Mapa
do Retalhamento Étnico na Síria
Em
seu “Tratado Teológico Político”, Espinosa (1632 ─
1677), já fazia ver que “os direitos subjetivos dos deuses nada
mais eram que a soma dos direitos subjetivos dos indivíduos.
Espinosa entendia que as guerras não eram dos deuses, elas decorriam da
fértil imaginação humana que as percebiam como ordens divinas.
Esse filósofo via que a religião e a política eram mantidas por um
elemento comum aos dois lados ―
a paixão. Ambas se
alimentam do mesmo veneno.
E
aí, é onde tudo se complica, “até porque a paixão não pode ser
contrariada ou suprimida, a não ser por uma paixão contrária e
mais forte que a paixão a contrariar”. Em suma, todo projeto teológico é um projeto político. Quem não se lembra da emblemática frase dita pelo deus de George Bush, por ocasião dos atentados contras as Torres Gêmeas nos EUA, em setembro de 2001?: "É a luta do Bem contra o Mal" - disparou o presidente da nação americana. Por sua vez, os Aiatolás não ficaram atrás, e afirmaram de imediato que os EUA seriam o "Grande Satã".
E
nesse teatro do Bem contra o Mal, dizia Eduardo Galeano, é sempre o
povo quem conta os mortos.
Moisés,
o grande líder político dos hebreus, regido pela ideia central de
formar um poderoso Estado, percebeu o Divino a tomar-lhe os sentidos,
vaticinando para si e para os seus uma terra que manava leite e mel.
Os habitantes dessa terra fértil que eles sonhavam possuir levaram a
pior por possuir um deus mais fraco. Só que os vencedores esqueceram
de um detalhe importantíssimo: por trás de cada triunfo se esconde
uma efêmera segurança, uma vez que o vencedor de hoje pode ser o
derrotado de amanhã.
Vejam
a que ponto chegou, atualmente, o projeto teológico-político
engendrado em nome do “Deus ocidental”, visando uma impraticável
pacificação
entre as várias correntes étnicas que na Síria, há quatro anos,
não param de se digladiarem mutuamente. Cada grupo vê um imaginário
deus a decretar a aniquilação dos adeptos de outros deuses. Os
seguidores desses deuses sanguinários, antigamente, usavam espadas e
lanças para destruir o outro. Hoje eles movimentam trilhões nas
indústrias de fabricação de poderosíssimas armas. Até crianças
de pouco mais de doze anos são bem-vindas a esse reino, tornando-se
lançadores de granadas, de mísseis e exímios no uso de superpotentes
metralhadoras.
Diante
de toda a insanidade política em nome de Deus, não poderia deixar
de, aqui, replicar um significativo trecho do Tratado Teológico
Político de Espinosa, que apesar de ter sido escrito há quase 400
anos, continua mais atual do que nunca . Ele já antevia a Sagrada
Escritura, como meio de desaguar as desenfreadas paixões humanas
para projetos políticos em nome do sagrado, como bem atesta o trecho
abaixo:
“Ora,
assim como a Escritura costuma descrever Deus à semelhança do homem
e, dada a ignorância do vulgo, atribuir-lhe mente, vontade, paixões,
até mesmo um corpo e um hálito, assim
também utiliza muitas vezes espírito de Deus por mente, quer dizer
por ânimo, paixão e força”. (Tratado
Teológico Político – página 27 – Martins Fontes Editora)
Enquanto
escrevo esse pequeno artigo, recebo a notícia de que as máximas
autoridades políticas francesas
(é claro, em
nome do
deus cristão)
decidiram,
neste domingo (dia 27) realizar uma série de ataques aéreos contra
alvos do Estado Islâmico (E.I) na Síria. (Vide
Link)
Para
quem ainda não
sabe, a organização E.I. foi fomentada pelos EUA, que
treinaram e forneceram armamentos modernos a esses
guerrilheiros fanáticos numa tentativa de derrubar o presidente, Bashar
Al Assad da Síria.
Pelo
visto, a barafunda em nome dos deuses de
lá e de cá,
complicada agora com a imensa leva de refugiados pedindo socorro aos
“cristãos” do mundo ocidental, está longe de ser resolvida.
Por
Levi B. Santos
Guarabira,
27 de setembro de 2015
Um comentário:
Caro Levi,
Do jeito que se encontra hoje a Síria e outras regiões do mundo árabe, e preciso que a ONU intervenha urgentemente enviando tropas.
Provavelmente terão que engolir o ditador sírio visto ser este preferível do que o EI e os demais radicais.
Verdade é que não podemos impor nem o nosso estilo de vida e nem a democracia a nenhum povo estrangeiro. Pois, se não faz parte da cultura deles escolher livremente quem irá governá-los, qual religião praticar ou em que partido vão se filiar, cabe a nós respeitarmos o mal que desejam para si, fiando por conta dos corajosos missionários arriscarem seus pescoços para anunciar Jesus Cristo onde há hostilidade ao Evangelho do Reino.
Como cristão, eu desejo a conversão dos meus irmãos muçulmanos e apoio a Missão Portas Abertas. Entretanto, reconheço que não temos o direito de nos meter nos assuntos internos deles enquanto não prejudicam os nossos.
De qualquer modo, entendo que se justifique neste momento uma intervenção militar com o fim de acabar com esse bestial Estado Islâmico antes que consigam implantar seus pretendidos califados.
Um abraço,
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