Teatro
Santa Ignês – Alagoa Grande - Pb
No
meu tempo de menino, em Alagoa Grande – Pb (emancipada em 1865) o
dia de Reis (06 de janeiro) era muito comemorado. O meu torrão natal
era um centro adiantado em indústrias de beneficiamento do sisal, do
algodão e possuidor de um comércio pujante. Para lá convergiam
gentes de todas cidades das redondezas, inclusive de Campina Grande
(hoje, o segundo maior centro populacional da Paraíba). Nos dias de
festa, como o da Folia de Reis, a cidade se engalanava e o colorido
festivo tomava conta de todos os recantos de suas ruas, vielas e
ladeiras.
Não
tínhamos hotéis, mas tínhamos pensões para acomodar os visitantes
que vinham passear de “teco-teco” (aviões rústicos, para duas
pessoas) que alçavam voos de um campo de pouso ao lado da lagoa
do Paó (centro de cidade) A lagoa, na parte de contato com o centro
da cidade, era murada e ponteada por luminárias de estilo barroco. Barcos
à motor, nos finais de semana, singravam sobre águas tranquilas.
Cada barco levava quatro ou seis passageiros para um breve passeio.
Pais e mães com suas crianças se esbaldavam nos famosos parques de
diversões. Vagões de trem de primeira classe(os mais luxuosos) e de
segunda classe, traziam turistas das cidades de João Pessoa, Sapé,
Bananeiras, Santa Rita, até do Recife e do Rio Grande Norte.
Tínhamos hipódromo e uma bolsa de aposta para os que acertassem no
cavalo/cavaleiro campeão. O rei do forró, Luiz Gonzaga era presença
obrigatória nesses festejos. O Rei do Baião, em um caminhão
improvisado de palanque, também participava de comícios dos
partidários do PSD e da UDN, nas campanhas para prefeito municipal.
E por falar em política, não me sai da lembrança o grandioso
comício do candidato à presidência da República pelo PSD,
Juscelino Kubitscheck, realizado em 1955 na praça D. Adauto (centro da
cidade). O Alagoagrandense Jackson do Pandeiro, não cheguei a
conhecer pessoalmente. É que nessa época, ele já tinha debandado para
fazer sucesso no Rio de Janeiro. De suas mais de duzentas composições
musicais, o Canto da Ema, e Sebastiana são as mais cantadas entre a
nossa gente.
Lembro
que o prefeito Telésforo Onofre (o popular Seu Telécio), como a
maior autoridade da cidade, era reverenciado como se fosse um rei.
Quer nas ruas, nas feiras ou em solenidades, lá estava com seu
chapéu da marca Prada, portando sempre um impecável terno de
linho branco importado e gravata de seda autêntica. Sua residência
era a maior e mais bela da cidade, e tinha toda a extensão de sua
frente revestida de azulejo português, como se conserva ainda hoje.
O
dia de Reis (ontem), trouxe-me algumas reminiscências culturais.
Como deixar passar batido, as retretas da Filarmônica Municipal, nas
noites de sábado no famoso coreto, vizinho ao prédio dos Correios,
onde sobre a relva da praça me deleitava ouvindo os dobrados, as
polcas, valsas e boleros que, vez ou outra, sob a forma de assovios,
extravasa dos arquivos meio entravados de minha memória? Como deixar
de ressaltar, nessa hora, o famoso Teatro Santa Ignês, palco de
peças que estavam em evidência internacional nessa época. Conta o
historiador José Avelar Freire no seu livro “Alagoa Grande ―
Sua História” [Ideia Editora - edição 1998], que em 1905 uma companhia tetral francesa, veio
fazer três apresentações no Brasil (Pelotas-RS, São Luis – MA e
Rio de Janeiro), ocasião em que o
deputado federal Apolônio Zenaide, radicado em A. Grande, num feito
extraordinário, acabou por trazer o grupo teatral francês para uma
apresentação no Teatro Santa Ignês de apenas poucos meses de
inaugurado.
A
história da professora de piano do Conservatório Musical Antenor
Navarro – João Pessoa, Júlia Nóbrega, que aqui erradicou-se aos
4 anos de idade, confunde-se com a história cultural de Alagoa
Grande (Vide
Link). Foi no colégio das irmãs Doroteias que ela
aprendeu a arte de se expressar no piano. O gosto por esse
instrumento inebriou os corações dos primeiros intelectuais a
aportarem em nossa terra. Tanto é que no meu tempo de estudante
ginasino, o piano importado da Europa era exibido nos principais
salões das residências de famílias tradicionais, como os
Montenegros, os Nóbregas, os Zenaide de Albuquerque.
Para
matar a saudade recorri ao Youtube. Na ânsia de encontrar algo
interessante da velha Alagoa Grande do Paó, deparei-me com uma
pérola de gravação, onde o historiador da cidade, José Avelar
Freire, desfia o novelo de recordações do tempo de minha meninice,
em que eu era feliz e não sabia. Com os devidos créditos à TV Itararé de Campina Grande (Programa Diversidade), replico o
vídeo, aqui, no meu recanto do Google:
Por Levi B. Santos
Guarabira, 07 de janeiro de 2016
Site
da Imagem:
jornaldaparaíba.com.br
2 comentários:
Boa tarde, Levi.
Sem dúvida são tradições que não podem ser apagadas da memória e precisam ser cultivadas. Aliás, se naqueles tempos já trazia um turismo para a cidade, mesmo sem haver pousadas, imagine na atualidade em que muitos milhares de estrangeiros desembarcam anualmente no Nordeste brasileiro?!
Aqui no Sudeste, essa tradição anda bem enfraquecida. Eu mesmo, quando criança, só aprendi sobre a Folia de Reis nos livros estudantis. Jamais cheguei a assistir uma!
Quando criança, Rodrigão, não carregava tantos fardos pesados impostos pela religião. Extasiáva-me com a Folia de Reis, com o Carnaval, e as festas juninas sem sentimento de culpa, apesar de meus pais pentecostais, naquele tempo, considerarem estes folguedos coisa do capeta (rsrs)
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