Repórteres, jornalistas e o mundo
político brasileiro passaram quase toda esta sexta feira (dia 06), a esperar ansiosamente a
lista de Janot. Já passava das 22
horas quando, pelo canal televisivo Globo News, saiu, enfim, o malfadado listão de Rodrigo Janot, autoridade máxima do Ministério Público. Não se passaram nem cinco minutos
e os principais jornais dos EUA já comentavam sobre a abertura de investigação
das principais figuras políticas brasileiras envolvidas no mega-escândalo da
Petrobrás.
Numa analogia a famosa peça teatral, “Esperando
Godot”
de Samuel Beckett, a frase “Esperando Janot”, foi muito citada durante a semana nos
meios jornalísticos.
Na aplaudida e mundialmente conhecida
peça, “Esperando Godot”, dois andarilhos, Estragon (gogo) e Vladimir (Didi), enquanto
esperam a chegada de Godot (que nunca
vem), jogam conversa fora.
O título dessa peça de Samuel
Beckett (1906
– 1989), nesses últimos dias, serviu de mote para a tão esperada lista do
Procurador Geral da República, Janot, com os nomes dos parlamentares
envolvidos no maldito petrolão. O que tem a ver Godot, com Janot, não
sei. Mas, relendo a peça teatral, algo me surpreendeu logo no início do
primeiro ato. Fica a critério do leitor(a) deduzir se, o trecho
que aqui replico de um diálogo inspirado no julgamento do Messias (nos
Evangelhos), há alguma coisa a ver (ou não) com o rolar dos acontecimentos recentes da republiqueta fundada por Dom João VI.
[Enquanto
Esperam GODOT]
Vladimir (Didi):
Assim
matamos o tempo. (Pausa) Eram dois ladrões crucificados ao mesmo tempo que o
Salvador. Se...
Estragon (gogo): O que, quem?
Vladimir: O Salvador. Dois ladrões. Diz-se que um deles
foi salvo, e o outro condenado.
Estragon: Salvo de que?
Vladimir: Do inferno
Estragon: Vou-me (senta-se quieto)
Vladimir: E, entretanto... (Pausa) Como é possível
que?... Suponho que não te aborreço.
Estragon: Não escuto.
Vladimir: Como é possível que, dos quatro evangelhos,
só um conte os fatos desta forma? Não obstante os quatro estavam ali; vamos...
não muito longe. Só um fala de um ladrão salvo. (Pausa) Bom, Gogo, de quando em
quando se podia colocar vaza.
Estragon: Escuto
Vladimir:
Dos quatro, só um. Dos três, dois nem sequer o mencionam, e o terceiro diz que
ambos lhe insultaram.
Estragon: Quem?
Vladimir: Como?
Estragon: Não entendo nada. (Pausa) Insultar a quem?
Vladimir: Ao Salvador.
Estragon: Por quê?
Vladimir: Porque não quis salvá-los.
Estragon: Do Inferno?
Vladimir: Não, homem, não. Da morte.
Estragon: Nesse caso...
Vladimir: Os dois deveriam ser condenados.
Estragon: E depois?
Vladimir: Mas um dos evangelistas diz que um se salvou.
Estragon: Vá, não estão de acordo; nada mais.
Vladimir: Alí estavam os quatro. E só um fala de um
ladrão salvo, por que acreditar em um a
mais que os outros?
Estragon: Quem lhe acredita?
Vladimir: Pois todos. Só se conhece esta versão.
Estragon: Somos tontos.
Vladimir: Puff (Cospe).
Estragon: Formoso lugar! (volta-se, avança até a
bateria e olha para o público). Rostos sorridentes. (Volta-se até Vladimir).
Vamos
Vladimir: Não podemos.
Estragon: Por quê?
Vladimir: Esperamos ao GODOT.
P.S.:
Refletindo bem, a peça “Esperando Godot” e a Lista de Janot, na verdade, têm algo em comum. Samuel Beckett teceu sua peça sob o pessimismo e as cinzas da
segunda guerra mundial. O Procurador Rodrigo
Janot, de igual modo, trata de recolher o que sobrou das ruínas de uma
república em seu triste ocaso.
Por Levi B. Santos
Guarabira, 07 de março
de 2015
5 comentários:
Levi, fizeste um link muito interessante entre Janot e Godot. A diferença foi que Janot apareceu.
O GODOT, Eduardo, apareceu para alguns. Falta encarar a turma da pesada (lá de cima) que está armada até os dentes. (rsrs)
O drama (ou peça) está apenas começando, ou no primeiro ato. Não se sabe ainda qual Godot vai levar a tarefa hercúlea até o seu desfecho, pois, já se fala, a boca pequena, que o Congresso não vai aprovar a recondução do Godot atual, cujo mandato se vence em setembro. Pode ser que o país fique numa infinita espera por um Godot nº 2, ou de nº 3.
O grande nó é que não se sabe se o Godot idealizado pelo povão, virá mesmo. E se vier, será que ele receberá poderes ou autorização para arrumar a Casa da Mãe Joana, como reza a justiça divina? (rsrsrs)
Enquanto isso, nós (cidadãos comuns), representados pelas figuras de Vladimir (Didi) e Estragon (gogo) ficamos aqui a jogar conversa fora, sonhando com um Godot ilusório a tirar o país do atoleiro em que se encontra.
O fato é que, enquanto a população não tomar uma atitude cidadã diante de tanta patifaria, teremos processos de faz-de-contas no país de D. João VI. Se estivéssemos num Estado europeu, será que lá as pessoas deixariam um roubo tão grande como o do petrolão ficar barato?! Afinal, quantas escolas e hospitais não poderiam ter sido construídos com essa grana que os caras do PP, PMDB e PT desviaram?! Porém, chegam novas eleições e muitos desses bandidos são novamente eleitos ou mudam de cargo. Talvez só uma crise econômica leve o povo de volta às ruas sendo certo que falta um projeto nacional capaz de transcender os limites da mera indignação pois, do jeito como as coisas andam, existe aí o fundado risco de mudanças serem promovidas pelas elites (conforme seus interesses) e o povo assistir a tudo bestializado como no 15/11/1889 quando a desgastada monarquia derrubada pelos ex-monarquistas...
O personagem “Estragon” no diálogo que postei, de Samuel Beckett, diz VAMOS!
Mas Vladimir, diz: “Não podemos. Estamos esperando Godot!”
Como sempre, em situações periclitantes, o povo brasileiro, Rodrigão, intuìu em si esta sina: é o último a entender o que está acontecendo,(como foi na farsa da Proclamação da República). O passado do nosso povo mostra que não é a primeira vez nem será a última, em que se opta por permanecer paralisado, na dúvida entre o “IR” e o “FICAR” esperando o Salvador Godot.
Não há dúvida de que existe algo em comum entre a peça teatral de Beckett e a situação de vexame a que chegamos. Concorda, Rodrigo?
Exato, Levi! Espera-se sempre o "salvador da pátria" e as inúmeras igrejas ensinam por aí que o mundo está acabando e a única coisa restante ao cristão seria aguardar a volta de Jesus como se cada cidadão não tivesse uma responsabilidade pela situação trágica na qual o país encontra-se mergulhado. Oras, chega de esperar Godot e sejamos nós a resposta para essa geração!
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