“Não verás nenhum país como este” —
disse em verso, Olavo Bilac —, poeta brasileiro que, com um ufanismo incomum,
revestiu de alvissareira fantasia meus sonhos no tempo dos primeiros anos de
escola.
Hoje,
aos sessenta e nove anos de idade, ando cansado, pessimista e temeroso com os
rumos que vem tomando a nau da antiga Terra de Santa Cruz. Remando contra a
corrente daquele que foi considerado o “príncipe dos poetas brasileiros”, penso
que entre todas as nações em desenvolvimento, não verei, em vida, outro país
como este.
Parafraseando
o ex-presidente que sob suas barbas ocorreu um dos maiores escândalos do século
(o Mensalão), posso dizer que “nunca na História política mundial” se viu tamanha
desfaçatez, patrocinada por uma presidente da república. De forma tranqüila, anunciar que no seu séquito
de trinta e nove ministros, muitos poderão ser descartados no próximo mês de
fevereiro, caso o Ministério Público prove que eles estão envolvidos na tramóia
vergonhosa denominada Petrolão, é de doer os mais empedernidos corações.
Para
entender melhor, os indicados para comandar os ministérios não são ministros, estão
ministros, quando não bem deram início as suas gestões. Estima-se que nada mais
nada menos que 40 parlamentares podem estar envolvidos nesse mega escândalo que,
com certeza, será o assunto a ser pisado e repisado durante a maior parte de 2015.
Tenho a impressão de que não existe republiqueta neste vasto mundão de Deus que
tenha se envolvido em tão grande corrupção. No dizer do Procurador Geral, Rodrigo
Janot, nomeado recentemente pela presidente, os denunciados nos desvios
bilionários da Petrobrás deram ao mundo uma “aula de crime”.
A denúncia a ser feita pela Procuradoria-Geral
da República daqui a trinta dias pode enxotar os atuais republicanos de seus
cargos, com a presidenta tendo que convocar às pressas uma nova leva de
ministros supostamente insuspeitos, sabe lá Deus onde.
“A
se comprovar que cerca de 40 a 60 deputados, senadores e ministros andaram sujando
as mãos no esquema de corrupção da Petrobrás, um terremoto político pode
acontecer nos próximos dias” [Vide
link]
Não
verás, caro(a) leitor(a), nenhum país como este, um país que anuncia para 2015 aperto
nas finanças, contingenciamento de orçamentos, cortes de benefícios
conquistados pelos trabalhadores, como o seguro desemprego e pensão por morte,
ao mesmo tempo que abre a torneira de aumentos de salários para juízes, ministros
e parlamentares —, aumentos esses, escandalosos, pois equivalem quatro vezes a inflação do ano findo.
Não
sei, mas me bate uma saudade danada dos tempos em que o país parecia ser outro,
tempo no qual a reposição salarial obedecia a um índice único para todas as
categorias dos três poderes da república.
“Não
Verás País Nenhum” — titulo de um romance de Ignácio de Loyola Brandão
publicado em 1981 —, tem muito a ver com o tema aqui tratado, ao revelar em sua
narrativa momentos em que uma população esquálida, alienada e subserviente, sem
poder de reação, sobrevive desesperançada à mercê de um sistema dominado por
esquemas perversos e insanos.
Um
pequeno trecho da obra de Loyola Brandão reflete, magnificamente,
os sentimentos que, por ora, me invade o peito, fazendo-me desacreditar de um
sistema republicano tramado e inaugurado nos escaninhos, sem a presença e o calor
do povo, esvaindo-se, agora, do mesmo modo como foi proclamado:
“Os noticiários são inócuos. Novelas,
inaugurações, planos de governo, promessas de ministros. Como acreditar nesses ministros,
a maioria centenários? Quase perpétuos, remanescentes da fabulosa Época da
Grande Locupletação”.
É
triste dizer aqui que a franqueza feliz que inebriava meus tempos de estudante,
evaporou-se. Quanto ao futuro de nosso país, as astúcias e artimanhas que
tornaram banal o que é mal e ilícito deixaram os meus olhos opacos. Como quem
nada fatigadamente sem rumo em águas revoltas, o meu olhar desencantado, por
ora, não enxerga ou não vislumbra no mundo dos homens um horizonte digno.
Por Levi B. Santos
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