20 julho 2019

E A LUA SE DEIXOU PISAR






Lá se vão 50 anos. Cursava o quarto ano de Medicina na UFPB, quando na tarde do dia 20 de julho de 1969 as ruas do bairro de Jaguaribe - em João Pessoa, de repente, ficaram desertas. Quase todos acorreram aos seus lares para assistir pela TV (em preto e branco), o homem pousar na Lua. Nesse tempo, residia na casa de uma tia, em um local aprazível, bem no finalzinho da tradicional e festiva av. Vasco da Gama.

Em meio ao chuvisco na tela da TV, deu para ver a poeirinha subir, segundos após Neil Armstrong tocar levemente a superfície da Lua. À medida que o astronauta caminhava desajeitadamente, os sulcos da sola de suas botas espaciais iam deixando fundas marcas na frouxa areia do solo lunar. Meu tio e eu ficamos estáticos diante daquele grandioso espetáculo. A Lua, nos corações dos namorados e poetas, a partir daquele momento deixava de ser fisicamente inacessível, para ser objeto de especulação dos astronautas da NASA.

Lembro que em 1961 (oito anos antes dessa grande conquista espacial), a cantora Ângela Maria (intitulada a Rainha do Rádio), já fazia seu protesto contra a briga entre russos e americanos na louca corrida para ver quem primeiro exploraria a morada de São Jorge e seu dragão. Para os menestréis e seresteiros que, em altas horas da noite derramavam suas vozes dolentes entre sublimes acordes tirados das cordas de seus violões, a Lua era sua indevassável e inspiradora deusa. Os da minha geração, com certeza, jamais esquecerão das sinfonias noturnas que nas noites enluaradas enchiam o ar, estimulando o(a)s jovens insones a sonhar doces sonhos em suas alcovas.

Hoje, a Lua, sem o mistério de antes, ainda dá o ar de sua graça nas fotos tiradas pela “geração smartphone”.

Enfim, venceu o progresso. De nada valeu o apelo ― “Lua... oh Lua... - não deixa ninguém te pisar!” ─ refrão da modinha carnavalesca “A Lua é dos Namorados”, cantada ardorosamente nos velhos carnavais.

Por Levi B. Santos
Guarabira, 20 de julho de 2019





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