpicava de estrelas o
nosso chão”. A
Lua deles que desenhava estrelas pelo chão de barro batido, hoje, já não
consegue furar as lajes de nossos bem ornamentados prédios.
As nossas estrelas vêm
da China, país que apesar de não
comemorar o Natal à nossa maneira, nos manda os seus astros cintilantes,
árvores eletrônicas e outras bugigangas natalinas, as quais são vendidas aos
montes por ruas, praças, lojas e botecos para enfeitar os lares do nosso cada
vez mais inseguro país.
Mas o Morro do Cruzeiro não é mais o mesmo. A mídia é tão forte que terminou passando para
trás a tão querida, cantada e decantada modinha na voz dolente de Sylvio
Caldas. A Era Cibernética intensificou nos corações deles o nosso Natal
artificialmente moderno. O Natal que hoje comemoramos passou a ser objeto dos seus
anseios. Agora, eles ardentemente se converteram ao nosso modelo Natalino.
Foram seduzidos, enfim, pelo espetáculo das cores e dos “comes e bebes” propagandeados
pela mídia. As sacolinhas coloridas amarradas com laços de fitas contendo
castanhas, amendoins confeitados, acompanhadas de biscoitos da marca Pilar a
serem degustados com Grapette ou gelada de maracujá, deram lugar aos Panettones,
ovos de Chocolate. O Peru guizado em panela de barro que, junto ao arroz ligado e a farofa com muito coentro e cebola faziam a nossa gulosa alegria, foram substituídos pelos insossos Peru e Chester da Sadia. Que pena!
Em compensação, hoje, o nosso Natal,
exteriormente, não é feio. É esplendidamente belo. Quem quiser comprovar que vá
aos grandes espaços dos shoppings. Lá
se extasiarão com os belíssimos espetáculos para os olhos. Ficarão deslumbrados
ante os presépios artificiais comandados por computadores, ante as vitrines reluzentes
com seus produtos festivos perfeitamente expostos no intuito de atrair os
consumidores compulsivos.
Mas é Natal, e não resistimos mesmo em maximizar os nossos esforços vinculados ao princípio do prazer. Como não expressar
para os outros a nossa imagem singularmente imaginada? O que seria da sociedade
atual, se não fosse esse fervor verdadeiramente hedonista que, com todo seu
esplendor e glória se apodera de nós no final de ano?
Um cardiologista amigo
me falou que, entre 24 e 25 de dezembro, as intervenções cardiológicas ocorrem quatro a cinco vezes mais que num dia comum. Perdoem-me, mas eu não sei o que deu em mim, para
terminar esta saudosa crônica focalizando esse lado triste do Natal. Aff!!!
Tenho 66 anos
de idade, preciso resistir ao moderno espírito natalino. (rsrs)
Aos
amigo(a)s e parentes, Boas Festas (com moderação).
Por Levi B. Santos
Guarabira, 21 de dezembro de 2012
5 comentários:
Grande Levi
Este tempo natalino traz para muita gente um sentimento de tristeza. Por que será? Será que Freud explica?
Mas é um tempo mágico. Na minha infância eu via muitas crianças com brinquedos até tive quando já perto de deixar a infância o prazer de ganhar também enquanto meus irmãos mais velhos nem pensar.
Apesar de ser um tempo meio mágico eu não gosto muito. Esta correria em comprar coisas e organizar as festas e um ar de irritação das pessoas nos dias que antecede o natal e ano novo realmente não tem muito haver comigo.
Mas minhas crianças sempre gostaram e sempre procurei fazer com que elas vivessem o natal com toda sua magia para que não carreguem a tristeza que eu carrego dentro de mim quando chega este tempo rsrsrs
Feliz Natal e um Ano cheio de bençãos em sua vida meu amigo e mago Levi. Aprendi a admirá-lo a cada texto seu lido e pode acreditar é sincero.
Bela crônica, amigo!!!
Eu sempre gostei muito da época natalina; sempre adorei o clima quase mágico que paira(ou pairava) no ar nesses dias. O natal hoje perdeu muito da magia que ele tinha para mim quando jovenzinho.
Saí ontem para pegar o bolo de aniversário do Eduardinho que comemoramos ontem (a nossa confrade Mari ficou de vir mas ficou presa no trânsito natalino e como tinha que ir em outro lugar, a visita ficou para ano que vem) e as ruas aqui do bairro estavam intransitáveis.
Não havia magia alguma no ar...
Entrei em uma loja para comprar alguns doces que iriam ser distribuídos na festinha e quando entrei na fila para pagar se aproximou de mim um homem e perguntou:
"Com todo respeito, senhor, você teria 4 reais para me dar?"
Nossa primeira reação com um pedido desses é de retração. Pensamos logo que o cabra quer dinheiro para tomar cachaça!!
Mas o homem não parecia cachaceiro(se é que cachaceiro tem cara). Estava com um material de lava a jato na mão e disse que o tinha conseguido para começar o ano novo de "emprego" novo, mas que precisava dos 4 reais para comprar arroz para os filhos...
fazer o quê com um pedido desses em plena época natalina?
Dei 5 reais ao homem e ele saiu feliz me desejando um bom natal e um bom ano novo.
Se eu ajudei(e tomara que sim) um trabalhador a comprar comida para os filhos neste natal, isso será uma prova que a magia ainda exite.
Boas festas para todos aí.
Gil, também sou saudosista daquele tempo mágico, tempo da minha inocência, quando não tinha ainda o conhecimento da corrupção que grassa pelo mundo afora em nome de “Deus”.
Um Feliz Natal para você e família, longe do rebuliço hedonista midiático da época. (rsrs)
É, Edu
O progresso trouxe muita coisa boa: entre elas a de criar necessidades. Necessidades que se forem além da conta, terminam por provocar muita dor de cabeça e hipertensão arterial.
Que você e família tenham um Natal tranqüilo, longe do fervente caldeirão de balbúrdia e correrias sem sentido. (rsrs)
Quanto a sua boa ação:
Interessante é que a magia surge em meio às surpresas, de um pedido que, aparentemente, parece nos atrapalhar. O ruim é quando o frenesi dessa época de tão intenso, às vezes, fazem nossos ouvidos ficarem moucos para ouvir o outro. (rsrs)
É isso, Levi!!!
obrigado e te desejo da mesma forma, um natal "das antigas"
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