09 fevereiro 2013

Sobre o "Samba do Crioulo Doido"




Como estamos iniciando o período momesco, nada melhor do que trazer para o momento, algo risível e emblemático de nossa história carnavalesca, que consagrou a expressão “Samba do Crioulo Doido”, criada por Sergio Porto (1923 ― 1968). O cronista sempre assinava suas crônicas com o pseudônimo, Stanislaw Ponte Preta. Esse samba, composto em 1967 e gravado em 1968 (anos de chumbo) fez a sua fama, que já era grande, repercutir estrondosamente pelo país inteiro. Foi no ano de 1966 que lançou o antológico livro  "Febeapá: Festival de Besteira que Assola o País",  o qual versava sobre os causos rizíveis da "Redentora" (como ele denominava a Ditadura Militar).

No fundo o que Stanislaw queria com seu "Samba do Crioulo Doido", era ironizar a ditadura militar e seu exagerado e obtuso nacionalismo. A letra do samba é toda sem sentido, como que para demonstrar a confusão político-militar reinante na época.

A atitude excêntrica dos que organizavam a vida social era totalmente tresloucada ― um total paradoxo com o que se tinha, anteriormente, como habitual no Brasil.

O samba sem pé nem cabeça do satírico autor, afinal, refletia a louca conjuntura ditatorial que ele considerava carnavalesca ―, subentendido na “história de um compositor que durante muitos anos obedecia ao regulamento...”.

Nas estrofes dessa samba-enredo perfilam-se celebridades históricas totalmente destituídas do seu contexto histórico, um embaralhamento estapafúrdio no que concerne a cronologia e a lógica dos fatos. Então, no samba doido, Tiradentes, o herói da Inconfidência, seguia planos de Chica da Silva, que depois se casaria com a princesa Leopoldina.

Inclusive, como acréscimo ao brilhante ensaio da doutora Berenice Cavalcanti (Professora de História da PUC) na revista "Nossa História" (outubro de 2004) -, garipamos  dois elementos preciosos que destacam o gênio e a sutileza de Sérgio Porto: Quando ele se refere ao sobrenome "SILVA", faz alusão ao Presidente da República, Artur da Costa e Silva, que não por acaso, foi escolhido para governar o país em pleno carnaval de 1967. Para avivar a nossa memória, foi da pena desse General que saiu o famigerado AI.5 que, praticamente, pôs fim a liberdade de imprensa no país.

"Joaquim, que era também da Silva Xavier, queria ser dono do mundo, e se elegeu D. Pedro II. Da união deles foi proclamada a escravidão".

Mas esse fenomenal samba encerra uma moral: "D. Pedro se transforma em uma estação e D. Leopoldina vira trem" A gozação chega ao máximo na parte final da melodia, que assim diz ― “O Trem tá atrasado ou já passou”.

O leitor pode conferir abaixo o vídeo do “Samba do Crioulo doido”, gravado originariamente pelo Quarteto em Cy, interpretado aqui pelos “Demônios da Garoa”.


FONTE: Revista Nossa História – Ano 1/ n° 12

Site da Imagem: devign.com.br 

Nenhum comentário: