Quão
insuportável é a vida sem os palpites, sem as críticas, sem as afirmações ou avaliações que cotidianamente emitimos sobre tudo e sobre todos. Parece, que a todo
instante, somos imperceptivelmente ceifados para alimentar as catracas de uma
mega-máquina, denominada
“opinião pública”.
Iludo-me,
ao pensar que as soluções e idéias que elaboro são genuinamente minhas. Se os
conceitos, palavras e experiências que formam a minha atual biblioteca mental têm
suas raízes fincadas lá atrás, lá no tempo de meus antepassados, então como dizer
que a opinião que estou a emitir é minha, somente minha? Refletindo bem, no meu
desenvolvimento, eu apenas metamorfoseio o que em essência já existe ou sempre
existiu.
O
sábio roqueiro, Raul Seixas, tinha razão ao se classificar como uma “Metamorfose
Ambulante” ― tema de uma de suas antológicas canções: “Eu
vou lhe desdizer / Aquilo tudo que eu lhe disse antes / Eu prefiro ser / Essa
metamorfose ambulante / Do que ter aquela velha opinião / Formada sobre tudo”.
Esta
semana, debrucei-me sobre um grosso volume de 860 páginas ― Textos
Caribenhos ― uma coletânea de crônicas, contos e ensaios, escritos por Gabriel
García Márquez, entre 1948 e 1952. Entre os diversos fragmentos que
li, um, despertou-me maior atenção. Achei bem instigante a parte inicial desse texto, por versar, exatamente, sobre essa velha senhora, denominada opinião pública. O autor colombiano de “Cem Anos de Solidão” ― obra memorável
que lhe deu o prêmio Nobel de Literatura em 1982 ―, assim, começou o seu ensaio:
“A opinião pública ― de acordo com a
opinião geral ― é uma senhora que passa a vida dizendo algo, pensando algo a
respeito de algo ― e na maioria dos casos muito acerca de nada e nada acerca de
muito ― e cujo divertimento habitual consiste em decifrar os inumeráveis e
ociosos quebra-cabeças que a imprensa lhe oferece todos os dias. Quando a
opinião pública sai para fazer compras, geralmente não compra nada, mas os
jornalistas a seguem para saber seus conceitos a respeito do preço dos víveres,
e a seguem os estadistas para saber qual a sua maneira de pensar a respeito da
preferência eleitoral das maiorias; e a seguem os estatísticos para conhecer
seu ponto de vista acerca do coeficiente de mortalidade; o senhor Gallup a segue com seu permanente interesse profissional, para saber em que
grau está funcionando seu aparelho digestivo. Certo dia a opinião pública foi
ao consultório de um psiquiatra, teve necessidade de aguardar várias vezes,
fez-se tarde e explodiu a guerra mundial. Quando os jornalistas a assediaram,
ela respondeu com a maior naturalidade: ‘se
a humanidade foi à guerra é por que enlouqueceu’.
Apesar da longa espera na sala do psiquiatra, naquela tarde a opinião pública
estava de bom humor”.
Não
é preciso dizer que a velha senhora denominada opinião pública, é quem, de há muito, vem mostrando o “caminho” que
a maioria deve seguir para se sentir “confortada”; essa senhora, de forma
avessa, vem substituindo o Senhor do Salmo 23 das Escrituras Sagradas. A deusa “opinião pública” está a dizer aos
quatro cantos da terra: “Eu sou a tua
senhora e nada te faltará”.
Por Levi B. Santos
2 comentários:
Concordo a velha opinião publica sempre tem seus fãs e adeptos mesmo sendo um velha esclerosada rsrs
É isso aí, caro Felipe Lopes
Essa velha senhora esclerosada porta uma arma de dois gumes entremamente poderosa. Todo cuidado é pouco. (rsrs)
Abçs,
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