Chovesse
ou fizesse sol, por essas horas em que escrevo este “patriótico”
texto, as ruas no meu tempo de estudante do primeiro grau, estavam
tomadas por multidões de alunos garbosamente vestidos, desfilando
com ardor, enaltecendo o corte supostamente “definitivo” dos
laços do Brasil com Portugal.
São
dez horas da manhã de 7 de setembro de 2015. As ruas de minha cidade
estão completamente desertas. As multidões que no dia dedicado à
festividade maior da Pátria superlotavam as calçadas do centro da
cidade, sabiamente, trocaram as patriotadas sem sentido, pelo
prazeroso descanso nas areias das praias e nas fazendas.
Por
ironia do destino, cá estou com a revista semanal de maior
circulação na pátria mãe gentil, a ler uma reportagem sobre a
atual situação política e moral de Portugal. Por incrível que
pareça, a pátria do escritor José Saramago (prêmio Nobel de
literatura) que nos colonizou, hoje, está bem a nossa frente, no que
tange à velocidade de investigação da Justiça sobre a corrupção
nas altas esferas do Poder. Pelo que foi noticiado na imprensa, “o
primeiro ministro e ex-chefe do governo Português, José Sócrates,
encontra-se encarcerado desde Novembro do ano passado”.
Material
farto colhido dos escaninhos de nossa história descrevem o grito da
independência do Brasil dado por D. Pedro I como uma farsa mal
ensaiada nos idos de setembro de 1822. Longe da farsa de quase
duzentos atrás, o que se sabe é que Portugal e não o Brasil, hoje,
é quem corre mais célere no corte dos laços que uniam a corrupção
de lá à nossa.
O
professor Paulo Morais, membro da Transparência Internacional,
afirma que os laços de Portugal com o Brasil e Angola nunca
estiveram tão fortemente ligados: as maiores empresas da ex-colônia
investigadas pela operação Lava Jato são as mesmas que estavam
envolvidas nos escândalos em Portugal e na África.
O
certo é que as autoridades portuguesas, através da “Operação
Marquês”, vêm dando uma aula à ex-colonia portuguesa da América
do Sul de como se amputa o mal sem crise institucional. Lá, não se
ficou a patinar para frente e para trás, sem chegar ao Topo da
Organização. Pelas terras que já foram do português Dom João VI,
por enquanto, tudo caminha a passo de tartaruga, em nome da tal governabilidade, que para alguns tem outro nome.
Por
Levi B. Santos
6 comentários:
Neste e em outros aspectos, Portugal conseguiu cortar vários desses laços do passado. Mas não tem muito tempo, li certa vez que a França também se afundava em corrupção em outros séculos. Espanha e Itália idem. De qualquer modo, se formos comparar os dois países de língua portuguesa, há um fator que os diferencia bem - o grau de instrução do povo. E, no meu ponto de vista, entendo que temos avançado no decorrer da História já que, em épocas passadas, a corrupção parecia ser proporcionalmente bem maior. E pior, não chegava a ser tão descoberta como na atualidade...
Em tempo! Já temos uns poucos prefeitos presos neste país (aqui em minha cidade isto ocorreu em abril do corrente ano) sendo que o impeachment do então presidente Collor (1992) também pode ser considerado um marco histórico. Ou seja, estamos avançando embora a aceleração é que precise aumentar tendo em vista estarmos bem distante do padrão do mundo desenvolvido.
Em tempo 2! Uma outra maneira de avaliarmos melhor o país-irmão seria considerarmos a evolução deles a partir da Revolução dos Cravos, de 24 de abril de 1974. Através desse movimento social, os portugueses depuseram o ditatorial Estado Novo deles que durava desde 1933. Escreveram então uma nova Constituição dois anos depois com a implantação de um regime democrático. Enfim, temos aí uma diferença de mais de dez anos entre lá e cá...
Há similitudes entre a “Operação Lava Jato” da ex-colônia portuguesa e a “Operação Marquês” do país que nos colonizou, pois, as grandes empresas que lá estão envolvidas em negociatas são as mesmas que negociaram cá sob às barbas do governo. Entretanto, lá, as coisas correram mais céleres e não houve abalos institucionais quando se chegou à prisão dos que estavam no Topo da Organização.
O jeitinho brasileiro de contornar situações escabrosas, fazendo com que o povo esqueça rápido as tramóias, já passou a fazer parte da índole dos ex-colonos de Portugal, não acha, Rodrigão? (rsrs)
Há que se levar em conta, Levi, de que Portugal é um país cujo sistema de governo é o parlamentarista em que a queda de um primeiro-ministro não alcança a chefia do Estado.
Há que se considerar também que, além do grau de instrução na ex-metrópole ser mais elevado do que na ex-colônia, suponho que o ingresso do país na UE trouxe mudanças bem interessantes quanto à questão da corrupção.
De qualquer modo, sabemos que há um progressivo fortalecimento das instituições estatais e uma delas se chama Ministério Público. Na atualidade, tanto o nosso MP quanto a PF estão atuando com grande diferencial do que foram no passado.
Podemos não estar no nível de Portugal, porém percebo que temos avançado no decorrer das décadas.
Abraço.
E falando em Portugal, estão previstas eleições para o cargo de Primeiro Ministro nas eleições do próximo dia 4. Os candidatos são Antonio Costa (PS) e Passos Coelho (CDS/PSD) sendo que os debates têm girado em torno da previdência social, em particular às pensões atuais e futuras, tendo em vista o envelhecimento da população. Outro tema abordado por lá tem sido a pressão exercida pela UE (troika) sobre Portugal com vistas à adoção de um programa de austeridade.
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