Nas minhas viagens para Camboinha III, sempre tenho algo a resolver na Capital do Estado. Numa de minhas andanças por aquelas bandas, já à tardinha, quando estava de saída, resolvi atender a um convite do filho mais velho, e a um desejo de uma neta, que apontava com o braço estirado para o lado do mar que ficava há uns trezentos metros do nosso apartamento.
Eu, e meu outro filho do meio (Glauber) ficamos em cima de um montículo de areia fofa que entrava por entre as frestas de nossas sandálias. Acariciavam as partes descobertas dos nossos pés, ramos de gramíneas marítimas, que se estendiam por toda costa. Emoldurando este quadro, tínhamos atrás de nós um sol com fracos raios a nos fustigar de mansinho, projetando nossas sombras gigantes e estreitas sobre o lençol de areia bordado por restos coloridos de latas de cervejas amassadas e pedaços de copos descartáveis, misturados a restos mortais de algas ressecadas abandonadas pelas ondas da maré cheia que passara há poucas horas por aquele recanto de tão gratas recordações.
O meu filho mais velho com minha primeira neta dirige-se solenemente para a praia, já com as ondas fracas da maré vazante. Segurando a filha com o máximo cuidado lá vai George, driblando as sujeiras, fugindo por certo dos ouriços pontiagudos, tão comuns nesta praia. Em seguida molha os pés de Gabrielle, que começa a pular instantaneamente numa alegria incontida. Em poucos minutos ela se joga, caindo sentada com água à altura do tórax, numa atitude de quem é veterana no banho de mar. É quando Glauber ao meu lado quebra o silêncio: “Ela é destemida mesmo. O menino de Rocha tem tanto medo que não chega nem perto da água”.
Um vento cálido de fim de verão jogava finos grãos de areia sobre nossos corpos. No silêncio de uma praia totalmente deserta me vem à imaginação: Ali estava a nossa continuidade, a nossa herança, a não deixar a tristeza tomar conta daquele fim de tarde. O avô, o pai, e um tio presenciando uma criança esbanjando energia e felicidade fincando o seu marco naquele local, palco de tão saudosas pescarias de rede de arrasto e peladas que duravam até o escurecer, quando enfim exaustos e felizes voltávamos para o nosso apartamento. Um avô já cansado pelo peso da idade, como que passava naquele momento idílico, o bastão na corrida do tempo a um ser de um ano de idade, que reinaria com outras formas de alegria que por certo adviriam em um tempo que já não seria mais o nosso.
Nostálgicos mas revigorados, voltávamos Glauber e eu para Guarabira. Podíamos ler no nosso próprio olhar, o quanto foi providencial o nosso atraso de meia hora. Evocamos ali tantos momentos vividos, “tantas emoções”, como canta Roberto Carlos. George reclamou da insensibilidade nossa em não registrar aquele momento pela câmera do nosso celular. “Fica para outra oportunidade”, pensava eu, quando Gabrielle adentrar na saudosa palhoça de frutos do mar, que suados e sujos de areia outrora freqüentávamos. Na certa, a carne saborosa daquelas patas enormes dos caranguejos terão um outro dono.
Crônica por: Levi B. Santos
Camboinha III, 27-03-2006
2 comentários:
Gostei do blog.
Pude perceber, na grandiosidade do que foi escrito que tudo que Deus faz é maravilhoso. Na simplicidade de uma criança, na simplicidade de um momento, na simplicidade dos que contemplam, na simplicidade do lugar;em tudo isso posso ver o amor, o cuidado, a provisão de um Deus pessoal. Dando-nos a oportunidade de sermos felizes em família, e de vermos, bem diante dos nossos olhos a nossa posteridade.
Valeu tio!!!
CRISTIANE
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