A cidade de Alexandria teve a honra de haver produzido o primeiro instituto cristão de ensino superior. Foi de lá que surgiu a primeira escola bíblica de que se tem notícia. No século II ─ os cristãos veementes partidários da fé ─, eram defensores ardorosos da Bíblia como livro de revelação, e por hipótese nenhuma admitiam que o Livro Sagrado fosse alvo de estudo ou de análise, até porque analisar é examinar à luz da razão. Este deve ter sido um dos motivos que levaram à lamentável destruição de um acervo de quase 700.000 livros da maior biblioteca de todos os tempos.
Tito Flávio Clemente, filho de pais gentios, nascido em Atenas em 150 DC, converteu-se ao cristianismo e associou-se a Panteno na qualidade de professor assistente. Sofreu grande perseguição por sua postura, ao preconizar que à filosofia antiga cabia o papel de pedagogicamente, ajudar a encaminhar os gentios para Cristo. Para o crente daquela época só existia uma doutrina necessária e útil: a sua fé. Clemente viu-se constrangido a combater esta atitude, mostrando sempre que a filosofia é a serva da sabedoria. Ele dizia: "os gregos foram educados para Cristo por intermédio da filosofia, como os Judeus foram por intermédio da Lei." Todos pensadores cristãos a começar por Clemente, descobriram elementos cristãos na filosofia grega. Sabe-se, para citar dois exemplos, que Santo Agostinho cristianizou Platão e Tomás de Aquino cristianizou Aristóteles.
O prólogo do evangelho de João traz para a história do pensamento cristão, o conceito do “LOGOS”. O primeiro a usar esse termo foi o filósofo Heráclito de Éfeso, cidade onde o evangelista João, escreveu a sua epístola. Filo, filósofo judeu, também via no “logos” a ideia divina do mundo e o meio pelo qual Deus opera nele. No primeiro versículo do capitulo primeiro de João, estabeleceu-se o ponto de contato muito natural entre a doutrina platônica das idéias e a Teodicéia Cristã: “No princípio era o logos(verbo), e o logos(verbo) estava com Deus, e o logos(verbo) era Deus”.
São João nos apresenta o Logos como a luz “que ilumina todo o homem”. Clemente via na Luz a “fonte do conhecimento”. Clemente trabalhou muito para que houvesse a possibilidade de colaboração entre a fé e a razão. Ele entendia que a filosofia cristã jamais ia de encontro às verdades da fé, claramente formuladas pela igreja. A noção de que a filosofia era um obstáculo à fé, provinha mais do medo do fiel ser considerado um apóstata ao fazer da escritura sagrada objeto de estudo, ou análise humana. A sombra temerária desse pensamento, nem que seja de uma forma sutil, ainda hoje exerce influência entre nós.
Atualmente, não se está lançando livros à fogueira como aconteceu em Alexandria, mas sem que se perceba, a marginalização contra aqueles que procuram se aprofundar no estudo da escritura sagrada, continua de forma dissimulada.
Entre o apóstolo Paulo e Tiago, vislumbramos um embate emblemático entre a fé e a razão. Paulo pregava que somos justificados pela fé e não pelas obras. Tiago em seus escritos fez uma aparente oposição, quando disse: “vedes então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé...". Nenhum dos dois estava errado. O que acontece, é que em nossa dialética, às vezes, somos mal entendidos, pois o que vemos e sentimos, quando passamos para a linguagem, nem sempre é compreendido pelo interlocutor, como esperávamos que fosse.
Não podemos desprezar a filosofia. Foi ela que fez do livro dos provérbios de Salomão, um corolário de pensamentos altamente edificantes para o nosso caminhar. Muito embora, o sábio Salomão nos instantes finais de sua vida, tenha se entregado à idolatria, sabemos que esse fato não invalida de maneira nenhuma o que ele deixou escrito. Ora, se tomarmos a própria palavra "filosofia"(= amigo da sabedoria), e a sua significação, iremos constatar que Davi, Salomão, Jeremias, o próprio Jesus, Paulo, entre tantos outros, extrairam das circunstâncias da vida memoráveis lições, que ainda hoje, repercutem como pilares básicos e indevassáveis do saber.
Não resta dúvida de que a fé nos faz alçar vôos altíssimos, porém é a razão que nos puxa para baixo, a fim de que possamos manter os nossos pés no chão. “Vigiai e orai[...]” ─ diz a Palavra ─ uma não pode prescindir da outra. Através da oração exercitamos a fé, ao passo que é no vigiar que colocamos a razão em ação.
Faço votos a Deus, para que este campo que Ele tem nos oferecido aqui na internet, continue como canal de diálogo sadio e frutífero, a fim de que possamos cada vez mais, como diz a Bíblia, nos trasformar pela renovação do entendimento. Nesta grande Escola da Vida, não importa a cor, ou tonalidade (denominação religiosa) que escolhemos como vestimenta de nossa fé. O que importa é que caminhemos juntos, como fazem as cores do arco-íris: todas unidas, mas cada uma conservando a sua individualidade própria.
Saudações fraternas aos irmãos e amigos da UBE
Fonte bibliográfica: História da Filosofia Cristã de Etienne Gilson e Philotheus Boehner
Guarabira, 24 de fevereiro de 2008
Levi B. Santos - http://www.levibronze.blogspot.com
4 comentários:
Paz do Senhor!
Muito interessante esta postagem sobre a origem da Escola Bíblica!
Parabéns pelo blog!
Além do meu blog pessoal, também sou a editora do blog da Escola Bíblica Dominical de minha igreja: www.ebditaquerao.blogspot.com
Se puder e quiser, deixe comentário em ambos!
Deus abençoe!
Levi, paz contigo!
Ainda hoje existem irmãos que não estudam a Palavra pois dizem que "a letra mata". É um ciclo vicioso, a Bíblia nos manda "examinai as escrituras..." mas se alguém não as lê, como terá conhecimento desta ordem?
Esta é a causa principal da falência espiritual que muitos têm vivido: O não conhecimento da Palavra de Deus.
Muito interessantes as informações aqui expostas.
Forte abraço,
Luis Paulo Silva
Prezada Vanessa Dutra
Agradeço a sua passagem aqui pelo meu blog,e a sua apreciação do artigo que escrevi sobre a primeira escola dominical da era cristã.
Há outros textos bíblicos-reflexivos em postagens anteriores. Confira.
Cordialmente,
Levi B. Santos
Caríssimo Luis Paulo
Você tem toda razão.
O completo desinteresse pelo estudo das Sagradas Escrituras, aliado às práticas vergonhosas, que privilegiam os êxtases e emoções efêmeras, sob o rótulo falso de "avivamento espiritual", tem sido responsável pela situação atual do que já acostumamos chamar de "EVANGELIQUÊS".
Um fraternal abraço,
Levi B. Santos
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