11 fevereiro 2009

DE VOLTA AO PARAÍSO UTERINO



Tudo que enfrentamos em nosso cotidiano, sob a forma de sentimentos de dor, desamparo, alegrias, angustia e nostalgia, não passa de uma ação repetitiva daquilo que experimentamos pela primeira vez, de uma forma inconsciente nos nossos primeiros momentos de vida. O Sábio Salomão deixou escrito em seu Livro de Sabedoria: “nada há de novo debaixo do sol”. Em analogia podemos dizer: nada há de novo na existência humana.


O choro deve ter sido a primeira expressão, a primeira linguagem, nos primeiros minutos de nossa vida. Este seria o primeiro e impressionante retrato do nosso ser: músculos da face e da boca contraindo-se e se relaxando ante um forte sopro vindo dos pulmões a extrair das cordas vocais um estranho e fundo gemido. A nossa velha expressão de dor e desamparo nascera ali no mesmo leito daquela que nos abrigara por longos nove meses. Desamparo, pela expulsão violenta e bisonha, do “paraíso uterino”, onde tão felizes e bem acomodados estávamos.


Ficou registrada desta forma, a primeira memória no disco virgem do nosso cérebro. A saudade daquele paraíso, a dor, o choro, continuam a nos marcar pela vida afora. Ativamos esta memória, renovando a sensação daqueles sintomas, toda vez que nos sentimos rejeitados, incompreendidos, enfim, quando sofremos a perda daquilo que nos causava tanto prazer. A vida é assim mesmo. Vivemos a repetir aquele primeiro ato, toda vez que somos jogados de uma maneira brusca e selvagem, em um mundo frio, cruel e desumano.


A outra conseqüência da perda do “ninho” em que estávamos aconchegados, nos vem sob a forma de “solidão”, que é uma repetição do primeiro desamparo sentido pelo bebê, ao ser cortado o laço que o unia a mãe. Esta sorrateira solidão aparece depois da dor, da angustia e do choro. O consolo, não muito tarde virá, sob a forma de uma instrumentalizada esperança, a lutar contra a angústia e a nostalgia daquilo que se perdeu.


A cada dia, o homem em seu desenvolvimento, imagina retirar do mundo algo de novo que o maravilhe e forneça a energia necessária para continuar vivendo, sem, no entanto, pensar que a VIDA É UM ETERNO RETORNO. A fé passa a ser o único veículo que o levará de volta àquele simbólico jardim de delícias chamado EDEN, lugar onde nunca deveria ter sido expulso.


Ter fé é sonhar acordado e ver o invisível com os olhos do coração.


O homem agora ri, pois no além desejado não haverá choro. No entanto, este riso é a repetição do seu primeiro prazer, quando realizou a primeira mamada, bem junto ao coração daquela que por longos nove meses lhe deu guarida ─ onde, depois de refeito ─, fechou os olhos, dormiu, e fez a sua primeira e fantástica viagem através do mundo sobrenatural dos SONHOS.



Ensaio por: Levi B. Santos.
Guarabira, 11 de fevereiro de 2009

Um comentário:

Antônio Ayres disse...

Meu prezado irmão em Cristo:

Tive uma grata surpresa ao encontrar o seu comentário em meu blog.

Essa surpresa foi ainda aumentada,ao visitar o seu espaço e encontrar aqui, reunidos os seguintes elementos:

.Um médico ginecologista cristão.

.Textos de excelente qualidade (tanto em profundidade reflexiva, como em correção gramatical).

.Um homem que exerce a sua cidadania, opinando em veículos de informação de circulação nacional.

Ainda não li o post recomendado pelo irmão (o que farei, com prazer), mas não pude deixar de ler este sobre a vida intra-uterina, que me deixou muito feliz.

É raro encontrar um médico que não seja psiquiatra (e, mesmo entre estes, há muita resistência) interessar-se por assuntos pertinentes à psicanálise.

Este post, como o irmão sabe, tem um caráter profundamente psicanalítico.

Parabéns, meu irmão, por tudo o que tem feito, pois, de fato, o nosso trabalho não é vão, no Senhor.

Forte Abraço!