30 agosto 2013

CONTRADIÇÕES: Nossas e de Nossa Velha República

Deputado Donadon – ajoelhado no Congresso


Dois meses atrás, as ruas dos grandes centros do nosso país foram tomadas por protestos pedindo o fim da corrupção, o fim dos desvios de dinheiro público através de licitações fraudulentas, o fim da impunidade e do descaso no trato da coisa pública por parte dos dirigentes da nação. Os minguados orçamentos destinados à educação, à saúde e ao transporte público, em contraste com os gastos astronômicos que o Governo Federal torrou nas obras e reformas dos estádios de futebol para a Copa do Mundo de 2014, foram responsáveis pela explosão da indignação popular na recente Copa das Confederações (conhecida no mundo inteiro como a Copa das Manifestações).

Mas não é que o Congresso, nesta semana, deu um tapa na cara de todos que saíram às ruas na Copa das Confederações, ao absolver um deputado condenado pelo STF a 13 anos de detenção. Para o inepto Congresso o deputado com direitos políticos cassados e em regime de prisão fechada no presídio da Papuda, continua deputado (vide link: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=164960)

Para conhecer as raízes do paradoxo dos paradoxos de nossa republiqueta basta dirigir o olhar para trás, e revisitar fatos da História recente do Brasil: Alguns anos depois de derrubada a Monarquia pelo marechal alagoano, Deodoro da Fonseca (proclamador da República), Floriano Peixoto, seu vice e conterrâneo, mergulhou o país numa guerra civil de ponta a ponta.  O paradoxo republicano ficou bastante evidenciado também na Política do “Café com Leite” (1894 à 1930): através de um recurso, hoje, usado e abusado ― o tráfico de influência −, os governadores de São Paulo e Minas Gerais puseram no poder a mesma oligarquia dos tempos da Monarquia. Em pouco mais de cem anos de nossa história republicana, o que podemos observar é que o fisiologismo tem sido uma constante entre os donos do poder ― uma arma indestrutível para manter “tudo como dantes no quartel D’Abrantes”.

Voltando ao caso do “deputado-preso-mas-não-cassado”: até que um dos ministros do STF (corte escolhida pelos que estão no topo do poder republicano), numa estocada bem humorada, deu-me um pouco de alento, estimulando-me ao riso. Disse, risonhamente, o ministro Marco Aurélio: “Os reeducandos da Papuda estão homenageados”, numa clara alusão ao deputado que continua deputado, agora, com exercício no presídio da Papuda. Aliás, o deputado Donadon (de Rondônia) já fez reivindicações sérias para melhorar as condições dos presos, penso, como nunca tenha feito em sua vida de parlamentar. Disse ele: “a alimentação de lá é muito ruim” ― “a água do chuveiro acaba enquanto se está ainda ensaboado” (Jornal Correio Brasiliense)

 Façamos então, uma incursão pela Filosofia política de Noberto Bobbio (1909 – 2004) na tentativa de entender esta nossa herança “maligno-fisiologista-republicana”. O cientista político italiano, reconhecido mundialmente, no seu antológico livro – “O Filósofo e a Política”, sobre a arte de fazer política, faz menção à obra “O Príncipe” de Maquiavel: “aqueles que têm em mãos o destino do Estado precisam combinar as características do leão e da raposa, ou seja, força e astúcia. São duas características que nada têm a ver com a finalidade do bem público; referem-se exclusivamente ao objetivo imediato de conservar o poder, independentemente do uso público ou privado que o governante queira fazer deste poder.” (página 142).

Mas será mesmo que a astúcia (o lado raposa da política) tem o poder de intuir em nós, a piedade ou a comoção? Digo isto, porque fiquei tocado lá dentro de mim, quando pela televisão ví o deputado Donadon mostrar as marcas ainda não cicatrizadas de algemas que foram impostas em seus punhos. Emocionei-me no final da sessão que o livrou da cassação, quando, esboçando um olhar de reverência, ajoelhado e de mãos postas para cima, disse trêmulo em sua prece: “agradeço a Deus que a justiça está sendo feita nesta casa.”


P.S.:

Acho que Freud, vivo fosse, saberia muito bem explicar o “porquê” de nossa alma ser tão republicana. (rsrs)


Por Levi B. Santos
Guarabira, 30 de agosto de 2013



21 agosto 2013

O Que a Psicanálise Teria a Dizer Sobre a “Doença” de Nietzsche?




Nietzsche e Freud foram quase contemporâneos.

Um trecho escrito em “Genealogia da Moral” (página 73) muito similar aos conceitos que Freud defendeu, reforça o que muitos dizem ― Nietzsche foi o precursor da psicologia profunda: “Todos os instintos que não se descarregam para fora, voltam-se para dentro ― isso é o que eu chamo de interiorização do homem. (Nietzsche).

Freud sabia que Nietzsche trabalhara aplicadamente nisso antes dele. Em sua autobiografia ele escreve que por muito tempo evitara os textos de Nietzsche, porque muitas vezes, as idéias e intuições deste coincidiam espantosamente com os laboriosos resultados da psicanálise.” (Rudiger Safranski)

Quando apresentaram, “Ecce Homo” (obra concluída por Nietzsche nos momentos cruciais de sua “doença”) em uma das famosas reuniões de psicanálise das quartas-feiras, em Viena, Freud, nessa noite, fez uma breve intervenção: limitou-se a desejar um estudo da influência das impressões infantis sobre as grandes realizações do filósofo. (Ressentimento”Maria Rita Kehl ― Editora Casa do Psicólogo)

“Não tenho dúvidas de que cerca de 60% dos transtornos psiquiátricos começam na infância” ― afirmou o psiquiatra Luis Augusto Rohde, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e membro da Associação Americana de Psiquiatria, em uma recente entrevista às páginas amarelas da revista VEJA (31 de julho), onde reforça a idéia de que a vida conflituosa do infante é um fator determinante no aparecimento das psicopatias numa fase tardia da vida humana.

Para Freud, os primeiros anos de vida da criança são determinantes na formação de sua personalidade. Para ele, o psiquismo infantil é mediado pela evolução de sua sexualidade, que se inicia de forma inconsciente na obtenção do prazer no ato da sucção.

Para uma análise psicanalítica do ranzinza Nietzsche, em suas idiossincrasias, como sempre se procede com os analisandos, se faz necessário abordar fatos de sua experiência religiosa quando menino e adolescente. Segundo Freud, somos seres reativos e, como tais, procedemos como uma criança diante do desconhecido que nos ameaça. Não podemos negar que muito do nosso comportamento, tem em sua essência, fatos marcantes do tempo em que éramos crianças. Nietzsche era um artista que combatia o ressentimento e a moral submissa de rebanho, sem ter ideia de que esses inimigos estavam nele, internamente recalcados.

Hoje, através dos estudos no campo da psicologia pedagógica, sabemos que o artista – aquele que se sobressai -, está inconscientemente buscando na própria infância a pureza perdida, assim como o poeta procura em seus versos a liberdade primeva. Sabendo que a relação ambivalente de amor e ódio ao superego (Pai) nasce na nossa tenra infância, o colapso mental de Nietzsche, em linguagem psicanalítica, não representaria por si só, uma segunda infância delirantemente revivida ― O eterno retorno daquilo que ele relutava em não aceitar?

Em Nieztsche, nos seus dois últimos anos de vida, a ambivalência (que caracteriza o humano) floresce em toda sua plenitude, como se pode perceber nesse trecho poético do seu “Zaratustra”: “Fora daqui!/ Ah, fugiu por si/ o meu companheiro/o meu grande inimigo,/ o meu desconhecido,/meu deus-algoz” ― uma espécie de ode repetitiva da poesia que compôs quando adolescente – “Ao Deus Desconhecido”.

A dissociação psíquica de Nietzsche, em sua velhice (atribuída a uma sífilis mal curada), poderia (por que não?) ser explicada como um delirante retorno ao tempo de suas primeiras experiências infantis. Freud, em suas teorizações, dizia que temos um vigia (a censura) que monta guarda para evitar que o sujeito tenha o desprazer de ver seus recalques exteriorizados. É de se pensar que no final da vida de Nietzsche, esta espécie de “vigia” já não mais rechaçava a pulsão dos desejos não realizados e reprimidos em um porão abismal de sua psique  ―  determinando a sua dissociação mental.

Quando vivia seu estado psíquico final, Nietzsche, assim se expressou: “Quanto a minha longa enfermidade, devo-lhe absolutamente mais do que à minha saúde; uma saúde mais elevada que se reforça com tudo aquilo que não pode matá-la. Devo-lhe até minha filosofia: somente o grande sofrimento é o último libertador do espírito. [...] Duvido que o sofrimento nos torne mais morais; no entanto, nos torna mais profundos” algo mui próximo da moral cristã, que ele, antes, considerava como se fosse a negação da vida. Ressalte-se que apesar de vangloriar-se de ser o Anticristo, assinava suas últimas cartas com o nome do crucificado. Temos a impressão de que o filósofo barbudo, nos seus últimos escritos, repetia sub-repticiamente a poesia que tinha escrito na adolescência: “Ao Deus Desconhecido” ― análoga a um escrito tumular que o apóstolo Paulo identificou em Atenas.
Nietzsche, em sua “psicose”, (quem sabe?) estaria  projetando o Deus Paulino em Dioniso ― o seu deus poético retratado em sua obra ― Zaratustra.. "Algumas poesias do seu tempo de menino e adolescente revelam o ambiente marcadamente cristão e pietista em que viveu, como demonstram os poemas: Getsêmani e Gólgota, infelizmente inéditos no Brasil" (Paul L. Landsberg ― “Lições e Estudos Sobre Nietzsche).

A psicanalista discípula de Freud, Lou Andreas-Salomé ―, a grande paixão do filósofo ―, foi testemunha ocular de seus últimos momentos: parecia uma criança dócil”– afirmou sua amada companheira. Na Casa de Saúde de Basiléia (Suíça), onde viveu a maior parte de seus últimos momentos, uma vez, falou para as pessoas ao seu redor: “Gostaria de abraçar e beijar as pessoas na rua”. Ao nascer do dia, dizia para sua mãe: “bom dia minha amada e boa mãzinha”. O Nietzsche hospitalizado, definitivamente, não parecia o ranzinza de antes: uma sensibilidade extrema tirara as máscaras do seu EU frágil?

A afirmação bíblica ―“Nem os loucos erram” ―, embute uma verdade do ponto de vista psicanalítico. Hoje se sabe que os delírios do “louco”, são uma linguagem do inconsciente, à guisa de interpretação, comumente denominadas “fantasias”, pelos psiquiatras. Esses comportamentos estranhos que o louco expressa como sua realidade interna são fantasmas para nós, considerados “os normais”. Mas quem sabe, se por trás do fenômeno a que denominamos demência, não estejam em explosões os componentes reprimidos que cada um de nós guarda em um porão esquecido da mente. A doença psíquica, nesse caso, talvez pudesse ser explicada como uma espécie de libertação. Não foi à toa que o Holandês, Erasmo de Roterdam, em sua maior obra ― Elogio da Loucura” ― tentou numa linguagem ferina desmascarar muitos que se consideravam hígidos e sábios aos seus próprios olhos.

Nietzsche, segundo o médico, Paul Július Mobius, viveu seus últimos anos em estado de infantilismo. Talvez por voltar a ser menino, é que o estágio crítico de sua “doença”, tenha sido responsável pelo período no qual mais se expressou com grande bondade e ternura ― atributos da fase de criança “boazinha” e “submissa” que um dia foi ―, afetos esses que não desapareceram por completo de seus arquivos psíquicos.

É verdade que, às vezes, tinha lapsos em que reaparecia a antiga “vontade de potência” dionisíaca ou divina. No leito, em um dos seus freqüentes êxtases, assim se dirigiu aos que o assistiam: “Amanhã, quero fazer para vocês, minha boa gente, o tempo mais esplêndido” ― “revela-se aqui, a velha mania de grandeza, reflexo do Superego (Imago Dei), mesclada a uma bondade infantil infinitamente tocante que, como um pensamento mágico, não o abandonara por completo” (Paul L. Landsberg ― “Lições e Estudos Sobre Nietzsche”)

Por que não rotular a fase final da “doença” de Nietzsche como um estado psíquico piedoso, uma vez que foi nesse estágio que se pode perceber, de sua parte, uma entrega sem resistência e com toda a confiança nos braços de seu médico, sua irmã e sua mãe?

O certo é que Nietzsche viveu uma relação psíquica íntima com os “fantasmas” de seu inconsciente, indo muito além do que os psiquiatras da época tinham definido ou diagnosticado como demência.

“O fato é que o filho de um pastor protestante proporcionou o encontro do cristianismo de seus pais com o espírito da Antiguidade grega, para proclamar que o seu Deus é, ainda e de novo, um Deus desconhecido” ― Concluiu Paul Ludwig Landsberg ―, estudioso alemão que tirou muitas lições dos escritos do controvertido filósofo e de suas poesias que exalavam uma extrema piedade.


P.S.:

Diz-se, em psicanálise, que a verdade do sujeito está no inconsciente.
Aquele que consegue se apoderar diretamente do enigmático e fantástico conteúdo de seu inconsciente, deixando-o fluir livremente sem as máscaras da vida social e familiar, é um louco ou um ser de espírito livre? 

Para aqueles que desejam saber mais sobre a loucura (ou libertação afetiva) de Nietzsche, não deixem de conferir o Filme - "Dias de Nietzsche em Turim".


Por Levi B. Santos
Guarabira, 21 de agosto de 2013


16 agosto 2013

“Chicana” ou Jogada de Mestre




Aproveitei uma parte da tarde de ontem (dia 15) para, pelo canal de TV Globo News, conferir o segundo dia da reta final do julgamento considerado pela imprensa como o maior do século ― O Mensalão.

Surpreendeu-me, no finalzinho da tarde, o “bate-boca” entre o Ministro Joaquim Barbosa e seu colega Ricardo Lewandoswski. Fiquei a me perguntar:
Por que tanta celeuma quanto à dosimetria da pena imposta ao bispo Rodrigues ― personagem menor do maior e mais amplamente investigado assalto às instituições públicas brasileiras, de que se tem notícia?

Só hoje, lendo o artigo do blog do Josias (dia 16), é que fiquei sabendo das possíveis segundas intenções do ministro Lewandowski, ao provocar o tumulto no final da sessão de ontem no STF. Entendi também o “por quê” da verdade inconveniente revelada de forma crua e dura pelo presidente do Tribunal, resumida na palavra “chicana”.

Para compreender melhor esse termo tão usado no meio jurídico, uma vez que não milito nessa área, recorri ao AULETE. Não precisei de muito esforço mental para saber o real significado do termo que o ministro Joaquim Barbosa, indignado, lançou contra as manobras protelatórias do astuto colega Ricardo Lewandowski.

Em um julgamento desse quilate sempre se aprende um pouco de Direito. E não é que o significado do termo “chicana”, entre outros, foi posto em primeiro lugar no dicionário de AULETE, assim definido:

1. CHICANA (jur): “Ação ou resultado de impedir ou dificultar o andamento de um processo, com argumento ou questão irrelevante, ligada a aspectos técnicos ou sutilezas e detalhes das leis”.

Do lúcido artigo do colunista Josias (do site UOL), reproduzo abaixo a maior parte dos trechos (com os devidos créditos) que, acredito eu, talvez possa contribuir para destrinchar o que Barbosa rotulou de “chicana”, nesse interminável imbróglio jurídico. Se não vejamos:


“Ao pegar em lanças pelo ex-deputado Bispo Rodrigues, personagem ‘mequetrefe’ do mensalão, o ministro Ricardo Lewandowiski abraçou-se a uma tese que aparece nas peças de defesa de alguns protagonistas do processo. Entre eles o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Foi pensando nisso que Joaquim Barbosa, presidente do STF e relator do processo acusou o colega de patrocinar uma ‘chicana’”.

“A exemplo da defesa do Bispo Rodrigues, os advogados de Dirceu e de Delúbio sustentam nos recursos (embargos declaratórios) que protocolaram no Supremo que seus clientes foram prejudicados pelo Tribunal na hora da dosimetria, o cálculo das penas. Alegam que o STF aplicou erroneamente uma legislação mais draconiana para crimes que teriam sido cometidos sob a vigência de uma lei mais branda”.

“A lei usada pelo Supremo é a de 10.763. Sancionada em 12 de novembro de 2003, ela elevou de oito para doze anos a pena máxima para os crimes de corrupção ativa e passiva. No caso do Bispo Rodrigues, o Supremo entendeu que o crime foi cometido em 17 de dezembro de 2003. Nesse dia, já sob a vigência da nova lei, o condenado recebeu uma ‘valeriana’ de R$ 150 mil”.

“A defesa alega que a corrupção consumara-se muito antes, na campanha eleitoral de 2002, quando foram afirmados os acordos que levariam aos pagamentos. Sob o argumento de que o Bispo Rodrigues não participara de tais entendimentos, o STF, em decisão unânime, enquadrou-o na lei mais salgada. Lewandowski, que compusera a unanimidade no julgamento do ano passado, agora resolveu guerrear pelo acolhimento do recurso.”

“Os advogados de Delúbio e de Dirceu também pedem o recálculo das respectivas penas. [...] O pano de fundo é uma reunião de José Dirceu com José Carlos Martinez, ex-presidente do PTB. Nesse ponto, acusou a Procuradoria, acertaram-se os valores das propinas repassada à legenda do delator Roberto Jefferson”.

Martinez morreu em 5 de outubro de 2003. A nova lei anticorrupção seria aprovada apenas no mês seguinte, em 12 de novembro. Na sessão em que Dirceu foi julgado, o relator Barbosa informou ao colega Marcos Aurélio que a morte de Martinez ocorrera em dezembro de 2003. O que levou o Tribunal a enquadrá-lo na lei mais gravosa.

“Foi contra esse pano de fundo que Lewandowski aderiu à tese da defesa do Bispo Rodrigues, contrapondo-se a Barbosa e à maioria dos colegas. Como diria a rapaziada que encheu as ruas em junho, não foi só pelos 20 centavos. Ou, por outra, não foi pelo Bispo, mas pelos Cardeais”.  [ Blog do Josias ]


O ensaísta, Roberto Pompeu de Toledo, em seu artigo de última página na revista Veja desta semana, expressa todo o seu ceticismo com relação a esse truncado e moroso caso judicial. Merece destaque o que diz o jornalista em certo momento do seu ensaio:

“Vá explicar a um estrangeiro que um processo se arrasta por seis anos, enfim chega ao fim, mas o fim não é o fim, só prenuncia um recomeço, e o recomeço sabe-se lá quando terá fim.”



Guarabira, 16 de agosto de 2013

Site da Imagem: blogdeassis.com.br

03 agosto 2013

Breves Considerações Sobre VANDALISMO




A palavra vandalismo deriva de “Vândalos” uma tribo de origem germânica que saqueou Roma, no século V. Segundo a Enciclopédia Britânica, quando os Vândalos invadiram Roma, o império romano era um regime escravocrata e não apenas um centro de arte e de antiguidades.

Diz-se que “as colunas do coliseu e do senado romano foram erguidas ao custo alto de milhares de vidas que foram relegadas ao trabalho escravo, sob opressão e violência de uma minoria da elite romana”.

“O termo “vândalo” passou, pela primeira vez, a ser usado de forma casuística pelos donos do poder, durante a revolução Francesa, ocasião em que muitos dos antigos oprimidos passaram a radicalizar o processo político, e lançaram seu ódio contra a monarquia absolutista e suas instituições”. (vide artigo ― “Afinal quem Foram Esses Tais Vândalos”, no site “A Nova Democracia”)

Nos meus sessenta e seis anos de idade, não me lembro de uma época em que os termos Vandalismo e Vândalos foram tão usados e abusados por parte do governo, dos políticos, dos redatores da imprensa escrita e televisiva do país, quanto ocorreram nas recentes manifestações de ruas que pôs a presidenta Dilma, até o presente momento, a falar besteiróis e criar factóides para desmentir no dia seguinte.

Nas manifestações repleta de cartazes pedindo “Hospitais padrão FIFA”, os repórteres foram quase unànimes em classificar os Vândalos, como aqueles que infiltrados nos recentes protestos de um povo insatisfeito com os desmandos do governo, partiram para a depredação do patrimônio público em meio à grande maioria dos que de forma ordeira invadiu as ruas das grandes cidades de todo o país, sem a intermediação de partidos políticos e sindicatos.

Na noite fatídica em que o prédio do Congresso foi invadido por milhares de jovens, estava eu ligado no canal do Senado, vendo apenas quatro senadores que em meio a muitas cadeiras vazias, permaneciam no plenário do senado, numa espécie de vigília cívica. Os outros senadores temendo um desfecho violento, diante da aglomeração indignada de jovens, fugiram atabalhoadamente do recinto, em consonância com o ditado: “Pernas pra que te quero”.

Ficaram lá Pedro Simon, Pedro Taques, Magno Malta e Cristovam Buarque, trocando ideias sobre as manifestações inesperadas de uma juventude cansada de ser espezinhada e explorada pelo Governo Central.

Eis que em meio à conversa deles, chega a notícia de que Vândalos estavam quebrando as caríssimas e belas vidraças do Itamaraty. Lembro-me de que um dos senadores reagiu com vigor contra os atos de depredação de um prédio, para ele, revestido de alto simbolismo.

Surpreendi-me quando o senador Cristovam Buarque, emocionado, tomou o microfone e fez um emblemático discurso denunciando quem eram os verdadeiros vândalos, culpados por tudo que ali estava acontecendo.

Nos últimos dias, quando a presidenta e sua base aliada vêm de forma alucinada, tomando medidas arbitrárias, insanas, estapafúrdias, demagógicas e escravagistas, pisando a própria constituição que um dia prometeu defender, achei mais do que conveniente trazer à tona trechos da fala do grande educador Cristovam Buarque, naquela noite em que vidros foram estilhaçados no belo palácio do Itamaraty:

“Fala-se da violência dessa meninada lá fora. Gente, violência é aquilo contra o que eles lutam. Violência é o transporte público no Brasil, que deixa pais e mães de família uma hora num ônibus, três horas no trajeto para a casa todos os dias. Isso é violência. Violência é uma escola onde a criança não tem uma cadeira para sentar, uma cadeira desconfortável e estuda em um quadro negro, já nem mais aceito hoje. Violência é uma mãe e uma criança no colo em uma fila pra ser atendida porque a criança está doente. Isso é violência. Nós não temos jovens violentos. Temos um sistema violento.” ― disse

“E quando se fala em vandalismo: vandalismo de quebrar uma vidraça, que não devemos recomendar ou aceitar, é muito menor do que um vandalismo que se faz contra a vida dos brasileiros. Crianças morrendo por falta de UTI? Isso é vandalismo, porque o dinheiro foi para construir um estádio de 1 bilhão e seiscentos milhões de reais, onde só vai entrar quem paga 500 reais” ― disparou.

Um silêncio sepulcral dominava o plenário praticamente vazio, quando Cristovam desabafou: “O senado estar vazio, sem os outros senadores em um momento tão importante, é a maior forma de violência”.

“A violência não é da meninada nas ruas. A violência é do sistema que nós temos há 500 anos no Brasil, Violência é o senado vazio numa hora dessas.”
“Antes de acusarmos o vandalismo deles é preciso no perguntarmos: onde erramos? Antes de os chamarmos de vândalos é preciso admitirmos que fomos nós vândalos ainda maiores”.

“Nós políticos vandalizamos a Saúde Pública. Vandalizamos a Constituição. Vandalizamos a segurança pública. E o mais grave: vandalizamos a educação deste país”.

 “Quando dizem que no Brasil as crianças ficaram violentas na escola, eu digo: as crianças são pacíficas demais diante da violência da própria escola sobre elas, e o mesmo eu digo desses que estão quebrando as vidraças do Itamaraty.”

“Se em meio a uma multidão de manifestantes pacíficos, um pequeno grupo faz isso é porque matamos os sonhos dos nossos jovens e provocamos a ira dos outros. Nós políticos colaboramos para este ‘casamento’ perigoso entre o ‘sonho morto’ e a ‘raiva viva’ dos nossos jovens”.

“Se não nos perguntarmos onde erramos, não vamos parar com esses vândalos menores e muito menos com o vandalismo maior ― que é toda política social brasileira.”
 (Cristovam Buarque)

P.S.:

No próximo dia 14, o STF inicia a fase final do julgamento dos vândalos que estavam se locupletando no poder, e agora, vão  receber o veredicto final por crimes de peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
É mais uma COPA contra a Impunidade que os jovens, com certeza, acompanharão por telões, inundando as ruas de Brasília.

Enfim, uma notícia que nos transmite esperança de dias melhores:

“O decano da corte máxima do país, Celso Mello, acredita que em no máximo oito sessões será possível concluir o julgamento dos embargos interpostos pelos mensaleiros.” 

Vide link:



Por Levi B. Santos

Guarabira, 03 de agosto de 2013

Site da Imagem: lorotaspolíticaseverdades.blogspot.com