26 outubro 2013

A Velha Senhora “Opinião Pública”




Quão insuportável é a vida sem os palpites, sem as críticas, sem as afirmações ou avaliações que cotidianamente emitimos sobre tudo e sobre todos. Parece, que a todo instante, somos imperceptivelmente ceifados para alimentar as catracas de uma mega-máquina, denominada opinião pública”.

Iludo-me, ao pensar que as soluções e idéias que elaboro são genuinamente minhas. Se os conceitos, palavras e experiências que formam a minha atual biblioteca mental têm suas raízes fincadas lá atrás, lá no tempo de meus antepassados, então como dizer que a opinião que estou a emitir é minha, somente minha? Refletindo bem, no meu desenvolvimento, eu apenas metamorfoseio o que em essência já existe ou sempre existiu.

O sábio roqueiro, Raul Seixas, tinha razão ao se classificar como uma “Metamorfose Ambulante”tema de uma de suas antológicas canções: “Eu vou lhe desdizer / Aquilo tudo que eu lhe disse antes / Eu prefiro ser / Essa metamorfose ambulante / Do que ter aquela velha opinião / Formada sobre tudo”.

Esta semana, debrucei-me sobre um grosso volume de 860 páginas ― Textos Caribenhos ― uma coletânea de crônicas, contos e ensaios, escritos por Gabriel García Márquez, entre 1948 e 1952. Entre os diversos fragmentos que li, um, despertou-me maior atenção. Achei bem instigante a parte inicial desse texto, por versar, exatamente, sobre essa velha senhora, denominada opinião pública. O autor colombiano de “Cem Anos de Solidão” ― obra memorável que lhe deu o prêmio Nobel de Literatura em 1982 ―, assim, começou o seu ensaio:


“A opinião pública ― de acordo com a opinião geral ― é uma senhora que passa a vida dizendo algo, pensando algo a respeito de algo ― e na maioria dos casos muito acerca de nada e nada acerca de muito ― e cujo divertimento habitual consiste em decifrar os inumeráveis e ociosos quebra-cabeças que a imprensa lhe oferece todos os dias. Quando a opinião pública sai para fazer compras, geralmente não compra nada, mas os jornalistas a seguem para saber seus conceitos a respeito do preço dos víveres, e a seguem os estadistas para saber qual a sua maneira de pensar a respeito da preferência eleitoral das maiorias; e a seguem os estatísticos para conhecer seu ponto de vista acerca do coeficiente de mortalidade; o senhor Gallup a segue com seu permanente interesse profissional, para saber em que grau está funcionando seu aparelho digestivo. Certo dia a opinião pública foi ao consultório de um psiquiatra, teve necessidade de aguardar várias vezes, fez-se tarde e explodiu a guerra mundial. Quando os jornalistas a assediaram, ela respondeu com a maior naturalidade: ‘se a humanidade foi à guerra é por que enlouqueceu’. Apesar da longa espera na sala do psiquiatra, naquela tarde a opinião pública estava de bom humor”.


Não é preciso dizer que a velha senhora denominada opinião pública, é quem, de há muito, vem mostrando o “caminho” que a maioria deve seguir para se sentir “confortada”; essa senhora, de forma avessa, vem substituindo o Senhor do Salmo 23 das Escrituras Sagradas. A deusa “opinião pública” está a dizer aos quatro cantos da terra: “Eu sou a tua senhora e nada te faltará”.


Por Levi B. Santos               
Guarabira, 26 de outubro de 2013

Site da Imagem: blogdoparrini.blogspot.com

2 comentários:

Felipe disse...

Concordo a velha opinião publica sempre tem seus fãs e adeptos mesmo sendo um velha esclerosada rsrs

Levi B. Santos disse...



É isso aí, caro Felipe Lopes

Essa velha senhora esclerosada porta uma arma de dois gumes entremamente poderosa. Todo cuidado é pouco. (rsrs)

Abçs,