21 maio 2020

“DUDU” ― O Presidente Urucubaca



Marechal Hermes da Fonseca – Revista Nossa História nº 32


Passados sessenta dias de uma Quarentena que teve dia marcado para começar, mas não para terminar, resolvi revisitar a minha coleção da Revista mensal ― “Nossa História” ― Editora Vera Cruz. Talvez condicionado pelo pandemônio político da atualidade, me ative à edição n° 32, de junho de 2006, que trata das peripécias do Marechal Hermes da Fonseca, nosso 8º presidente da república.

Em seu artigo ― “O presidente Urucubaca” ―, Nívea Pombo, mestre em História Social pela Universidade Federal Fluminense, faz um passeio, ao mesmo tempo real, trágico e risível sobre o personagem que em campanha explorou o mote “política das salvações”, cujo símbolo era uma vassoura para varrer a roubalheira dos civilistas. No dizer de muitos daquela época, a morte prematura do ex-presidente, Afonso Pena, em 1909 (dois anos antes do término de seu mandato) teria sido consequência de uma grande contrariedade que teve com Hermes da Fonseca, em uma tensa discussão. Devido a esse entrevero, o marechal ficou conhecido popularmente como “o presidente urucubaca”.

Após a campanha eleitoral muito acirrada entre civilistas e militares. Hermes, enfim, derrotou seu opositor, Rui Barbosa e governou o Brasil de 1912 à 1916. Segundo a autora do texto, “o presidente mal despiu a farda foi acusado de vencer graças às fraudes eleitorais.” Se hoje, com urnas eleitorais eletrônicas digitais, ainda há quem advogue que as eleições podem ser fraudadas, avaliem como eram apuradas e contabilizadas as cédulas de votação depositadas em pequenos sacos de lona, antes do ano 2000?

Logo no começo de seu artigo, a historiadora cita alguns dados peculiares desse personagem:

Baixo, gordo e calvo. Hermes da Fonseca era dono de traços físicos pouco atraentes. Pesava ainda sobre o presidente a fama de ser indeciso, ignorante e pé-frio. Durante todo o seu governo, a opinião pública o azucrinou. Pela sua presumida ignorância foi apelidado de ‘Dudu’. Na imprensa, as caricaturas e paródias faziam mais sucesso do que suas ações administrativas, o que fez dele a maior vítima presidencial de chacotas.[...]Pouco afeito aos estudos, foi expulso após brigar com três colegas e rasgar a batina de um padre”.

O Rio de Janeiro, como ainda hoje acontece, era sempre o epicentro dos pandemônios políticos das mais variadas magnitudes. No que diz respeito ao popularmente cognominado,“Dudu”, diz a escritora e mestre de nosso enredo político-social:

a antiga capital da república ficou oito meses em estado de sítio, o que minou sua tênue base política e foi um prato cheio para as críticas civilistas. Eram os primeiros indícios de que a gestão do marechal seria turbulenta e azarada”. Mesmo com seu filho Mário Hermes com quem andava colado e, muitas vezes, mais atrapalhava do que o ajudava, construiu várias vilas operárias, como a de Sapopemba, hoje bairro de marechal Hermes. Em sua vida palaciana gostava de magnas festas e saraus. Os rega-bofes eram tantos, que o velho Rui Barbosa, apelidou o Catete de “Versailles do século XVII”, aludindo a famosa corte francesa. Sobre as farras palacianas, assim escreveu, Nívea Pombo:

Nenhum evento causou tanto ‘frisson’ quanto o sarau ‘Corta-Jaca’. Considerada chula e pornográfica, a composição era um dengoso maxixe de Chiquinha Gonzaga. Tudo foi motivo para mais caricaturas e canções irreverentes:

O Dudu sai a cavalo
O cavalo logo empaca
E só recomeça a andar
Ao ouvir o Corta-Jaca”.


Depois de um governo com muitos empréstimos internacionais a pagar e quase nenhuma de suas promessas messiânicas realizadas, com exportações despencando e crise severa na produção de borracha na Amazônia, o marechal Hermes da Fonseca entrega ao seu sucessor, Wenceslau Braz, um país extremamente endividado.

Sobre o triste fim do presidente Urucubaca, conclui a mestre em História Social, Nívia Pombo:

Com o fim do mandato recolheu-se em Petrópolis e passou a fazer móveis e casinhas para passarinhos. Dois anos depois, foi preso pelo envolvimento numa conspiração militar contra o presidente Epitácio Pessoa. Em liberdade e doente, voltou a Petrópolis onde faleceu de um ataque cardíaco em 09 de setembro de 1923. Seu último desejo foi ser enterrado em trajes civis, dispensando as honras militares”.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 21 de maio de 2020

Fonte Consultada:
Revista Nossa História Ano 3 / nº 32 – junho de 2006

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