Marechal
Hermes da Fonseca – Revista Nossa História nº 32
Passados
sessenta dias de uma Quarentena que teve dia marcado
para começar, mas não para
terminar, resolvi revisitar a minha coleção da Revista mensal
― “Nossa
História” ―
Editora Vera Cruz.
Talvez condicionado pelo
pandemônio político da atualidade, me
ative à edição n°
32, de junho de 2006, que trata das peripécias do Marechal Hermes da
Fonseca, nosso 8º
presidente da república.
Em
seu artigo ―
“O presidente
Urucubaca” ―,
Nívea Pombo,
mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense, faz
um passeio, ao mesmo tempo
real, trágico e
risível sobre o
personagem que em campanha explorou o mote “política das
salvações”, cujo símbolo
era uma vassoura para varrer a roubalheira dos civilistas. No
dizer de muitos daquela época, a morte prematura do
ex-presidente, Afonso Pena,
em 1909 (dois
anos antes do término de seu mandato) teria sido consequência de
uma grande contrariedade
que teve com Hermes da Fonseca,
em uma tensa discussão.
Devido a esse entrevero, o
marechal ficou conhecido popularmente como “o presidente
urucubaca”.
Após
a campanha eleitoral muito
acirrada entre
civilistas e militares. Hermes,
enfim,
derrotou
seu opositor, Rui
Barbosa e governou
o Brasil de 1912 à 1916. Segundo
a autora do texto, “o
presidente mal despiu a farda foi acusado de vencer graças às
fraudes eleitorais.”
Se hoje, com urnas
eleitorais eletrônicas
digitais, ainda há quem
advogue que as eleições
podem ser fraudadas,
avaliem como eram apuradas e
contabilizadas as
cédulas de votação
depositadas
em pequenos sacos de lona, antes
do ano 2000?
Logo
no começo de seu artigo, a historiadora cita alguns dados peculiares
desse personagem:
“Baixo,
gordo e calvo. Hermes da Fonseca era
dono de traços físicos pouco atraentes. Pesava ainda sobre o
presidente a fama de ser indeciso, ignorante e pé-frio. Durante todo
o seu governo, a opinião pública o azucrinou. Pela sua presumida
ignorância foi apelidado de ‘Dudu’. Na imprensa, as caricaturas
e paródias faziam mais sucesso do que suas ações administrativas,
o que fez dele a maior vítima presidencial de chacotas.[...]Pouco
afeito aos estudos, foi expulso após brigar com três colegas e
rasgar a batina de um padre”.
O
Rio de Janeiro, como ainda
hoje acontece, era sempre o
epicentro dos pandemônios
políticos das
mais variadas magnitudes. No
que diz respeito ao
popularmente cognominado,“Dudu”,
diz a escritora
e mestre de
nosso enredo político-social:
“a
antiga capital da república ficou oito meses em estado de sítio, o
que minou sua tênue base política e foi um prato cheio para as
críticas civilistas.
Eram os primeiros
indícios de que a gestão do marechal
seria turbulenta e azarada”. Mesmo
com seu filho Mário Hermes com quem andava colado e, muitas vezes,
mais atrapalhava do que o ajudava, construiu várias vilas operárias,
como a de Sapopemba, hoje bairro de marechal Hermes. Em
sua vida palaciana gostava de magnas
festas
e saraus. Os rega-bofes eram tantos, que o velho Rui Barbosa,
apelidou o Catete de “Versailles
do século XVII”,
aludindo a famosa corte francesa. Sobre as farras palacianas, assim
escreveu, Nívea Pombo:
“Nenhum
evento causou tanto
‘frisson’ quanto
o sarau ‘Corta-Jaca’. Considerada
chula e pornográfica, a composição era um dengoso maxixe de
Chiquinha Gonzaga. Tudo foi motivo para mais caricaturas e canções
irreverentes:
O
Dudu sai a cavalo
O
cavalo logo empaca
E
só recomeça a andar
Ao
ouvir o Corta-Jaca”.
Depois
de um governo com muitos empréstimos internacionais a pagar e quase
nenhuma de suas promessas messiânicas
realizadas, com exportações despencando e crise severa na produção
de borracha na Amazônia, o
marechal Hermes da
Fonseca entrega ao seu
sucessor, Wenceslau Braz, um país extremamente endividado.
Sobre
o triste fim do presidente Urucubaca, conclui
a mestre em História Social, Nívia Pombo:
“Com
o fim do mandato recolheu-se em Petrópolis
e passou a fazer móveis e casinhas para passarinhos. Dois anos
depois, foi preso pelo envolvimento numa conspiração militar contra
o presidente Epitácio Pessoa. Em liberdade e doente, voltou a
Petrópolis onde faleceu de um ataque cardíaco em 09 de setembro de
1923. Seu último desejo foi ser enterrado em trajes civis,
dispensando as honras militares”.
Por
Levi B. Santos
Guarabira,
21 de maio de 2020
Fonte
Consultada:
Revista
Nossa História Ano 3 / nº 32 – junho de 2006
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