21 março 2013

Duas Metáforas: Uma Endiabrada e Outra “Divina”





Estamos a um ano e dez meses da eleição presidencial, mas a disputa para presidência da República em 2014 já deu o ar de sua graça, aqui bem pertinho de minha cidade.

Dilma, ao entregar um conjunto residencial do Programa “Minha Casa Minha Vida” no início desse mês em João Pessoa ― Capital do Estado da Paraíba, usou uma expressão ou reforço de linguagem ― “Fazer o Diabo”, que Freud, vivo fosse, talvez a considerasse como um “ato falho”.

Como se sabe através da psicanálise, os “atos falhos” acontecem sempre quando o analisando em suas associações livres, perante o analista, deixa escapar algo escondido dos porões secretos de sua mente. Esses atos falhos ou lapsos evidenciam a força de desejos que estão reprimidos no inconsciente. Podem acontecer, por exemplo, na hora de um discurso ou de uma conversa informal. Sob o impacto da emoção ou do calor do momento, o guardião dos segredos da mente (a censura) relaxa, deixando passar para consciência os recalques do indivíduo. O sistema de defesa psíquico funciona como um vigia que impede que impulsos inaceitáveis da pessoa venham à tona. O estadista que faz uso do improviso, geralmente cai nas armadilhas do inconsciente ― são os ossos do ofício (rsrs).

Por trás das metáforas ditas se escondem um desejo reprimido – dizia Freud. Não sei, mas talvez a metáfora “Fazer o Diabo” no trecho abaixo, pinçado da fala inflamada da presidenta tenha a ver com o tal “ato falho” cansativamente estudado pelo pai da psicanálise. Se não vejamos:

“Nos podemos disputar eleição, nós podemos brigar na eleição, nós podemos fazer o Diabo quando é a hora de eleição. Agora, quando a gente está no exercício do mandato, nós temos que nos respeitar, porque fomos eleitos pelo voto direto do povo”. (Dilma)

O irônico Reinaldo de Azevedo em um artigo em seu blog, como era de se esperar, não deixou passar em brancas nuvens a metáfora endiabrada de Dilma, dita em bom som na Paraíba, e sapecou questionamentos sobre o que seria, em sua concepção, o “fazer o Diabo”, no contexto do discurso da presidenta, das quais republico algumas:

Seria preparar dossiês recheados de falsidades contra adversários?

• Seria mobilizar arapongas para espionar a vida alheia?

• Seria mentir descaradamente sobre a biografia dos adversários e sobre a sua própria?

Duas semanas e meia, após esse episódio, eis que Dilma se encontra em Roma para, num ambiente de solene espiritualidade ― assistir a posse do Papa Argentino, Francisco I.

Após a cerimônia de posse de sumo pontífice do Catolicismo, Dilma, ao ser provocada por um jornalista argentino na saída do Vaticano, saiu-se com essa pérola de resposta:

“Eu acho que vocês têm muita sorte. É um grande Papa. A Argentina está de parabéns. Agora a gente sempre diz: ‘o papa é argentino, mas Deus é brasileiro.’” (Folha de S. Paulo de 20/03)

Enquanto Dilma dizia em Roma que “Deus é brasileiro” aqui no Brasil do deus da mentira, contavam-se mais de vinte mortos soterrados por deslizamentos nos morros devido à inércia dos que fizeram o diabo com as vultosas verbas federais e não moveram uma palha sequer em obras de infra-estrutura após os soterramentos de ruas inteiras em 2011 na região serrana do Rio de Janeiro. Surrupiaram o dinheiro ao invés de encetar as obras prometidas na localidade e, quanto às moradias dignas previstas no papel, ficaram a ver navios, os que sobreviveram à tragédia de 2011, nessa região.

De lá de Roma, junto ao papa, que como São Francisco, optou pelos pobres, Dilma “fez o diabo” com a metáfora “Deus é brasileiro”: passou uma reprimenda nos habitantes dos morros culpando-os pela tragédia dos desabamentos. De forma grotesca transferiu para o povo pobre das encostas fluminenses a irresponsabilidade do governo federal que na região serrana nada fez desde a hecatombe de dois anos atrás, que deixou nada menos que 725 mortos. 

Mas vamos à fala de Dilma, direto de Roma, dando o recado do seu deus brasileiro (ou desculpa esfarrapada):

“Nós temos um sistema de prevenção, o problema é que muitas vezes as pessoas não querem sair. É uma situação muito difícil, porque choveu quase o tanto que chove um ano em certas regiões do país.” (Jornal Estado de São Paulo)

Infelizmente aqui, Freud, vivo fosse, não diria que Dilma cometeu um ato falho ou lapso; diria que ela exerceu um mecanismo de defesa, chamado de transferência ― que no ditado popular significa ― “tirar o corpo fora” (*).

(*) A Revista “Aventuras na História”, edição de março de 2011, traz o significado exato desse ditado:  “dizemos que a pessoa está tirando o corpo fora quando esse alguém finge que não sabe de nada  ou vacila em assumir a responsabilidade por algum ato”.


Por Levi B. Santos
Guarabira, 20 de março de 2013

Site da Imagem: esmaelmorais.com

5 comentários:

Altamirando Macedo disse...

Levi,

O idiota se orgulha de ter um imbecil como líder. Viver como ovelhas esperando o colápso anunciado.

Levi B. Santos disse...

Miranda

O "Sermão do "Deus é brasileiro" começa assim:

Bem aventurados os que superfaturam e dão circo e pão as ovelhinhas, pois serão recompensados com galadrões (ops - galardões) nos paraísos

Que paraísos Miranda??? (rsrs)

Eduardo Medeiros disse...

É, Levi, de atos falhos em atos falhos, nossos governantes vão levando as tragédias anunciadas com a barriga. Mas me parece que "fazer o diabo" nem ato falho foi, na verdade, foi uma confissão do que já sabíamos.

Levi B. Santos disse...

Paradoxo em Roma:

Na posse do Papa que fez opção pelos pobres da igreja, informações do Itamaraty dão conta de que o governo brasileiro desembolsou 324 mil reais com hospedagem e salas de apoio para uma grande comitiva presidencial, A coluna de Ruy Castro da Folha de S. Paulo de ontem, sob o título “REGA-BOFES”, diz que a trupe de Dilma “ocupou 52 quartos de hotéis na cidade, dos quais 30 no Grande Hotel Excelsior cujas diárias vão de R$970 à R$7.700. Para se deslocar entre ‘A Doce Vita’ (filme que a igreja católica tentou incinerar), de 1960 ― a comitiva brasileira contratou 17 veículos, incluindo carros blindados”.

Não estão incluídos nessa conta os vinhos e as lautas refeições dos parceiros da rainha. (rsrs)
Deus é brasileiro mesmo, caríssima Dilma...

Eduardo Medeiros disse...

O PT também fez opção pelos pobres. E se deu muito bem com isso...