17 janeiro 2014

Reciprocidade entre Vítimas e Algozes




A “Síndrome de Estocolmo” ― quadro psíquico que pode ser enquadrado como um “Transtorno do Estresse Pós – Traumático” ―, explica o anseio que o indivíduo tem de passar de “Oprimido” para “Opressor”, em consonância com o adágio que diz: “Um dia é da Caça, outro do Caçador”.

Há 40 anos em Estocolmo, na Suécia, um assaltante e um presidiário invadiram um Banco e fizeram cinco reféns. Durante o cativeiro as vítimas criaram uma relação afetiva de cumplicidade com seus algozes. Foi desse tempo para cá que a síndrome, ficou largamente conhecida no mundo todo com esse nome, tendo ocorrido até um desfecho amoroso: é que uma das vítimas apaixonou-se e depois casou-se com seu seqüestrador.

O menestrel, Chico Buarque de Holanda, na letra de sua canção, “CAÇADA”, reflete bem essa relação subjetiva entre a “caça” e o “caçador” ― entremeada de afetos ambivalentes que caracterizam o humano. As estrofes da emblemática modinha terminam sempre com o refrão: “Hoje é o dia da Graça/Hoje é o dia da graça e do caçador”.

Segundo o psicanalista, Abrão Slavutzky, em seu livro, O Dever da Memória, os seqüestrados portadores dessa síndrome passam a ver seus algozes, não como inimigos cruéis, mas como pessoas que estão do seu lado, e que no fundo desejam o seu bem. Na identificação com o agressor, a vítima não alimenta ódio contra quem lhe fez mal, mas contra si mesma como se fosse culpa sua o que aconteceu”.

Há alguns dias, a imprensa falada e escrita, classificou uma reação de Dilma, como um efeito da “Síndrome de Estocolmo”. Como é do conhecimento de todos, Dilma Rousseff, por sua militância na esquerda e por seus ideais socialistas, permaneceu três anos na prisão. Documentos obtidos com exclusividade dão conta de que em 1972 a Presidenta foi torturada nos porões da ditadura em Juiz de Fora – MG.  Dilma, relata que o episódio de tortura que sofreu em Minas, onde exerceu 90% de sua militância durante a ditadura, tinha ficado no esquecimento. Até agora”. (clique aqui, para mais detalhes)

 “O fato de Dilma já ter elogiado publicamente o governo militar de Ernesto Geisel, com cuja honestidade pessoal a toda prova e personalidade incontrastável ela claramente se identifica. Sua crença na economia centralizada e no protagonismo do Estado é irmã siamesa das concepções de governo dos militares brasileiros durante o ciclo dos generais”disse Daniel Pereira ―, o autor da matéria na revista, Veja, de 08 de janeiro.
 “Dilma, ao sair-se com outra tirada cara aos generais: a de que o seu governo está sofrendo uma ‘Guerra Psicológica’ ressuscita o ‘Brasil, Ame-o ou Deixe-o’” ― afirmou ainda o jornalista, na reportagem.

 Tenho certeza de que a presidenta, sobre seu implicado caso, jamais vai entrar nessa de revelar se houve alguma reciprocidade entre vítima e algoz, mesmo com seus supostos afagos recentemente repercutidos tão intensamente nos meios de comunicação. Some-se a isso, a sua reeleição, que já pode ser considerada como “favas contadas”. Ou não?

Depois, bem depois, pode ser que algum político neuropsicanalista apareça por aí, escrevendo uma “Biografia Não Autorizada”, na qual faça menção se a presidenta sofreu ou não a tal da “Síndrome de Estocolmo”. (rsrs)

Mas Freud, que no seu tempo não gostava de deixar nada sem explicação, em sua obra, “Psicologia de Grupo e Análise do Ego”, já dizia algo extremamente importante sobre o que embasa, hoje, essa síndrome. Se não vejamos:


“A identificação é ambivalente desde o início; pode tornar-se expressão de ternura com tanta facilidade quanto um desejo do afastamento de alguém. Comporta-se como um derivado da primeira fase da organização da libido, da fase oral, em que o objeto que prezamos e pelo qual ansiamos é assimilado pela ingestão, sendo dessa maneira aniquilado como tal. O canibal, como sabemos, permaneceu nessa etapa; ele tem afeição devoradora sobre seus inimigos e só devora as pessoas de quem gosta”.




Por Levi B. Santos
Guarabira, 17 de janeiro de 2014

Site da Imagem: macroscopio.blogspot.com

3 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Penso que os elogios do a Geisel refletem o interesse petista em buscar aproximações com as Forças Armadas. Geisel foi um militar nacionalista além de ter iniciado a abertura política, ainda que bem lenta. Era um desenvolvimentista e que também impediu os EUA de sobrevoarem o nosso espaço aéreo para auxiliarem a Aeronáutica no patrulhamento territorial. Assim, há vários pontos de identidade entre o PT e o governo Geisel.

Levi B. Santos disse...

Tens toda razão, Rodrigão, ao dizer que o PT (governo Lula – Dilma) tem vários pontos de identidade com seus “ex-algozes”.

Olha só o que diz esse trecho do livro, Assassinatos de Reputações” - do Romeu Tuma Filho, recentemente lançado:

“...em plena ditadura, Tumão sabia que não podia fazer uso das informações do “dedo-duro” Barba (Lula) de uma maneira irresponsável; imagina se alguém ficasse sabendo que o Lula era informante do DOPS.? Que era agente duplo! Nem sou capaz de imaginar o que poderia vir a ocorrer. [...]. Lula era do mesmo grupo do Golbery, do SNI ou da Contra-inteligência do Exército. [...] Lula combinava as greves com os empresários e avisava ao DOPS.

Lula ainda é, em 2013, amigo pessoal de quem primeiro lhe entregou esse papel de olheiro-informante do poder, ninguém menos do que Mario Garnero – ex-vice presidente industria da Volkswagen do Brasil ( Livro “Jogo Duro” – Editora Best Seller – páginas 130 a 132)

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Caro Levi,

Verdade é que, em política, não se tem amigos e nem inimigos, mas sim aliados. Golbery era uma mente inteligente entre os militares. Para ele o PT não apresentava uma terrível ameaça vermelha e nem tão pouco o Lula.

Abraços e boa semana!