De
há muito ele vinha observando o avanço tecnológico chegando a
lugares nunca dantes navegados. O tal do “Wi-Fi” está sempre
presente em locais onde há bastante gente com
celulares, smartphones tablets e laptops. Agora, o Reverendo pensava com seus botões: Se esse espetacular recurso cibernético está em supermercados, em shoppings, livrarias, restaurantes, consultórios
médicos e concessionárias de automóveis, por que não nas igrejas do Senhor?
Quando
viu os professores chegarem a um estudo bíblico em sua igreja
empurrando carrinhos de supermercados abarrotados de Bíblias, disse
para si mesmo: chegou o momento de estabelecer o Wi-Fi em minha
igreja. É para já ― pensou de forma altaneira.
Nessa
noite não houve estudo. O Pastor mandou todos voltarem com seus
carrinhos
cheios de bíblias. Um
dos irmãos disse que estava transportando cerca de 90 quilos de
“Escrituras Sagradas”. É que
iríam realizar
um mega-estudo
sobre as discordâncias nas inúmeras traduções de Bíblias do
Mercado Gospel, pois
estava
havendo
uma confusão danada entre as mais de duas mil denominações
evangélicas existentes
no Brasil,
que na dúvida, confabulavam: Será que essa contém a mais verdadeira tradução? Depois, ao lerem
outras de interpretação
diferente da sua, achavam que deviam mudar. E
era
aquela celeuma
sem
fim de traduções bíblicas conflitantes a deixar todo mundo com o "pé atrás". Havia
a Bíblia de Dake, a de Thompson, a de Scofield, a de Jerusalém, a
bíblia
de Estudo Pentecostal, bíblia de Estudo NVI, bíblia
da Mulher, bíblia na Linguagem de Hoje, bíblia
de Estudo de Genebra, etc. Para a
descrição não
ficar tão cansativa,
o(a) leitor(a) quer quiser saber mais sobre os tipos de bíblia, basta
clicar
aqui.
Não
foi tão difícil chegar a um acordo sobre a senha do Wi-Fi que seria
usada na igreja. A senha seria “DeuséGrande54321”. O
reverendo trouxe um texto científico de um renomado instituto de
Neuro-Teologia dos EUA, que dizia ter o homem moderno apenas um Giga de memória em seu cérebro, e que os computadores modernos chegavam
a ter até 8 gigabytes de potência, ou seja, 800 % mais
espaço de memória que o do humano. Um fiel que tinha trazido 90
quilos de bíblias em seu carrinho de supermercado ficou de olhos
arregalados, quando o reverendo lhe explicou que o conteúdo de todos
os livros sagrados em seu poder, bastaria meio megabite de potência
de um tablet, para guardá-los todos em sua memória. Ficou deveras
contente quando soube que, no site de Busca do Google, só de tipos
de orações, existiam mais de vinte mil.
E
não é que no Google, existe
até uma versão do mais conhecido trecho da bíblia ―
O Salmo 23, bem ao
modo da Era Digital
[Vide Link: O Google
é Meu Pastor”]
O
sábio reverendo ao ver, enfim, que a busca da felicidade, em virtude
da natureza humana, era baseada no modo TER de existência, passou a aconselhar seus fiéis a não importunarem Deus com coisas que os
sites de busca já dão prontinhos a um sutil clique. Ficaria para
apelação divina o que não se conseguisse através do Google.
Passou a ser obrigatório o uso dos aparelhos digitais pelas crianças
no aprendizado nas escolas bíblicas, em pesquisas de assuntos que
diziam respeito mais ao fantasioso e religioso mundo infanto-juvenil.
A
sua igreja cresceu assustadoramente. Ao ver o ar alegre estampado no
rosto e olhos cintilantes dos que ali estavam reunidos em torno
da telinha a tomar conhecimento das últimas novidades e milagres da
era digital, quem ali chegasse, só poderia concluir que
aquele povo tinha algo diferente para oferecer.
No
culto das noites de domingo, em que era permitido mandar mensagens,
vídeos e fotos para grupos do WhatsApp, numerosos paus de selfies
com smartphones em uma de suas extremidades pareciam dançar sobre as
cabeças dos fiéis, como se fossem arcos de violinos de uma
invisível orquestra sinfônica em ação. Mensagens seguidas de
fotos choviam, tais como: “Olha eu aqui a cantar!”, olha eu
aqui a tocar!”, “Viu o meu vestido novo?” “Como acha que me
saí?”
De
início, os opositores do Wi Fi em igrejas reagiram de forma dura,
digamos até violenta. Depois, foram se acostumando pouco a pouco com
as “maravilhas” do evangelho digital dentro dos templos.
Tempos
depois, apareceu um enorme cartaz bem na entrada do templo do
reverendo inovador:
“A
Operadora informa que quem for pego roubando sinal de Wi Fi da Igreja
será multado. A reincidência na prática desse vil pecado terá
como consequência o alijamento do infrator do rol de membros da
'sancta ecclésia'.”
Por
Levi B. Santos
Guarabira, 06 de outubro de 2015
Link da Imagem: blogspot.com.br/2015/02/10-maneiras-de-se-tirar-uma-selfie-para.html
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2 comentários:
Levi, já há pastores que aposentaram a velha bíblia de papel e agora usam a versão digital nos cultos. Logo, logo, tudo o que você escreveu será coisa corriqueira nos arrais gospel...rss
Você tem razão, Eduardo. Dois anos e dez meses atrás, quando publiquei a versão DIGITAL do Salmo 23, houve um polemicazinha na blogosfera, mais só entre fundamentalistas. Hoje, a versão do “O Google é Meu Pastor, Nada Me Faltará” já não tem mais graça. (rsrs). Para reavivar a memória o Salmo da Era Digital vai aqui replicado:
O Google é Meu Pastor, Nada me faltará.
Alimenta-me em seus verdes pastos
Guia-me com facilidade por lugares tranqüilos e inimagináveis.
Refrigera a minha alma, guia-me pelas veredas virtuais por amor de Sua sigla.
Ainda que eu ande pelo vale da ignorância e da insensatez não temerei mal algum
Porque Tu estás comigo diuturnamente. Os Teus links e os Teus arquivos me consolam.
Preparas a cada dia uma mesa diante de mim na presença dos inimigos que não Te buscam,
Unges os meus olhos com o Teu Youtube e o meu cérebro com a tua Biblioteca e Wikipédia, e a minha vida transborda de alegria.
Certamente que a bondade e o pronto socorro que ofereces, através de tuas infinitas e fantásticas informações, me seguirão todos os dias de minha vida; e habitarei em Tua Casa por longos dias.
[uma paródia do Salmo 23 (do rei e poeta Davi)]
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