15 fevereiro 2012

Das Procissões do Brasil Colônia ao Carnaval





O famoso pesquisador, historiador e crítico musical, José Ramos Tinhorão, no seu livro, As Festas no Brasil Colonial”, mostra como o cortejo sacro (as procissões católicas) no tempo do Brasil Colônia se misturou ao “profano” e influenciou enormemente o que hoje temos como, Festas Carnavalescas, ou tríduo momesco. Tinhorão descreve com riqueza de detalhes e farto material histórico como se processou a mesclagem dos valores sagrados ibero-europeus com os valores indígenas e africanos na Bahia, por volta do século XVI.

Segundo o historiador, em 1580, os alunos do colégio dos Jesuítas na Bahia, encontravam nas procissões uma oportunidade de extravasamento dos seus desejos carnais. Na data comemorativa do “Corpus Christus”, havia um bloco denominado, “O Mistério das Onze Mil Virgens”, uma procissão de oportunismo lúdico, que angariou a simpatia da maioria da população.
As festas carnavalescas de ruas e as diversões em ambientes fechados, como os bailes públicos, tiveram aí a sua origem.

Sobre o caráter de diversão da procissão dos alunos do colégio dos Jesuítas, o francês Le Gentil de La Barbinais quando passava por São Gonçalo, a convite do vice-rei Vasco Fernandes Cesar de Menezes, narra como se desenrolavam os desfiles lúdicos nos arredores de São Salvador:

“Partimos em companhia do Vice-Rei e de toda a Corte. Próximo a igreja de São Gonçalo nos deparamos com uma impressionante multidão que dançava e pulava ao som de violas e atabaques, que faziam tremer toda a nave da igreja. Tivemos, nós mesmos que entrar na dança, por bem ou por mal, e não deixou de ser interessante ver numa igreja padres, mulheres, frades, cavalheiros e escravos a dançar, misturados a gritos de ‘Viva São Gonçalo do Amarante!’.
Nas procissões do Espírito Santo, o padre Frei Antônio religioso do Carmo tocava viola publicamente com o Cônego de Angola – o padre Manoel de Bastos, e entre eles no mesmo carro alegórico, uma Vicência crioula forra de Ouro Preto, vestida de homem cantava o ‘Arromba’ e outras modas da terra. O bispo D. Antonio do Desterro era um folião inveterado e saia para farra na procissão usando como peruca a cabeleira da imagem de Cristo, isto em fins de 1759. Os lundus e os fados criados no século XVIII, mais tarde, se transformariam nas  precursoras da música popular moderna”.
“Os grupos de manifestantes barulhentos que desfilavam na semana da Quaresma tinham nomes muito parecidos com os blocos carnavalescos atuais: cornetadas, troças, chocalhadas, latadas e caçoadas”.

Tem mais: Os estandartes atuais dos blocos carnavalescos e escolas de samba continuam como cópias fiéis dos que eram içados pelos fiéis nas fogosas procissões do Brasil Colonial.

P.S.:
Perdoe-me o grande pesquisador José Gomes Tinhorão, mas eu vou ficar com o Almirante que, numa música carnavalesca escancarou toda a verdade: Tudo começou no dia 21 de Abril de 1500 com a descoberta, por acaso, do Brasil, exatamente dois meses após o carnaval, como mostra o vídeo abaixo:




Por Levi B. Santos
   Guarabira, 15 de fevereiro de 2012


Fonte de Referência: José Gomes Tinhorão“As Festas no Brasil Colonial” ― Editora 34

5 comentários:

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Este pesquisador foi longe, a ponto de identificar as raízes do nosso Carnaval já no século XVI, décadas após a oficialização do descobrimento de Cabral. E acho interessante ver que, por aqui, tudo teria surgido dentro do ambiente religioso católico.

Tenho pra mim este extravasamento dos desejos "carnais" nesta época do ano deve-se ao fato de que sexo continua sendo tabu na nossa sociedade de cultura cristã adoecida. O sexo é antes de mais nada um instinto e faz parte da natureza de nós todos. Só que a maneira repressora e também pornográfica como a sociedade lida com a sexualidade acaba deteriorando-a. Em outras culturas tudo ocorre muito natural. Tanto é que os índios não precisam de um Carnaval para se sentirem sexualmente "liberados"...

Abraços.

Eduardo Medeiros disse...

Adorei o nome do bloco:

“O Mistério das Onze Mil Virgens”

kkkkkkkkkk

Muito interessante o texto, Levi; e o vídeo melhor ainda!

Bom carnaval! rsss

Levi B. Santos disse...

Rodrigo


Você tocou no âmago da questão.

Nas procissões dos cristãos primitivos na Terra de Santa Cruz, que deram origem ao nosso carnaval, os índios e as índias que desfilavam dançando semi-nús, ou de tangas, creio, que não o faziam por apelação, como o exibicionismo erótico em que se transformou o desfile carnavalesco do sambódromo no Rio de Janeiro, transmitido pela mídia televisiva para todo o mundo.

O próprio vídeo que postei, deixa ver nas entrelinhas, que foi o Seu Cabral (português) que inventou o Brasil com esse carnaval que está aí. Tudo começou com a malícia que residia nos olhos dos nossos exploradores. (rsrs).

Levi B. Santos disse...

Edu

Bom carnaval, ou retiro espiritual, para você também meu caro confrade.

E por falar em retiro “espiritual”, acredito que esse tipo de congraçamento seja um bom lugar para se fazer a síntese entre o que se considera “sagrado” e o que se tem como “profano”, com moderação e bom senso. (rsrs)

Que tal, terminar um retiro espiritual de forma acolhedora e relaxante, com uma efusiva festa ao som de frevos e sambas?

Reflexões Franklin Rosa disse...

AHHH Nobre Mago!!! FREVO E SAMBA tocou no meu ponto fraco!!! TÔ NESSA TAMBÉM!!! rsrsrsr