Quando em junho de 1967 todos os
judeus se emocionavam com a reconquista da velha Jerusalém, naquele histórico conflito a que se deu o nome “Guerra dos Seis Dias”, um rabino de
nome Zalman
Schachter, resolveu enviar uma carta a Ben Gurion. Ele fazia um
alerta ao primeiro ministro de Israel,
afirmando que aquele momento se revestia de uma grandeza histórica. Mas o
interessante é que seu pensamento não estava em consonância com os gritos dos
vitoriosos, os quais, como eufóricos vencedores do conflito, diziam: Jerusalém agora é nossa!.
O rabino, na contramão dos
acontecimentos, fazia ali um pedido chocante: “exortava a Ben Gurion que declarasse
imediatamente Jerusalém como um
monumento internacional e que permitisse à cidade, justamente em sua
reconquista pelos judeus, a realização de seu projeto histórico ― não o triunfo, mas a paz”.
Na carta, o rabino faz ver que “na
própria história dos judeus o triunfo
dos assírios, gregos, romanos, bizantinos, cruzados e otomanos era um metáfora
de que o vencedor de hoje é o derrotado de amanhã. Quem vence produz um vencido.
O triunfo representa a mais efêmera
das seguranças e se coloca na cadeia sucessiva e interminável da violência”.
Nilton Bonder, atual presidente da Congregação
Israelita do Brasil, em seu livro, “Judaísmo
Para o Século XXI”, aproveita os argumentos interessantes do rabino, para
uma reflexão sobre o outro lado do grande “triunfo”
israelita sobre os seus países vizinhos, naquela memorável guerra. Ele incita os judeus a uma auto-análise não só
política como teológica.
Para Nilton Bonder, esse
desejo de triunfo teológico foi o
epicentro das guerras entre judeus, cristãos e muçulmanos. “Uma derrota dessa expectativa de triunfo de todos, seria a única
esperança da paz”— conclui o líder
Israelita.
Na visão de Bernardo Sorj, professor
de História da Universidade de Haifa, Israel, PhD e em sociologia pela
Universidade de Manchester (Inglaterra), o Estado de Israel “normatizado” de hoje paga um preço muito alto por renegar,
esquecer as muitas correntes dos judeus da diáspora que não aceitaram se voltar
para um passado extremista de defender a exclusividade JUDAICA sobre Jerusalém.
O sionismo ao considerar “anormal” a
heterogeneidade das correntes da diáspora,
triunfou politicamente, mas foi derrotado pelo maniqueísmo retrógrado da
percepção de um eterno conflito entre esquerda e direita, ou entre as
categorias de judeus “ortodoxos” e judeus “hereges”.
O utilitarista religioso ocidental é
aquele que continua eternamente na frente do espelho a perguntar: “Há
alguém de quem você goste mais, meu Deus?”. E de acordo com o
que o fiel deseja em seu inconsciente, a imago
paterna lhe responde: “NÃO”. Na psique do fiel intolerante,
revela-se, por conseguinte, um Deus intolerante que ordena a destruição ou o
não reconhecimento do outro.
Spinoza, em seu “Tratado Teológico Político” – Editora Martins Fontes (página 45),
sobre esse Deus que se revela
segundo a própria imaginação humana, diz o seguinte: “Conta-se que Moisés pediu a Deus
que o deixasse vê-Lo; mas como Moisés não tinha nenhuma imagem de Deus formada
no cérebro, e dado que Deus, não se revela aos profetas senão em conformidade
com a sua imaginação, não lhe apareceu sob nenhuma imagem”.
“Jerusalém
se transformou em símbolo do triunfo,
e se há algo que a paz não é... é
ser fruto do triunfo”.
O sonho que orientou um sionismo triunfante, é que tem balizado
e incentivado em nossas terras o grande mercado
de almas. Não é à-toa que o Marketing
da Salvação é um dos mais
poderosos aqui entre nós. Seu lema é sempre vitória, e nunca derrota, nem nunca convivência pacífica entre os
de identidades diferentes.
Hoje, mais do que nunca, se faz
necessário refletir sobre o que move o marketing
da salvação: se ele passa, necessariamente, pelo “triunfo” imaginário da fé de um grupo e na praga da conversão do
outro, todos estarão perdidos.
Por Levi B. Santos
5 comentários:
1° Nobre Mago Levi, embora fora do foco central do texto, não seria a sarça ardente uma "IMAGEM DIVINA" construída por Moisés?
2° A espinha dorsal do marketing religioso, é o produto de exclusividade que ela oferece. Acabe com essa oferta, e quase todos os malefícios resultantes desse exclusivismo serão sobrepujados pelo diálogo que promove a evolução da vida.
Franklin,
Sobre a simbologia do FOGO (sarça ardente):
A “sarça ardente” era uma espécie de acácia, que tinha o poder de cegar, e suas sementes quando ingeridas levavam a morte. No imaginário dos antigos era uma planta a ser temida, que traduzido do mito mosaico, correspondia a um “deus que deve ser temido”.
Quanto às chamas, devem simbolizar o SOL, numa relação estreita com o monoteísmo egípcio de Akhenaton que estabeleceu o deus Aton (SOL) como a única divindade a ser cultuada.
Provavelmente, Moisés em sua estada no Egito tomou consciência dessa religião, de cujas imagens ficaram gravadas em seu inconsciente.
Moisés por sentir a natureza de Deus, mas não a sua forma, estabeleceu que o seu povo, consequentemente, não deveria fazer imagem Dele.
Quanto ao marketing da salvação”, ele não sobrevive sem o combustível do poder, da vitória, do milagre, da glória e da soberba.
Ops, ía esquecendo do principal: “A GRANA e os PARAÍSOS fiscais” (rsrs)
Franklin
Este assunto deve render mais, lá na "Confraria Teológica Logos e Mithos".
Como é a minha vez de postar, peço licença ao Capitão Edu, para transferir o texto em discussão aqui para a sua nobre sala herética, que é muito mais espaçosa. (rsrs)
Nobre Mago Levi, com sua devida permissão (e sem permissão mesmo rsrsrs) e, fazendo menção dos créditos devidos, irei AFANAR alguns textos teus para postar no conexão em seu devido tempo.
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